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Sábado é dia de feira

Sempre gostei de feiras. Pastel, caldo de cana, brinquedos... em meio a toda essa festa, no entanto, havia alguém que parecia transformar o ambiente

Carlos Ferrari
13/04/2011 | 00:00
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Sempre gostei de feiras. Pastel, caldo de cana, brinquedos baratos e a oportunidade de ajudar minha mãe a empurrar e encher o carrinho com delícias que logo se tornariam bolos e sucos. Em meio a toda essa festa, no entanto, havia alguém que parecia transformar todo o ambiente.

Uma moedinha pro ceguinho, uma esmola, pelo amor de Deus, para quem não tem o dom da luz do dia! O homem de voz doída e verdadeira, com uma tristeza disciplinadamente presente, fazia ecoar alto o som da piedade alheia, à medida que cada contribuição batia no fundo duro de seu pote de pedir. Ele estava ali, todos os sábados, e ficava, acho, que entre a barraca de correias para chinelos e a do tio que arrumava panelas.

Aquela cena me parecia sempre algo muito assustador, mesmo ouvindo de familiares e professores que bastava estudar para vencer na vida. Por outro lado, o dono da voz triste que pedia como o maior dos necessitados da Terra, era bem mais convincente; ele não dizia que seu problema foi a falta de escola, mas sim o fato de não enxergar. Crianças não fazem análises conjunturais e o que ficava para mim, quando passava pelo barulho do pote, era a correlação cego/esmola.

Confesso que hoje ainda, quando me deparo com situações como essa, fico balançado e se torna claro para mim o quanto temos a fazer e a avançar, diante de um histórico de ausência do Estado e de preconceitos e estigmas sociais que deixaram à margem milhões de pessoas, apenas por serem diferentes. Por outro lado é muito bom ver e constatar alguns símbolos que construímos e conquistamos em pouco mais de uma década. Dentre eles, eu destaco neste texto a Reatech.

Para quem ainda não sabe, a Reatech é a Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade, que acontece no Centro de Exposições Imigrantes (Rodovia dos Imigrantes, Km 1,5), em São Paulo. É a segunda maior do mundo e reúne profissionais, pessoas com deficiência, familiares, enfim, todos aqueles que de alguma forma se relacionam com o assunto.

Falo em símbolo, pois não discuto aqui a qualidade dos estandes, os produtos vendidos, o layout do espaço. Detenho-me ao fato de termos uma feira onde crianças com suas cadeiras de rodas, bengalas e tantas outras ajudas técnicas, se veem como cidadãos. Encontram ali pessoas na mesma condição que a sua, que venceram diante de desafios profissionais e construíram uma vida pessoal.

De 14 a 17 de abril, entre quinta e domingo desta semana, você pode visitar a feira. Independente de ter qualquer relação com o assunto, acredito que valha a pena ir até lá e conhecer trabalhos de organizações não governamentais, empresas e de instâncias estatais relacionados ao tema. Alguns poderão escrever: "Ora, mas a feira ainda é excludente, pois a maior parte dos equipamentos ainda é caríssima". Outros ainda dirão: "Mas é um absurdo uma feira para pessoas com deficiência, deveria haver uma feira para todos!". Em meio a esses discursos recalcados, não tenho dúvidas em dizer que é muito bacana ter uma feira economicamente forte voltada aos interesses do segmento. A sociedade brasileira passa a reconhecer seus paradigmas e, passo a passo, reconstruímos a ideia do pedinte carente de favores para o contribuinte e cidadão detentor de direitos.




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