Setecidades Titulo
Direitos Humanos acompanha laudos
Luciano Cavenagui
Do Diário do Grande ABC
28/06/2006 | 08:08
Compartilhar notícia


A Comissão Nacional dos Direitos Humanos solicitou ontem ao Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) que acompanhe a elaboração dos laudos das mortes das 13 pessoas anteontem de manhã pela polícia em São Bernardo e Diadema. O objetivo é verificar – pela quantidade de tiros e localização das balas nos corpos – se houve excesso da polícia na ação. De acordo com a polícia, todos eram do PCC (Primeiro Comando da Capital) e faziam parte da lista dos 80 procurados pela Secretaria de Segurança Pública na região. Segundo a polícia, os criminosos tinham a intenção de matar agentes penitenciários do CDP (Centro de Detenção Provisória) de São Bernardo.

"Não podemos medir a eficiência da polícia pelo número de mortes, mas, sim, por meio de produção de provas e prisão de criminosos. Assim como o Cremesp fiscalizou a produção dos 492 laudos referentes aos ataques ocorridos em maio (quando a facção fez série de ataques à polícia em todo o Estado), solicitei a mesma medida para o caso no Grande ABC", afirmou o advogado Ariel de Castro Alves, integrante da Comissão Nacional dos Direitos Humanos.

O advogado se reuniu com o delegado seccional de São Bernardo e comandante da operação, Marco Antônio de Paula Santos, e pediu para acompanhar o inquérito.

"O delegado se mostrou inteiramente transparente e me garantiu que tudo o que for produzido pela polícia será passado para nós. Essa é uma atitude inteiramente contrária de quando aconteceram os ataques, em maio, e a polícia não quis divulgar nada. Nesse caso da região, a polícia já passou o nome de todos os mortos", contou Alves.

O IML (Instituto Médico-Legal) de São Bernardo não enviou qualquer laudo sobre os 10 mortos que deram entrada no órgão. "O médico responsável pelo IML já nos comunicou, informalmente, que não houve excesso da polícia. Cada morto teria recebido, em média, poucos tiros, no máximo três", afirmou o delegado Paul Henry Verduraz, responsável pelo inquérito do caso. A reportagem não localizou ontem (dia de jogo do Brasil) a direção do IML de São Bernardo.

"Acompanhei a investigação. Tenho certeza de que não houve excesso. Não havia outra saída ontem (anteontem)", ressaltou o delegado seccional.   No final da tarde de ontem, Santos informou que a Justiça havia decretado o sigilo absoluto sobre a investigação do caso e que nenhuma informação adicional poderia ser mais passada.

O Ministério Público solicitou à Justiça o sigilo sobre as escutas telefônicas. O juiz-corregedor dos presídios Luis Geraldo Sant’Anna Lanfredi determinou sigilo sobre todo o caso, argumentando que a divulgação atrapalharia as investigações.

"Meu sobrinho estava metido em barra pesada, em um monte de assaltos. A mãe dele também está na cadeia. Uma hora ou outra ia acontecer isso com ele", afirmou uma tia de Fernando de Almeida, 27 anos.

As cinco pessoas que foram presas na ação, em depoimentos prestados ontem, negaram que eram do PCC e que planejavam assassinar os agentes penitenciários. "De maneira geral, falaram que estavam no local para fazerem outras coisas, como procurar emprego em empresas próximas, pegar ônibus ou dar carona para amigos. Temos provas que estão mentindo", disse o delegado Verduraz. (Colaborou Bruno Ribeiro)

Entenda o caso

Como foi a ação

Um grupo de aproximadamente 25 pessoas ligadas ao PCC tem a missão de matar entre cinco e 15 agentes penitenciários dos CDPs de São Bernardo, Diadema, Mauá e Santo André.

A ação começaria por São Bernardo e os alvos seriam funcionários que deixariam o turno de trabalho, às 7h. Antes que algum agente fosse morto, houve confronto com os criminosos e 10 deles foram mortos perto do CDP de São Bernardo.

Três deles fugiram para Diadema e também foram morto pela Polícia Civil. Cinco acusados de participarem da ação foram presos, sendo três mulheres.

Presos

Marlon José de Souza Rosa, 36 anos, passagem por roubo, homicídio e tráfico

Renata Melo, 31 anos, passagem por tráfico, porte de droga, receptação e porte de arma

Simone dos Anjos, 29 anos, sem passagem policial

Edgar Nogueira de Campos, 35 anos, passagem por tráfico, receptação e porte de arma

Adriana Cristina Pereira Damasceno, 22 anos, sem passagem policial

Ontem, a polícia divulgou a lista completa dos mortos, com identificação de mais quatro participantes

-Adriano Wilson da Silva, 25 anos, passagem por tráfico e porte de arma, enterrado ontem no cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo

Eduardo de Oliveira Santos, 31 anos, o Dú, fugitivo de Itarapira onde cumpria pena por roubo e porte de arma

Gilberto Inácio Ferreira, 32 anos, o Jubá, passagem por roubo e porte de arma

Wellington de Araújo Carvalho, 23 anos, sem passagem policial, enterrado ontem no cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo

Marcelo Alves dos Santos, 23 anos, sem passagem policial, enterrado ontem no cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo

Francisco de Assis da Silva, 26 anos, passagem por roubo, receptação e porte de arma

Nilton Ferreira da Silva, 38 anos, o Niltinho, passagem por roubo e tráfico

Mário Tavares, 30 anos, o Magoo, passagem por formação de quadrilha, tráfico e porte de arma, enterrado ontem no cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo

Edson Dantas da Silva, 26 anos, o Caixa, passagem por roubo e receptação

Fernando de Almeida, 27 anos, passagem por roubo, tráfico, receptação e porte de arma

Ana Paula de Souza, 26 anos, sem passagem policial

Evilson Rodrigues de Oliveira, 28 anos, passagem por formação de quadrilha e porte de arma, enterrado ontem no cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo

Márcio José dos Santos, 21 anos, o Marcinho, passagem por tráfico e porte de arma, enterrado ontem no cemitério Vale da Paz, em Diadema




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;