Setecidades Titulo Crime
Carteiros são alvo
de assaltos na região

Metade dos profissionais que entregam Sedex já foi roubada;
média é de 25 ocorrências por mês, de acordo com Sintect-SP

Por Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
25/06/2012 | 07:00
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A moto para ao lado de João, 60 anos, que não esconde a preocupação. As pernas começam a tremer, e o olhar nervoso não consegue se fixar em ponto algum. Funcionário dos Correios há mais de 30 anos, ele tenta lidar com o trauma dos 15 assaltos sofridos apenas neste ano durante entregas de mercadorias como televisores e laptops em bairros periféricos do Grande ABC.

Assim como ele, metade dos 90 funcionários que atuam nos serviços de entrega de encomendas rastreáveis (como Sedex e PAC) foi alvo de ação criminosa neste semestre. São eles os responsáveis por levar compras e pacotes aos moradores da região.

Segundo estimativa do Sintect-SP (Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo), a média em 2012 é de 25 assaltos por mês nas quatro cidades que apresentam o problema: Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá. São 15 os bairros onde a situação é mais crítica. Nem a escolta livra os funcionários do perigo.

O aumento é considerável. De janeiro a junho do ano passado, a média mensal era de três casos registrados, nos mesmos locais.

"O índice está muito alto. É inaceitável", disse Anderson Lima de Moraes, representante da categoria no Grande ABC. Segundo ele, a região apresenta os piores números, ao lado dos extremos da Capital. "Vemos só nas zonas Leste e Sul algo semelhante, mas sem o mesmo crescimento", completou.

"Todo dia a gente volta do serviço e já pergunta quantos foram assaltados", disse Luís, 31 anos, 13 deles nos Correios. A brincadeira esconde a preocupação. Por cinco vezes ele foi vítima. Assim como os colegas, passou pelo serviço psicológico da empresa e ficou 15 dias em casa. Ao todo, 16 carteiros foram afastados de suas funções após serem roubados em serviço.

"Trabalhamos todo dia com medo. Tanto que saímos só com a carteira de motorista e deixamos todos os objetos no armário para não correr riscos", disse ele, que voltou ao trabalho recentemente.

"A volta é terrível", disse João. No seu caso, a licença foi mais do que necessária. Em lugar que prefere manter sob sigilo, o motorista terceirizado conta como foi quando os bandidos o renderam e o agrediram com socos e chutes. "Você fica com medo de tudo. Retomei o trabalho até que bem, mas quando tive de voltar ao lugar onde apanhei, tudo aquilo passou de novo pela cabeça. Hoje desconfio de todos, até de quem vem me pedir informação."

Segundo pesquisa da Fecomercio/Ipsos, 20% da população brasileira já compra pela internet. Os Correios estimam que 70% de suas entregas hoje são de mercadorias adquiridas pelo comércio on-line. Se antes o alvo eram os carteiros que fazem a distribuição domiciliar, por conta dos talões de cheque e cartões, agora os itens de valor cativam os criminosos.

São duas formas de ação. Ou o carro cheio de mercadorias é levado e depois abandonado totalmente vazio, ou poupam o veículo mas levam tudo o que é possível, em plena luz do dia. Sempre atuam armados.

"O carteiro que anda a pé acaba conhecendo os moradores e cria vínculo. Nós não. Acho que falta mobilização", disse Luís, referindo-se ao fato de que não recebem ajuda popular. "Isso foge do nosso controle, disse um líder comunitário de um dos bairros na lista dos mais perigosos.




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