Um júri na Geórgia (sudeste dos EUA) condenou a 10 anos de prisão nesta quarta-feira por agressão e abuso um pai que cortou com uma tesoura o clitóris de sua filha menor de idade. Jalid Adem, um etíope de 31 anos, cometeu o ato em 2001, quando a filha tinha apenas dois anos de idade.
Segundo o grupo feminista dos direitos humanos Equality Now, com sede em Washington (capital norte-americana), que conseguiu a proibição por lei deste tipo de abuso na Geórgia, onde a prática não estava proibida antes do incidente, este é o primeiro caso de mutilação genital feminina registrado nos EUA.
Ao deixar a corte, a diretora-executiva desta organização, Taina Bien-Aimé, disse esperar que o episódio provoque a discussão sobre a MGF (Mutilação Genital Feminina) nos Estados Unidos. “Não acreditamos que isso seja um incidente isolado", assinalou.
Adem foi submetido a julgamento durante uma semana no condado de Gwinnett (vizinho de Atlanta), diante de um júri integrado por sete mulheres e cinco homens, e negou, a todo momento, ter mutilado sua filha, afirmando que em seu país natal lhe ensinaram na escola que se trata de uma prática cruel.
A menina, agora com sete anos, testemunhou no tribunal, confirmando que seu pai foi o agressor, mas os advogados da defesa questionaram o fato de que ela pudesse se lembrar de algo que lhe aconteceu aos dois anos.
Já a mãe da garota, Fortunate Adem, disse durante o processo que se deu conta de que sua filha tinha sido mutilada somente em 2003, quando um médico examinou a criança, e depois de conversas com o pai, que sugeriu tê-la cortado.
A defesa alegou que foi a mãe quem mutilou a menina, alegando que era muito improvável que, tendo-a sob sua guarda, tanto tempo tenha se passado sem que ela se desse conta da mutilação. Em seu depoimento, Fortunate também contou que vários médicos examinaram sua filha até se dar conta da mutilação e não encontraram nada de errado com a menina.
De acordo com o Centro de Controle de Enfermidades em Atlanta, mais de 160 mil mulheres são vítimas deste tipo de mutilação nos EUA, ou estão sob ameaça de sê-lo, e mais de 50 mil são menores de 18 anos.
Bien-Aimé revelou que seu grupo recebe, de vez em quando, denúncias sobre este tipo de abuso, mas que sempre foram tratadas de forma anedótica por ser um tema tabu e extremamente privado.
No mundo todo, mais de 100 milhões de mulheres já foram vítimas da prática, típica em 28 países africanos, em uma faixa que se estende pelo centro do continente, indo do Senegal, no oeste, até a Somália, no leste.
A mutilação genital é considerada ilegal em 16 estados americanos e é proibida para menores de 18 anos por lei federal desde 1997.