Números do IBGE devem ser avaliados com cautela
Muito temos lido e ouvido nos últimos dias sobre os dados do Censo 2010, recentemente divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Eu, particularmente, avalio os novos números com certa preocupação. Isso porque temos como uma das principais informações a redução do crescimento populacional por conta de redução de taxa de fecundidade.
A média de pessoas morando na mesma residência passou de 3,8 para 3,3. Isso denota maior controle de natalidade. Ainda segundo o Censo, o analfabetismo caiu, mas temos passivo que representa cerca de 9% da população.
Se compararmos esta realidade com a percepção da prática de Recursos Humanos no que tange atração e desenvolvimento de pessoas, notamos que, cada vez mais, temos dificuldade para atrair mão de obra bem qualificada, de maneira completa. Faltam pessoas que possam agregar tecnicamente e comportamentalmente a organização. Encontramos, certas vezes, trabalhadores que são bem avaliados tecnicamente, mas que não conseguem se comunicar e escrever. Por outras vezes, pessoas que apresentam bom nível de desenvolvimento de competências, mas que tecnicamente têm formação sofrível.
Assim, fica claro que a população economicamente ativa tem problema que se apresenta na prática de formação. A população que está vindo aí pode sofrer do mesmo mal, se as políticas públicas de educação e formação profissional não forem revistas em tempo.
TAREFAS MANUAIS E BRAÇAIS
Outro problema de nossa atual população economicamente ativa pode ser encontrado no comportamento dos jovens que, embora não tenham educação diferenciada, não querem mais exercer atividades manuais ou braçais. Tenho conversado com marceneiros, pintores e empregadas domésticas que falam: "Hoje em dia, esta moçada não quer mais este tipo de serviço não". Há exemplo do que já aconteceu em países desenvolvidos há alguns anos, o apagão de mão de obra chega mais rápido neste tipo de função.
Recentemente, foi publicada em um jornal de grande circulação em São Paulo reportagem sobre a dificuldade de se encontrar babás... há algo mais importante que uma função como esta? Apesar da baixa complexidade técnica, esta é função que demanda alto nível de competências. A babá, muitas vezes, é o espelho de nossos filhos. O que mais me chamou a atenção foi a solução encontrada pelos pais: trazer babás do Paraguai. Eu vivi o Brasil de 1998, 1999 em que faltaram empregos. Hoje, já estamos importando mão de obra, e não é só nos níveis em que já prevíamos, como engenheiros e técnicos, mas também em funções mais básicas e que são estruturais.
O que tenho me perguntado é: o que fazer para que os jovens não tenham a ideia destorcida de trabalhos que são tão importantes quanto os trabalhos que exigem formação extensa? Afinal, não há vergonha e não é problema dizer ‘hoje eu sou pintor' ou ‘trabalho como pedreiro'. Todos têm sua importância e valor.
Retirar a idéia pré-concebida de que algumas carreiras não são boas é preocupação que temos de ter como educadores, pais, mães, professores.
POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA
A nossa população economicamente ativa nunca foi tão grande. Eu não tenho dúvidas de que há muitas oportunidades, mesmo em um mercado em que temos mais pessoas trabalhando, por conta de um envelhecimento com mais qualidade, os profissionais continuam ativos, mesmo em idade mais avançada.
Evidentemente, quanto melhor utilizarmos as informações disponíveis para adequar pessoas que querem trabalhar com carreiras que demandam força de trabalho, melhor será. E para isso, temos de tomar cuidado com preconceitos em termos de carreiras.
Este momento demográfico peculiar de nossa sociedade demonstra certa maturidade para se lidar com a questão da natalidade e planejamento familiar. Mas o que nós faremos com estas informações evidenciadas pelo do Censo é que fará a diferença.
Ter inteligência na hora de adequar estratégias para a educação e geração de formação profissional para atender às demandas específicas é o mais importante. Siga confiante e boa sorte!
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