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Triangulista convida a forrozar
Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
05/05/2005 | 11:59
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Acaba de sair em CD um registro precioso para quem acompanha a história de resistência da música popular no Grande ABC. No Céu, na Terra e no Horizonte (Gato Discos, R$ 10) contém a essência do trabalho da banda Triangulista. É forró vitaminado com guitarra, coisa fina e bem-humorada, o projeto descontraído de cinco artistas que estão na batalha há décadas.

Todos desenvolvem carreiras paralelas. Vasco Faé é gaitista, homem-banda e agitador da cena blueseira nacional. O guitarrista Renê de França (ex-O Palhaço, leciona artes e toca em dupla com Zé Terra). Marcelo Mazzucatto, o Magrão (baixo) e Azeitona (percussão) são instrumentistas competentes requisitados por diversos artistas. Fegato é percussionista, mas também o ‘homem da técnica’, e atualmente está na África do Sul implantando estúdio de alta tecnologia. A Gato Discos é dele.

Essa turma se conhece desde os tempos do colégio. A eles se junta esporadicamente Kléber Albuquerque, outro membro da resistência. Renê de França conta que esse álbum foi gravado entre 2001 e 2002 e estava guardado. Essa formação surgiu na onda do forró universitário, expressão que tornou palatável o ritmo nordestino à classe média paulistana. Se muita gente ruim estava ganhando dinheiro, ‘por que não?’, pensaram os triangulistas. E começaram a fazer shows.

O repertório surgiu naturalmente. Renê de França, 40 anos, filho de mãe paraibana e pai pernambucano, punk na adolescência, conta que quando fundaram O Palhaço (ele, Kléber, Fegato e Magrão) começaram a deixar os dogmas roqueiros de lado e outros ritmos fluíram. Entre 1991 e 1997 passaram por um período de amadurecimento musical e pessoal. Um disco em vinil pela histórica gravadora Cameratti, de Santo André, foi prensado.

No fim dos anos 90 cada um seguiu seu caminho. Essa formação para tocar forró soa como um divertido encontro de ‘velhos’ chapas. Há liberdade no ar. “Queríamos falar de lua, estrelas, uma coisa viajante, astral”, diz Renê. Conseguiram mais. São nove músicas próprias e três versões infalíveis – Xodó (Dominguinhos e Anastácia), Nuvem Passageira (de Hermes Aguiar com Kléber nos vocais) e Black Bird/ Assum Preto (mistura de Beatles e Luiz Gonzaga que funciona).

Entre as do Triangulista há um show de forró completo, diferenciado pela gaita de Faé, que na maior parte das faixas faz as vezes do acordeão. Estão lá o arrasta-pé com humor (Dani), o puladinho (Pedalero), a para dançar agarradinho (Sabe), uma perfeita para abrir/fechar palco (Saudações). Tem até aquele infalível forró com nomes de garotas, Pé de Mulher: “... No pé de Avelina, no pé de Maitê/ Toda fruta do ABC é bem docinha pode crer...”.

Destaque para Cego, não por acaso a preferida do também compositor Renê. O cego é uma figura do imaginário nordestino e inspirou realmente uma das melhores músicas. “Tá pensando que eu sou cego/ Eu enxergo muito bem/ Não preciso de raibam, nem de lente de contato/ Pois enxergo mais além...”. A poesia descompromissada do bom forró que convida a cantar.



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