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Mais 'racional', consumidor contribui para vendas fracas
19/12/2003 | 00:09
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A estagnação do consumo registrada este ano foi motivada pelo encolhimento da renda dos trabalhadores, mas está indicando também o início do processo de amadurecimento do consumidor. As pessoas estão longe das compras não só porque a renda média caiu e o desemprego aumentou. De forma ampla, a conjuntura deixa o consumidor bem mais racional.

Foram precisos mais de oito anos de estabilidade econômica para que as pessoas aprendessem a se comportar em um novo cenário. No momento seguinte ao Plano Real, houve um consumo descontrolado e uma liberação de crédito pouco rígida, resultando em altos índices de inadimplência.

O período, no entanto, teve uma função até pedagógica, pois tanto o consumidor aprendeu a trabalhar melhor com o crédito, assim como as instituições financeiras adequaram seus critérios de concessão e tornaram-se mais profissionais. "Foi um processo doloroso, pois ocorreu em um ambiente de aperto de renda e de seguidas crises", disse Fabio Silveira, da F.Silveira Consultoria, lembrando o colapso de diversos mercados mundiais, a desvalorização do câmbio, o racionamento de energia, a crise argentina e as eleições presidenciais.

Uma das provas do amadurecimento dos consumidores foi a queda dos níveis de calote no Serviço Central de Proteção ao Crédito de São Paulo. Neste ano, apesar da drástica redução dos rendimentos dos trabalhadores, em todos os meses a inadimplência foi inferior à do ano passado, com exceção de março e outubro. Com isso, o ano deve fechar com o índice mais baixo desde 1994, em 5%, contra 6,3% em 2002. A retração das vendas, que poderia explicar a redução da inadimplência, não ocorreu na mesma proporção. Mensalmente, houve mais saídas de devedores do cadastro do que ingressos.

As injeções de recursos extras que eventualmente ocorreram, pelo que se pode concluir, foram usadas para pagar dívidas. Segundo um levantamento da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio SP), a primeira parcela do 13º dos trabalhadores, paga no final de novembro, por exemplo, teve este fim. A esperança do comércio é de que a segunda possa ir para os presentes de Natal.

De acordo com Silveira, ao contrário do que ocorria anteriormente, a iniciativa não esteve associada à intenção de limpar o nome para poder voltar a consumir. O objetivo foi mesmo fugir dos altos juros e eliminar pendências, pois não se verificou uma corrida às compras. Até a prática de emprestar o nome a terceiros teria se reduzido neste processo de aprendizado.

Responsabilidade – O professor do Programa de Administração do Varejo (Provar), da FEA-USP, João Paulo Lara de Siqueira, também acredita que parte dos resultados pífios do comércio tem relação com atitude mais responsável do consumidor. Ele acredita que o Natal deste ano, que está caminhando para ser o pior desde 1999, quando o Provar começou a medir a intenção de compra da população, também vai denunciar uma atitude mais consciente do consumidor.




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