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Vai indo que eu não vou

Nas ruas, fervia a campanha das Diretas-Já. O PMDB tinha três possíveis candidatos à Presidência da República, na sucessão do general João Figueiredo.

Carlos Brickmann
25/01/2012 | 00:00
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Nas ruas, fervia a campanha das Diretas-Já. O PMDB tinha três possíveis candidatos à Presidência da República, na sucessão do general João Figueiredo: o governador mineiro Tancredo Neves (que seria o escolhido, venceria as eleições e não tomaria posse, derrotado por uma doença), o presidente nacional do partido, deputado Ulysses Guimarães, e o governador de São Paulo, Franco Montoro. O PMDB iria unido para a eleição? Resposta de Tancredo a este colunista: "Vai, claro que vai. Cada um de nós se apronta para aproveitar a oportunidade. Quem estiver melhor será o candidato, com apoio dos outros".

Foi assim. E é assim que Fernando Henrique, de certa forma herdeiro dos três candidatos da época, apreciaria que acontecesse agora: Serra quer ser candidato, Aécio é candidato, Alckmin dissimula sua vontade mas está cada vez mais difícil fingir que não quer. Quem reunisse melhores condições teria o apoio dos outros.

Teria, mas não tem. O problema do PSDB não é escolher o nome: é fazer com que os demais caciques - e isso é o que não falta no partido - o apoiem. É mais fácil ouvir uma crítica de Lula a Fidel Castro do que esperar que os candidatos preteridos no PSDB façam qualquer gesto efetivo de apoio ao escolhido. Se, após a escolha do candidato, eles se abraçarem, pode apartar que é briga.

Todos têm seus motivos. Serra declarou apoio a Alckmin para prefeito e apoiou Kassab. Aécio prometeu apoio a Serra para presidente e foi viajar. Alckmin apoia para prefeito o candidato do PMDB. E, em política, nunca falta troco.


PRESENTE DE ANIVERSÁRIO
Há 458 anos, um jesuíta espanhol, José de Anchieta; dois jesuítas portugueses, Manoel da Nóbrega e Manoel de Paiva; um judeu português que, para escapar à Inquisição, se fazia passar por católico, João Ramalho; e Bartira, sua mulher índia, sob a proteção do cacique Tibiriçá, convertido pelo padre Anchieta ao catolicismo, fundaram São Paulo. Até o século 19, em São Paulo o português era língua secundária: falava-se a língua geral, derivada do tupinambá.

Como se admite, numa cidade com essa formação, que ainda existam discriminação, preconceito, racismo? Que seus habitantes vivam em paz e aceitem as diferenças, sejam quais forem suas origens, crenças, opções, vestimentas, cor da pele, sotaque. São Paulo é o Brasil. Que seja para todos.

UM GRANDE LIVRO
O 25 de janeiro é também o aniversário de Antônio Carlos Jobim, O Grande. E a comemoração é à altura: em homenagem à memória de Tom, sai o livro Rio Bossa-Nova, roteiro lítero-musical do ótimo Ruy Castro - também autor de outras obras sobre música e músicos que não se deve perder, como Carmen, sobre Carmen Miranda, e Chega de Saudade, sobre bossa nova. Livro de Ruy Castro já vem com garantia de texto muito bom. Vale reservar nas livrarias.

A VIOLÊNCIA...
O caso do Pinheirinho, em São José dos Campos. São Paulo, tinha tudo para virar um banho de sangue: 6.000 moradores numa ocupação ilegal, mais de 1.000 deles dispostos a resistir, quase 2.000 policiais mobilizados para desalojá-los. Não houve o banho de sangue. Mas, de qualquer forma, há uma tragédia: 6.000 pessoas sem ter onde morar. E, para piorar, discute-se o assunto errado: o problema não foi cumprir a ordem judicial de reintegração de posse, que cumpri-la era inevitável, mas a total inércia dos governos diante da crise anunciada.

...QUE VEM DE LONGE
Sabia-se que os moradores teriam de sair, mais cedo ou mais tarde; e ninguém da prefeitura de São José dos Campos, do governo paulista, da Presidência, se mexeu para encontrar uma saída. A ocupação do Pinheirinho vinha desde 2004 - houve tempo, pois, para planejar o dia seguinte (e até evitar o confronto que, se não causou mortes, tumultuou a vida da cidade, gerou vandalismo, desviou policiais da tarefa básica de prevenir o crime). E, por favor, que um partido não fique culpando o outro: PSDB e PT já estavam no poder em 2004. Podiam ter aproveitado esse tempo ao menos para inventar uma desculpa melhor.




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