Ele já representou as facetas reggae e MPB dos Titãs, banda que deixou em 2002. Já foi parceiro de estrelas como a cantora Marisa Monte, com quem namorou, aliás, e Cássia Eller, com quem teve uma relação profissional e pessoal marcada pela intensidade e a entrega. Nando Reis, agora um dos compositores mais requisitados da MPB, dá um passo adiante para consolidar de vez sua carreira-solo. O motivo é o lançamento do CD Sim e Não (Universal, R$ 34), álbum que chega após o estrondoso sucesso de seu CD gravado ao vivo pela MTV, o mesmo que lhe rendeu o primeiro disco de ouro após a saída de sua antiga banda, com a vendagem de 50 mil cópias.
No novo trabalho, o músico emerge desse turbilhão de popularidade ainda mais confessional, romântico, delicado e, principalmente, seguro. Empunhar a bandeira da diversidade em todos os níveis: musical, poético e sexual. No material distribuído à imprensa, escrito pelo “maldito ”Jorge
Mautner, essa proposta é antecipada. Diz que Nando se renova a partir da reafirmação do que sempre foi: um sujeito avesso às amarras e rótulos. “Este disco é uma suprema alquimia do amor (...) o ato do amor é descrito com intensa troca de essências, num território de paixões sem limites nem fronteiras, em que o autor chega a sugerir um pansexualismo e um hermafroditismo simbólicos ”.
Em termos mais coloquiais, Sim e Não pode ser facilmente decupado como um disco plural. “A opção pelo título era uma defesa da nossa individualidade. Senti uma certa vontade de expressar, de uma forma mais concisa, a idéia de dualidades e contradições. Não são alternativas que se excluem, mas coisas que se complementam”,explica. Nando, que passou por um breve período de crise criativa antes da gravação do álbum, produzido em parceria com Chico Neves. “Esse disco chegou a me preocupar, quando me vi, em outubro (do ano passado), com pouco material”,afirma.
No quesito sonoridade, o músico continua o mesmo baladeiro de sempre e investe na sonoridade folk que o acompanha desde os tempos do segundo álbum, Para Quando Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro,lançado em 2000. Isso pode ser facilmente percebido em canções como Sim, faixa que abre o disco, N e Pra Ela Voltar. O músico também acaricia a filha Zoe, de 6 anos, com a bela Espatódea, que remete às composições folk de John Lennon presentes no White Album,dos Beatles, como Dear Prudence, e às harmonias do grupo Crosby, Stills, Nash e Young. Merece destaque o ato de que o violão, instrumento primordial no processo autoral do artista, se mantém como norte em todos os arranjos.
Enciumada com a homenagem que o compositor prestou a seu irmão, Sebastião, em O Mundo É Bão Sebastião, música de Nando gravada pelos Titãs em 2001, a menina não sossegou enquanto não ganhou uma música. “Ela me cobrou com o dedo em riste: ‘Você não vai fazer uma música O Mundo é Bão, Zoezinha?’ Fiz a canção, que surgiu naturalmente. É minha única filha ruiva e nossa semelhança cromática é um dado muito intenso da nossa paixão”,exalta o músico. “Não sei se o mundo é bão/mas ele ficou melhor/quando você chegou e perguntou:tem lugar pra mim?”, diz um dos trechos da singela canção. Mas Nando não é só delicadeza. Escudado pelo competente grupo Os Infernais, abraça o rock libidinoso, em Monóico (“Quero que sua língua lamba o meu corpo nu/e que meu sexo te dê todo o céu azul ”); o groove envolvente, em Sou Dela ,e o trovadorismo, ao descrever episódios de uma antiga paixão,em Caneco 70.
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