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Cachoeiras e cascatas

Vamos fazer as contas? Então vá lá: de acordo com o Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras)

Por Carlos Brickmann
10/06/2012 | 00:00
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Vamos fazer as contas? Então vá lá: de acordo com o Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras), do Ministério da Fazenda, o empresário zoológico Carlinhos Cachoeira lucrou R$ 3 milhões em 2011. Dá para viver bem, muito bem; mas não dá para montar uma teia de distribuição de recursos ilegais estendida por boa parte do País. É como achar que aquele carequinha do Mensalão brincava de política com seus próprios recursos. Para isso, o dinheiro é curto.

A pergunta surge naturalmente: se Carlinhos Cachoeira não é o fornecedor único dos recursos, nem o principal (e talvez nem o seja, limitando-se a operar e a ficar com uma parte), quem paga a corrupa? A outra pergunta é óbvia: quem tem interesse em montar uma caríssima rede de corrupção, que envolve altos funcionários de vários Estados? Só pode ser gente interessada em obter favores que lhes garantam lucros muito maiores do que as propinas que distribuíram.

A foto de cidadãos inebriados pelo sucesso dançando com guardanapos na cabeça, de esposas felizes exibindo caríssimos sapatos de sola vermelha, não sai da cabeça deste colunista. Um dos integrantes da Turma do Guardanapo era governador; outro, empreiteiro. Sua empreiteira recebeu, só em 2012, só da União, R$ 238,8 milhões (em maio, com o escândalo já devidamente divulgado, o governo federal pagou-lhe R$ 55,2 milhões). Só? Não: o mais generoso dos bancos estatais, o BNDES, de juros mais bonzinhos, deu-lhe também R$ 139 milhões.

Cachoeira não gera água. Só exibe, lindamente, as águas que vêm de cima.

INVERNO QUENTE

Se o caro leitor encontrar homens de terno e gravata apertados às paredes, de costas, estará na CPI do Cachoeira. Não que todos se abracem com o punhal buscando espaço entre as costelas dos colegas: há também abraços sem punhal, conhecidos como "abraço de urso" e "abraço de tamanduá". Mas, enfim, o PMDB combinou com o PT que quebraria os sigilos do governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, para descobrir como é que se vende uma casa recebendo mais de uma vez por ela e sempre sem saber de quem. Em troca, seria poupado Sérgio Cabral (PMDB), governador do Rio de Janeiro e sócio-atleta da Turma do Guardanapo, e Agnelo Queiroz (PT), governador de Brasília.

Nos bastidores, o PMDB combinou com o PSDB que, em troca da proteção tucana a Cabral, protegeria Perillo e pegaria Agnelo (com apoio de PP e PR, aliados do PT). Amanhã o PT decide o que fazer. Perillo fala na terça, Agnelo na quarta. Sobrará gente descontente. Em CPIs, são eles que contam boas histórias.

ESQUEÇA AS ESPERANÇAS

O caro leitor pensa que, se a CPI do Cachoeira der certo, o País estará avançando no caminho da moralização? Esqueça. Uma pesquisa do GPP, no Rio, citada pelo ex-blog de Cesar Maia (www.cesarmaia.com.br), mostra que 51% dos entrevistados não tomaram conhecimento das fotos de Sérgio Cabral em Paris (da Turma do Guardanapo). Menos da metade tomou conhecimento das fotos. E 15% as acharam normais.

Gilmar Mendes x Lula: 54% não tomaram conhecimento da conversa do ex-presidente Lula com o ministro Gilmar Mendes para adiar o julgamento do Mensalão no Supremo Tribunal Federal. E 9% a acharam normal.

OS RÉUS DO MENSALÃO

O julgamento do Mensalão pode ter impacto nas urnas, desde que tudo ocorra nas vésperas da eleição. Na hora do julgamento, a opinião pública fica chocada e isso pode influenciar o voto. Mas, se o julgamento ocorrer algumas semanas antes, o caso perde força eleitoral. As escandalosas fotos de Sérgio Cabral liderando a Turma do Guardanapo já tiveram seu tempo. Não é possível que mais da metade da população não tenha tomado conhecimento de algo divulgado por todos os meios de comunicação: é mais provável que já o tenham esquecido.

GUERRA AOS PROFESSORES

Abra os jornais, ligue a TV, vá à Internet, ouça o rádio: a notícia mais difícil de encontrar é uma das mais importantes que correm no país. As universidades federais estão em greve, com adesão superior a 70%. É problema de salários, mas também é problema de desleixo. Em Guarulhos, o então ministro Fernando Haddad inaugurou unidades sem salas: tudo algum dia vai ser construído. As fotos de estudantes universitários entre ruínas e entulho são terríveis.

No Grande ABC, berço político do PT de Haddad e de Lula, as instalações são tão ruins que a taxa de evasão de estudantes atingiu 42%. No Vale do Jequitinhonha, a universidade federal criada há cinco anos só tem 20% das instalações construídas. Falar bem de professores todo mundo fala, lançar ministros da Educação a cargos públicos é moda, mas gastar com ensino, que é bom, e pagar direito a quem ensina nossos filhos, parece que é tabu.

Na rede universitária federal há professores com salário inicial de R$ 1.500. É menos do que o salário pago pela prefeitura de São Paulo para um professor de Educação Infantil, também em início de carreira. E que já não é um salarião.




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