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Honestidade a prestações

Caiu toda a cúpula do Ministério dos Transportes, demitida pela presidente Dilma Rousseff após denúncias de

Por Carlos Brickmann
06/07/2011 | 00:00
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Caiu toda a cúpula do Ministério dos Transportes, demitida pela presidente Dilma Rousseff após denúncias de corrupção apresentadas pela revista Veja. Toda a cúpula? Não: como nas histórias de Asterix, o Gaulês, uma fortaleza resiste à moralização. O chefe dos demitidos, o ministro Alfredo Nascimento, continua no cargo. Nascimento é do PR, mas sua desculpa é petista: "Eu não sabia".

O ministro está há mais de oito anos no cargo. De duas, uma: ou Nascimento sabia e é cúmplice (além de mentiroso, por negar que soubesse) ou não sabia e não tem a menor condição de comandar um Ministério. Tem chefe que é cego, como não disse Jô Soares. Desconfie de todo aquele que lucra com as próprias deficiências, como não disse Millôr (ou não terá sido Stanislaw Ponte Preta?)

A política federal reúne gente de todo tipo, já que é um retrato do país: tem ladrões, tem ignorantes, tem inteligentes, tem sábios, tem incultos, tem até honestos. Só não tem bobos, porque bobo não chega lá. Ou seja, o ministro Alfredo Nascimento sabia, sim; e a presidente Dilma sabe perfeitamente que ele sabia. Aliás, todo mundo sabe que ele sabia. O governador do Ceará, Cid Gomes, aliado do Governo Federal, acusou-o no último dia 7 de maio de ser "inepto, incompetente e desonesto". Foi processado, contestado, interpelado? Não.

Dilma não o demitiu porque aí ele volta ao Senado e seu suplente, João Pedro, perde a boa boca. João Pedro é amigo pessoal, de pescaria, de Lula. Por isso Dilma tenta salvá-lo. Mas não tem saída: terá que demiti-lo. Só vai doer mais.

Sorte. E algo mais.

Itamar Franco foi um homem de sorte. O obscuro prefeito de Juiz de Fora saiu candidato ao Senado, pelo então MDB, porque nenhum figurão do partido quis enfrentar a derrota certa. O MDB ganhou de lavada, Itamar chegou ao Senado. Fez um bom trabalho na CPI da Corrupção, acabou sendo vice de Collor, com a missão de dar à chapa um lustro de honestidade. Collor se elegeu, foi impedido e Itamar chegou à Presidência. Teve três ministros da Fazenda em pouco mais de seis meses e deu a Fernando Henrique o respaldo para criar o Plano Real, que acabou com a inflação. Sorte? Sarney teve a mesma sorte e não aconteceu nada.

Itamar era ranzinza, foi mau embaixador, vivia reclamando de tudo. Por que, então, tantos elogios, na hora de sua morte? Por justiça: os ministros de Itamar tinham reputação ilibada, e ilibada a mantiveram. Um deles, amigo de muitos anos, foi acusado de algo; Itamar afastou-o até que se provasse sua inocência, e então o trouxe de volta. Não era rico ao entrar na política, não era rico depois de ser presidente. Itamar tinha duas características, além da sorte, que o tornaram um político raro: pensava no Brasil e era honesto. Cadê seus sucessores?

Lembrança

O senador Pedro Simon, do PMDB gaúcho, também um político de boa reputação, lembrou um fato importante: "Itamar conseguiu maioria no Congresso para aprovar o Plano Real sem dar um só cargo no Governo".

Pau puro

O Pão de Açúcar e o Carrefour não perdem por esperar: de 14 a 16 de julho, a UGT, União Geral dos Trabalhadores, faz seu segundo congresso, no Anhembi, em São Paulo. Dos mil sindicatos que a formam, reunindo sete milhões de assalariados, o maior é o dos Comerciários - justo o que será mais prejudicado se as empresas que hoje concorrem no comércio se unirem, com as consequentes demissões. Haverá centrais de 28 países, incluindo Estados Unidos, todos da América do Sul, Itália, Espanha; e, como nunca dantes na história desse país, como diria um líder sindical dos velhos tempos, haverá representantes de nações mais distantes, como Paquistão, Marrocos, Quênia e Curaçao.

Falou e disse

O vazamento de informações sigilosas do Governo americano acaba de chegar a Estados brasileiros: segundo o portal Wikileaks, o atual secretário da Segurança de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto, teria dito a funcionários do Consulado americano na cidade que os presídios paulistas "parecem campos de concentração" (o secretário, ouvido pelo jornal Agora, nega ter feito essas declarações). Na época em que o Wikileaks coloca as palavras atribuídas a ele, início de 2008, Pinto era secretário da Administração Penitenciária.

Ele conhece: em 2006, quando já comandava os presídios paulistas, houve uma rebelião em Araraquara. Os 1.400 presos ficaram por um mês numa área de 600 metros quadrados, sem telhado, com o portão lacrado por ordem do secretário Ferreira Pinto. Comida e água eram postas por cima do muro. Presos liberados tinham de ser içados para fora. Segundo a Defensoria Geral do Estado, presos doentes ficavam sem tratamento. O Ministério Público exigiu que o caso fosse logo resolvido. Até a Corte Interamericana dos Direitos Humanos, da OEA, precisou intervir no caso, pedindo que os presos fossem tratados como gente.

Herança tucana

De acordo com as declarações atribuídas pelo Wikileaks ao secretário Ferreira Pinto, ele afirma ter herdado “um sistema prisional quebrado e desorganizado”. O governo anterior foi de Geraldo Alckmin, atual chefe de Ferreira Pinto.




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