É difícil chegar até lá. Não há mais acesso para pedestres nem carros, apenas mato e bambu. Mas a capela de Nossa Senhora Assunção ainda está no mesmo lugar onde foi erguida, há 94 anos, por Domingos Zampol. Foi a forma que ele encontrou para agradecer por ter sobrevivido depois que a carreta em que estava com o filho descontrolou-se e rolou morro abaixo. A construção sagrada, localizada no topo de um morro na Rodovia Índio Tibiriçá, na altura da Ponte Seca, em Ribeirão Pires, resistiu a incêndio em 1975 e ao abandono.
Em 2005, o prefeito Clóvis Volpi (PV), então em seu primeiro mandato, prometeu ao hoje aposentado jornalista Arlindo Ribeiro, o Ligeirinho, que faria de tudo para salvar a capela, promessa, inclusive, documentada pela coluna Memória.
Sete anos depois e às vésperas do dia da santa, comemorado em 15 de agosto, nada foi feito. A construção serve de abrigo para usuários de drogas, que deixam rastros dentro da capela. As paredes ainda trazem as marcas do incêndio que quase destruiu o lugar. O nicho onde antes havia a imagem da santa está vazio. Apenas a cruz no topo da construção resiste quase intacta: só um pouco de musgo a recobre. O mesmo acontece com os degraus de pedra que dão em lugar nenhum, no meio do mato.
"É uma pena que esteja assim. Ribeirão tem duas capelas relativamente conservadas em topos de morro: a de Santo Antonio e a do Pilar. Deveriam cuidar dessa também, pois ela é cheia de significados importantes para a fé católica e a história da região. Construir capelas em topos de morro era complicado lá pelos idos de 1918, quando essa foi feita, mas deixava os fiéis mais perto do céu e de Deus", explica Ligeirinho.
ESQUECIDOS
A capela de Nossa Senhora Assunção parece caminhar para destino semelhante ao que ocorreu com a Capela de Santa Luzia, que ruiu em 2010 após enchentes e, mesmo com projeto aprovado para sua reconstrução, até hoje continua no chão. Ou, pior ainda, futuro semelhante ao Casarão da Ponte Seca, que ficava ali pertinho da capela de Nossa Senhora Assunção, mas do qual não resta mais nenhuma pedra.
A Prefeitura de Ribeirão Pires informou que tanto a capela quanto o casarão da Ponte Seca estão em terrenos particulares, não permitindo que sejam resguardados. A única saída, conforme a administração, seria o tombamento. Para tanto, afirma que tenta reativar o Conselho de Patrimônio Histórico do município, criado em 1997. Até agora, porém, os planos não saíram do papel. Enquanto isso, a cidade constrói no Centro um prédio que abrigará o museu municipal. E, ao ar livre, a história de Ribeirão Pires se perde em meio ao mato.
Ministério Público apura reforma no Carlos Gomes
O Ministério Público convocou a comissão de vereadores andreenses que entrou com pedido de embargo das obras no cine teatro Carlos Gomes para prestar esclarecimentos sobre a reforma. O objetivo principal da representação dos parlamentares, feita na semana passada, é obter a paralisação das intervenções, realizadas na cidade desde dezembro sem projeto aprovado pelo Comdephaapasa (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André).
A reunião entre vereadores e o promotor Fábio Luiz Rossi será realizada amanhã, às 16h30, no Fórum do município. No mesmo dia, às 18h, no plenarinho da Câmara, o grupo SOS Carlos Gomes irá se reunir para decidir quais serão os próximos passos em relação ao patrimônio. Na sexta-feira, integrantes do movimento caminharam em protesto do Paço Municipal ao cine teatro, onde constataram a demolição da fachada e de parte do teto e remoção da estrela de gesso símbolo do Carlos Gomes.
Na ocasião, ex e atuais conselheiros do Comdephaapasa garantiram que não foi apresentado projeto para execução da reforma, o que a Prefeitura nega.
O cine teatro foi fechado em 2009 por problemas estruturais. Aberto em 1912, foi o quinto cinema a entrar em funcionamento no País. O prédio localizado na Rua Senador Fláquer, no Centro, foi tombado em 1992.
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