É inacreditável como os chineses estão fascinados com a Olimpíada. Fiquei sabendo à boca pequena - até porque certos assuntos aqui somente são comentados aos cochichos -, que há muito tempo os veículos de massa estão fazendo a cabeça do povo.

Para o governo é importante o sucesso do evento. Eles gastaram muito dinheiro - extra-oficialmente falou-se em US$ 8 bilhões -, para mostrar potência e grandeza. Querem transmitir tudo de bom para o público interno e externo.

Nas entrelinhas a leitura é que o governo é bom, o sistema é bom, a grandeza do país é uma realidade e ninguém vai segurar a China a partir de alguns anos mais.

Ontem, acenderam as luzes do Ninho de Pássaro e do Cubo D'Água. Imagino que mais de 100 mil pessoas foram para a região para conhecer a novidade. As máquinas fotográficas não paravam de espocar flashes e a alegria era visível.

Apenas uma coisa deixa os organizadores preocupados: um possível atentado terrorista. Contaram-me que há mais de 500 mil policiais em Pequim. Do exército, do serviço secreto, policiais civis e militares. É um contingente nunca visto.

Todas as precauções foram tomadas. Atentados foram forjados para treinamentos dos grupos de combate e resgate. Se não acontecer nada de excepcional, os chineses acreditam que marcarão um gol de placa.

FRASES

"Não foi o resultado que queríamos, mas está de bom tamanho."
Marta, estrela do futebol feminino, falando do empate na estréia.

"Aqui, você pede uma coisa o cara fala com o chefe que fala com o chefe dele. Vai acabar a Olimpíada e nada resolveram."
Dunga, reclamando da burocracia chinesa.

"Vamos fazer de tudo para levar a Olimpíada para o Brasil em 2016."
Lula ao chegar a Pequim. O presidente não sabe de nada, mas não perde o otimismo.

"Vou lutar pelo ouro e não me contentarei com a prata."
Robert Scheidt, que mudou de categoria no iatismo (Laser para Star), mas não perdeu a confiança.

POUCAS E BOAS

Pipocas
Os 20 mil jornalistas credenciados pelo COI já estão em Pequim. Todos reclamam da poluição, do calor e da forma de tratamento intransigente dos chineses. Aqui, eles nunca ouviram falar do jeitinho brasileiro. Seguem a cartilha e as determinações. Num evento dessa grandeza é preciso maleabilidade.

Os sem-credencial
A Prefeitura de Pequim criou um centro de imprensa paralelo ao oficial. É para atender os mais de 30 mil jornalistas que não obtiveram credenciamento oficial. Montaram bela estrutura e oferecem facilidades para o trabalho. Apenas não podem conceder a coisa mais cobiçada nos Jogos: ingressos.

Miséria nenhuma
O popular yuan tem um outro nome: RMB ou reminbi, também conhecido como dinheiro do povo. Um uuan vale US$ 7 e pouco mais de R$ 3. O turista não passa necessidade. Nem na comida! Até porque todos os restaurantes e lanchonetes internacionais estão instalados aqui.

Tocha para o povo
A tocha chegou à Pequim ontem. Foi carregada a cada 30 m por políticos, artistas, ex-atletas e personalidades em geral. Ela foi vista pelas ruas da capital por nada mais, nada menos do que 12 milhões de pessoas. Veio gente das cidades vizinhas e o governo providenciou milhares de ônibus para transportar todo mundo.

TOQUE FINAL

Numa primeira análise é possível dizer que os norte-americanos vão ganhar no quadro de medalhas. Mas não se pode apostar neles com os olhos fechados. Os chineses, que sempre tiveram ótimos atletas e equipes, podem surpreender.

Nas modalidades individuais não há com clareza uma visão das possibilidades dos anfitriões. Mas os próprios norte-americanos, sempre cheios de soberba, desviam o assunto quando perguntados se manterão a hegemonia na disputa olímpica.

Há um aspecto importante e que deverá ajudar os chineses: o incentivo desse povo que é extremamente nacionalista.