Setecidades Titulo Transporte público
Morador do Pós-Balsa
em S.Bernardo sofre
para chegar ao Centro

Passageiros têm de pegar três conduções para chegar à região central de São Bernardo

Por Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
26/05/2013 | 07:14
Compartilhar notícia
Tiago Silva/DGABC


Moradores da região do Pós-Balsa, em São Bernardo, precisam de paciência para se deslocar usando o transporte público. Para chegar ao Centro, são necessárias três conduções. O número de viagens aumenta ainda mais se o destino for outro município.

Na quarta-feira, a equipe do Diário demorou quase duas horas e meia para ir do bairro Tatetos até o Rudge Ramos. A saga começa com o embarque em coletivo circular gratuito que percorre a área do Pós-Balsa. Parte do caminho é feita em estrada de terra, o que torna a viagem ainda mais desconfortável.

O ônibus é antigo e apresenta péssimo estado de conservação. Dentro, os bancos estavam sujos de terra e havia lixo espalhado pelo chão. Apesar de a concessionária SBCTrans afirmar que a frota tem idade inferior a quatro anos, o repórter embarcou em veículo Marcopolo Torino GV, que parou de ser comercializado no início dos anos 2000.

Cerca de 20 minutos depois, o coletivo chegou ao ponto final, onde os passageiros tiveram de esperar mais cinco minutos até a partida da embarcação em direção ao Riacho Grande. Na balsa, a maioria dos passageiros fica em pé, sem coletes salva-vidas. Depois do desembarque, mais espera. Às 17h47, sete coletivos estavam estacionados no ponto final. O ônibus da linha 29, em direção ao Rudge Ramos, saiu após 20 minutos da chegada da balsa.

A linha percorre o Jardim Tupã, próximo ao Riacho Grande, e, então, chega à Via Anchieta até acessar o bairro Ferrazópolis. Desse ponto em diante, o trajeto é feito pelas avenidas Brigadeiro Faria Lima e Senador Vergueiro. Do ponto inicial à Avenida Doutor Rudge Ramos, a viagem tem 27 quilômetros. Não há linha que ligue os dois bairros pela rodovia, sem passagem pela região central.

A longa distância faz com que os moradores percam muitas horas no deslocamento. Moradora do Riacho Grande, a estudante Lígia Santos, 28 anos, faz estágio no Núcleo Santa Cruz, localizado depois da Balsa João Basso, e estuda em São Caetano. Além das três conduções para chegar a o Centro de São Bernardo, ela precisa pegar ônibus intermunicipal para a cidade vizinha e, lá, embarcar em outro veículo até o bairro Santa Paula. “Para ir do trabalho à faculdade, demoro três horas e quarenta minutos. Já cheguei a perder muitas provas em razão dos atrasos”, lamenta.

Por dia, ela perde, em média, seis horas no transporte público, o equivalente a 30 horas por semana. “Aproveito para estudar enquanto estou no ônibus, assim, esse período não é tão desperdiçado”, diz a estudante.

A comerciante Helena Ramos, 45, reclama da qualidade dos ônibus oferecidos. “Toda hora eles quebram, e o tempo de espera aumenta ainda mais. Sem contar que sempre há superlotação”, protesta.

O diretor de Operações da concessionária SBCTrans, Nelson Ribeiro, afirma que as condições do viário na região do Pós-Balsa prejudicam o atendimento. “As estradas, na maioria das vezes, são quase intransitáveis, cheias de buracos, lama e poeira”, explica. Segundo Ribeiro, essa situação faz com que os veículos utilizados precisem passar por reformas em períodos de quatro a cinco meses.

Ribeiro informa que os coletivos que operam no Pós-Balsa possuem “reforços extras nas estruturas construtivas para suportar as severas exigências do local”.

A ETC (Empresa de Transporte Coletivo), que gerencia o transporte municipal, afirmou que irá verificar o estado de conservação da frota usada nos bairros localizados depois da balsa. O órgão gestor garante que todos os ônibus da cidade passam diariamente por lavagem. “Ainda assim, é possível que o aspecto visual induza a uma percepção de problemas de conservação quando, na verdade, seria de limpeza, sendo que essa é prejudicada ao longo do dia, dadas as condições físico-locais da região”, diz a empresa, em nota.

Prefeitura quer investir em transporte hidroviário

Para facilitar a chegada de moradores do Pós-Balsa a outras regiões da cidade, a Prefeitura de São Bernardo estuda criar modelo de transporte hidroviário. A ideia da administração municipal é fazer com que o sistema se integre à rede de ônibus.

No ano passado, o secretário de Transportes e Vias Públicas, Oscar Silveira Campos, afirmou que o Executivo busca assinar contrato com o Banco Mundial no valor de R$ 600 milhões para investimentos em diversos modais, como o teleférico nas regiões montanhosas, os catamarãs, que circulariam pela Represa Billings. Outra proposta, que ainda não evoluiu, é a construção de ponte para eliminar a Balsa João Basso.

O catamarã é um modelo de embarcação com duas canoas, o que proporciona mais estabilidade do que um

barco comum. O sistema já é usado em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A concessionária responsável pela operação diz que os veículos trafegam a 45 km/h e que a viagem até o município vizinho de Guaíba é feita em cerca de 20 minutos.

Terminal começa a ser reconstruído

A concessionária SBCTrans iniciou neste mês a reconstrução do terminal do Riacho Grande, que foi desativado em abril de 2011 após acidente envolvendo caminhão. Desde o fim da operação, a área, localizada ao lado do 4º DP e de uma UBS (Unidade Básica de Saúde), foi transformada em estacionamento. Desde então, a Prefeitura fez diversas promessas de reabertura do local, mas nenhuma foi cumprida.

Sem a estação, foi improvisado ponto de parada na Rua Rio Acima. O abrigo não dá conta do grande número de passageiros.

Segundo o diretor de Operações da empresa, Nelson Ribeiro, a estação deverá ficar pronta até agosto. Com a reabertura, diz Ribeiro, será feito remodelamento das oito linhas que passam pelo Riacho Grande, sendo seis municipais e duas intermunicipais. “Isso irá evitar que um grande número de veículos tenha de se deslocar para o Centro, área extremamente congestionada.” A estimativa da Prefeitura é de que cerca de 3.000 pessoas passem diariamente pelo terminal.

O número, diz a administração, já inclui reformulações operacionais das linhas da região do Alto da Serra, Capelinha, Estoril e Parque Rio Grande. Com a estação, usuários desses itinerários poderão fazer baldeação para ônibus com destino ao Centro e ao Rudge Ramos. A quantidade de pessoas pode aumentar de acordo com o aproveitamento do equipamento.

Apesar de a concessionária ter dito que a reconstrução será feita até agosto, a administração municipal evita falar em prazo, e diz que a reativação está condicionada à transferência da UBS existente no local para endereço definitivo. “A Prefeitura, que é a gestora do sistema, está adequando o projeto de acessibilidade ao projeto executivo”, diz o Executivo, em nota.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;