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Carlos Rodrigues: ‘anule seu voto’
Juliana de Sordi Gattone
Do Diário do Grande ABC
02/04/2006 | 08:22
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Aos 30 anos, o aeronauta Carlos Rodrigues decidiu encabeçar sozinho um movimento pela conscientização do voto. Com o dinheiro das férias, fez camisetas, adesivos e montou uma página na Internet (www.anuleseuvoto.com) para divulgar o que pode acontecer caso a maioria decida votar nulo. "Descobri o artigo 224 do Código Eleitoral, que prevê anulação das eleições com 50% dos votos nulos mais um voto." Sem filiação partidária, Rodrigues não tem formação universitária. "Sou um simples brasileiro, um anônimo que ficou revoltado com a situação do Brasil e resolveu fazer alguma coisa."

DIÁRIO – Como é que surgiu a idéia para a campanha ‘Anule seu Voto’?

CARLOS RODRIGUES – Com os acontecimentos do ano passado no Brasil (mensalão, valerioduto) todo mundo começou a falar que brasileiro não faz nada, é muito conivente, deixa tudo acontecer, não vai para as ruas. Como patriota e conhecedor do país, já que viajo pelo Brasil inteiro, me senti incomodado com isso. Freqüentemente, vou à Argentina e vejo um monte de muro de aço em volta para evitar que o povo quebre tudo, porque lá eles lutam para mudar as coisas. Então, pensei: "Vou fazer alguma coisa pelo Brasil". A gente tem que protestar, tem que fazer alguma coisa, não pode ficar de braços cruzados. Daí que surgiu a idéia de anular voto. Fui atrás para saber o que é voto nulo e descobri o artigo 224 do Código Eleitoral, que prevê anulação das eleições com 50% dos votos nulos mais um voto. Nós estamos num país em que somos obrigados a votar. Porque as pessoas não têm conhecimento sobre o voto nulo e sobre o voto em branco. Ninguém sabe que o voto em branco não serve para nada. Aquela tecla grande enorme só serve para induzir as pessoas insatisfeitas a um equívoco. Nós estamos num país democrático? Gastei R$ 4 mil com a campanha e tomara que contagie o Brasil com essa idéia.

DIÁRIO – Você é favor do voto facultativo então?

RODRIGUES – Claro. O voto aqui é obrigatório porque como a Educação no Brasil está completamente falida, é mais fácil induzir. A pessoa que não está politizada, não está interessada, é obrigada a votar e aí é que está o crime. É melhor ser eleito para presidente da República com 10 milhões de votos de pessoas que se interessam pelo país, do que com 50 milhões de votos induzidos.  

DIÁRIO – Mas por que anular o voto?

RODRIGUES – A política não está voltada para o bem querer do ser humano. Vivemos num país onde apenas 3% da população ganha mais do que R$ 3 mil. Isso é indigência. Ficam brincando de polícia e ladrão, fazendo CPI, e não votam as coisas que precisam. Para fazer tudo no país tem de pagar imposto. E mesmo assim somos um povo feliz, mas que, na maioria das vezes, prefere ter coragem de sair do país do que fazer alguma coisa pelo Brasil.

DIÁRIO – Há alguma entidade ou ONG (Organização Não-Governamental) envolvida nesse movimento?

RODRIGUES – Somente eu e minha família. Quem me ajuda são meus tios e minha mãe, todos professores. Mas é um assunto que as pessoas têm medo. É o resquício do militarismo.

DIÁRIO – Caso aconteça de a eleição ser anulada, que reflexo o sr. prevê?

RODRIGUES – Vai mostrar para todo mundo como o brasileiro está insatisfeito. Porque ninguém quer sair nas ruas e quebrar tudo. É uma forma democrática de todo mundo falar.

DIÁRIO – O sr. tinha alguma simpatia ou depositava confiança em algum partido político?

RODRIGUES – Na verdade, o sistema político nunca me agradou muito.

DIÁRIO – Normalmente, a maioria das pessoas que partem para campanhas desse gênero se decepcionaram com a política. Achavam que o PT era a última esperança...

RODRIGUES – Nunca acreditei em ideologia de partido. Sempre votei em pessoas. Acho que o PT é um caso à parte. No Brasil é assim, porque ninguém sabe qual é a ideologia dos partidos. Na última eleição para presidente eu votei no Ciro Gomes.

DIÁRIO – O sr. acha que a CPI virou uma artimanha mais eleitoreira do que efetivamente investigativa?

RODRIGUES – A CPI é um circo do avesso, onde os palhaços somos nós espectadores. Como é que político vai julgar político? Vai ter que devorar alguém. O Judiciário é que tem de ver isso.

DIÁRIO – Já foi filiado a algum partido político?

RODRIGUES – Nunca fui. Tem que reformular a política no Brasil.

DIÁRIO – Quem é Carlos?

RODRIGUES – A única coisa que eu consegui na vida foi o meu emprego. Não consegui fazer faculdade. Já joguei vôlei no Banespa, até com o Ricardinho da Seleção Brasileira. Não deu certo. Trabalhei em loja, fiz eventos, trabalhei em danceteria. Passei fome quando era criança. Sou um simples brasileiro, um anônimo que ficou revoltado com a situação do Brasil e resolveu fazer alguma coisa.




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