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Os culpados de sempre

O homem não voou no avião, quer dizer, voou, mas achou que alguém tinha pago, quer dizer, não é bem assim

Carlos Brickmann
20/11/2011 | 00:00
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O homem não voou no avião, quer dizer, voou, mas achou que alguém tinha pago, quer dizer, não é bem assim, ou seja, com a idade a memória falha.

O homem nem conhecia quem alugou o avião, mas viajou com ele, concedeu recursos públicos para as ONGs dele, jantou na casa dele - quer dizer, conhecia, mas não se lembrava. Você, caro leitor, nunca esqueceu de nada? A gente esquece até de pessoas a quem concedeu alguns milhões de reais, não é? E, não sejamos injustos, a memória não é absoluta. Com a idade a memória falha.

O homem disse que só sai abatido a bala, quer dizer, isso se a presidente não quiser tirá-lo. Mas acredita que ela com certeza não quer tirá-lo, porque ele a conhece há muito tempo e sabe o que ela fez em verões passados. Mas isso não é desafio, não é ameaça, aliás nem se lembra de tudo, e afinal de contas ele a ama.

O homem garante que não fez nada (e, em certos aspectos, tem toda razão), mas que os jornais pegam no seu pé porque querem vender. Acha que multidões que sabem quem é ele e seguem sua carreira como se fosse astro de TV fazem fila nas bancas para saber das novidades que aconteceram, ou não, ele não lembra.

O escritor irlandês Jonathan Swift, lembrado pelo leitor Aderbal Bacchi Bergo, dizia há uns 300 anos (e a gente se lembra): "A ambição muitas vezes põe os homens cumprindo as mais baixas tarefas; por isso eles sobem rastejando".

Certamente não é o caso de nosso baloiçante ministro. Se a presidente Dilma e a imprensa não lhe fizessem tantas perguntas, ele não precisaria mentir tanto.

VAZANDO A VERDADE

O vazamento de petróleo no mar, na costa do Rio, é estranhíssimo. Diz a Chevron, multinacional que opera o poço, que 18 navios trabalham no combate ao vazamento; a Polícia Federal investigou e achou só um. Aí explicaram que os outros 17 também trabalham, mas no vai-e-vem, seja lá isso o que for. Qual o nome dos navios? Qual a bandeira sob a qual operam? Ninguém conta. O volume do vazamento também é estranho: a Chevron fala de 200 a 300 barris por dia (o barril tem pouco menos de 160 litros). Imagens de satélite da NASA mostram que a mancha de óleo é mais compatível com quase 4 mil barris por dia. Algo como dez vezes, ou mais, o vazamento confessado pela multinacional. Só falta a Chevron pedir ao ministro Lupi que a ajude a explicar o caso.

POR FALAR EM VERDADE

Há dois anos o oficial de Justiça está à procura do senador Fernando Collor para notificá-lo da ação movida por sua ex-mulher Rosane, que cobra R$ 280 mil de pensões atrasadas. Collor aparece em fotos no Senado, está sempre ao lado do senador Renan Calheiros, faz parte da bancada de apoio à presidente Dilma Rousseff, tudo isso em Brasília. E tentam notificá-lo em Maceió. Difícil, né?

BOA NOTÍCIA

O Tribunal de Justiça determinou o fim de um dos mais curiosos hábitos caros dos nobres parlamentares estaduais paulistas: o auxílio-paletó, R$ 40 mil anuais, em duas parcelas, para que Suas Excelências possam vestir-se condignamente. Todas as demais categorias profissionais obrigadas a vestir terno e gravata o fazem com seu próprio dinheiro, não com o nosso. E quantos ternos, camisas, gravatas e sapatos serão necessários para três dias de trabalho por semana?

MÁ NOTÍCIA

Os servidores da Câmara dos Deputados tiveram, há um ano e meio, aumento de até 40%; agora, devem ter outro, de até 39%, embutido no Plano de Carreira, conforme revelou o portal Congresso em Foco. No total, o salário dobra. E agora vem a notícia pior: a Câmara, com 513 deputados, tem 15.068 funcionários. São 30 servidores (fora os terceirizados) para atender a cada nobre deputado.

PERGUNTA MALDOSA

A ocupação da Rocinha foi um sucesso. Quando será a ocupação de Brasília?

REFORMAS NO MARANHÃO

Uma doutora, escritora premiada, pesquisadora internacionalmente reconhecida, esteve duas vezes em São Luís, no Maranhão: uma em abril do ano passado, outra agora. Nas duas vezes, tentou visitar o Convento das Mercês, da Fundação José Sarney. Não pôde: nas duas ocasiões, estava fechada para reforma. Reforma sem placa, sem data de início e previsão de final, sem andaimes, sem areia, sem reboco, sem cimento. Desta vez, ela deu um jeito de entrar no prédio. Não há reforma nenhuma, claro. E o prédio parece ótimo. Mas agora, cara doutora, fique tranquila que a coisa vai: por iniciativa da governadora Sarney, a Fundação Sarney passa a ser custeada pelo Governo estadual. Verbas não vão faltar. E a verba será boa, já que reforma, como disse a própria visitante, não precisa.

FAZER, NÃO. MAS ELES SABEM

Sabe a cidade mais rica do país, aquela onde a Copa do Mundo começa? Pois é: no Embu, região metropolitana de São Paulo, há uns problemas de energia que a AES-Eletropaulo não consegue resolver. No feriado, faltou luz das 19h45 até às 4h30 do dia seguinte. Uns dias depois, o recorde foi batido: das 19h45 ao meio-dia. A AES-Eletropaulo, ao receber a reclamação, disse que já tinha identificado a falta de luz. Mas resolver o problema, ao que parece, é outra coisa.




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