No dia 8 de julho de 1983, três décadas atrás, visão
retratava início de greve que resultou na intervenção
Ruas tomadas, o Paço de São Bernardo palco de manifestações e confrontos com policiais. O cenário ilustrou as ruas do Grande ABC nas últimas semanas, com a população indo às ruas reivindicando melhoria na Saúde, Educação, Transporte e combate à corrupção. Mas, no dia 8 de julho de 1983, exatas três décadas atrás, a visão retratava o início de greve que resultou na terceira intervenção no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema em quatro anos.
A intervenção de 1983 destituiu toda diretoria que sucedeu Luiz Inácio Lula da Silva. Presidente da categoria por dois mandatos, Lula era estrela do 4º Congresso dos Metalúrgicos, que estava marcado para ocorrer em dois fins de semana de julho de 1983. Na volta da primeira etapa do evento, em Piracicaba, a categoria passou por Paulínia, cidade próxima a Campinas, que estava em ebulição pela greve dos petroleiros.
Trabalhadores da Refinaria de Planalto cruzaram os braços para protestar contra a recessão economia que ruía o governo Figueiredo e demissões em massa de funcionários. Lula convenceu o então presidente do sindicato, Jair Meneguelli, a ecoar os protestos de Paulínia no Grande ABC, realizando a Greve da Solidariedade, em frente ao Paço de São Bernardo.
“Foi uma greve de solidariedade e com forte conotação política”, relembra o historiador Ademir Médici. Em 1983, o Brasil começava a reabertura eleitoral. Um ano antes, houve eleições para prefeito, deputados e governador. O sindicato havia conseguido, além de diversos vereadores, emplacar o primeiro prefeito do Partido dos Trabalhadores: Gilson Menezes, em Diadema. Mas o regime militar ainda permanecia.
Os piquetes em São Bernardo estavam marcados. Dia 7 e 8, mais de 65 mil trabalhadores se concentraram em frente à Prefeitura. Meneguelli e seu vice, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, além de Lula, discursavam a favor dos companheiros de Paulínia, cuja entidade sindical havia sofrido intervenção, com a saída de Jacó Bittar.
No dia 8 de julho, às 21h30, o governo militar anunciou a cassação da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema. Ministro do Trabalho na época, Murilo Macedo nomeou Oswaldo de Aguiar Batista como novo presidente da categoria. Horas antes, alertados pelos então deputados e sindicalistas Djalma Bom e Expedito Soares, militantes conseguiram retirar alguns pertences, como documentação e a máquina que imprimia os boletins semanais.
“No outro mês alugamos um sobrado em frente à sede do sindicato. Criamos um sindicato paralelo, reconhecido pela categoria”, recorda Josimar Bezerra, conhecido como Banana, militante e historiador sindical. O lugar ficou conhecido como Fundo de Greve e tinha uma faixa simbólica, direta à diretoria interventora e ao regime militar: ‘Ó nóis aqui traveis’. “A frase era num português bem popular para mostrar que a batalha continuava”, relembra Vicentinho.
O interventor Oswaldo de Aguiar Batista pouco representou a categoria. Era o Fundo de Greve que negociava com patrões e norteava as ações políticas. Toda a cassação durou um ano. Mas episódios durante o período de intervenção mostravam que o governo militar não aceitava o fato de sua diretoria interventora não negociar com os grupos patronais.
Um deles, conta Banana, foi o enquadramento de Meneguelli e Vicentinho na Lei de Segurança Nacional. “Certo dia fizemos assembleia em frente ao sindicato. Era noite e o Jair e o Vicentinho se exaltaram um pouco. No calor da discussão, chamaram o governo Figueiredo de canalha. A Folha de S.Paulo publicou a declaração e ambos foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional.” Meneguelli em pouco tempo foi absolvido. Vicentinho teve a punição mantida. A pena só foi revertida no Supremo Tribunal Federal.
Em 1984, líderes sindicais decidiram desafiar o governo militar, que estava balançado pelos movimentos das Diretas Já. Na eleição, optaram por colocar quatro integrantes cassados em intervenções anteriores: Meneguelli, Vicentinho, Lula e José Cândido Pereira. “Se houvesse impedimento, teríamos mais companheiros para indicar. Foi um teste”, discorre José Ferreira, que na diretoria de 1981 era efetivo no Conselho da Federação. O regime aceitou os nomes, mesmo dos cassados. Um ano depois, a ditadura ruía, dando início à eleição direta para presidente.
“Toda essa história da intervenção de 1983 mostra que o sindicato não era apenas um prédio e sim todo movimento que estava presente”, analisa Vicentinho.
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