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Biodiesel é alternativa ao petróleo
27/06/2004 | 23:41
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Quase 30 anos após a criação do maior programa de combustível renovável do mundo, o Proálcool, o Brasil volta a apostar num novo projeto de energia limpa: o biodiesel, uma alternativa para reduzir a dependência do petróleo, melhorar a qualidade do ar e contribuir para a inclusão social. Se a regulamentação sair em novembro, como previsto, a partir de 2005 os veículos brasileiros movidos a óleo diesel (caminhões, locomotivas e ônibus) já estarão circulando com um porcentual de biodiesel.

Em recente entrevista, a ministra de Minas de Energia, Dilma Rousseff, afirmou que o combustível renovável deverá ser um dos principais focos do governo Lula. Segundo o secretário-executivo do ministério, Maurício Tolmasquim, a intenção é começar o Programa de Biodiesel com o chamado B2, ou seja, misturar 2% do combustível renovável no diesel, o que significará cerca de 800 milhões de litros de biodiesel na frota brasileira. O aumento deverá ser gradual, podendo chegar a 5% em 2010.

O combustível renovável é produzido com óleos vegetais, novos ou usados, gorduras animais, resíduos industriais e esgoto sanitário reagidos com um porcentual de metanol ou etanol (álcool extraído da cana-de-açúcar). O processo resulta em biodiesel e glicerina – matéria-prima empregada na indústria de cosméticos e explosivos.

Mas, no Brasil o foco está, especialmente, nos óleos vegetais, obtidos a partir da soja, mamona, dendê, milho, girassol, babaçu, palma, algodão e colza reagidos com álcool etílico. “Assim, teremos um combustível 100% renovável”, afirma o professor da USP (Universidade de São Paulo) Miguel Dabdoub, responsável pela fórmula do biodiesel com álcool da cana-de-açúcar.

Além da questão ambiental, o uso do biodiesel – que praticamente não emite enxofre – também deve ser estratégico do ponto de vista econômico. Segundo Tolmasquim, o diesel representa um grande gargalo para o país, que tem de importar 15% do combustível consumido (6 bilhões de litros, que custam cerca de US$ 1,2 bilhão por ano). Mesmo que o Brasil alcance a auto-suficiência em petróleo, haverá necessidade de importar diesel comum. Isso porque o óleo extraído não tem qualidade para a produção daquele combustível. “A adoção do biodiesel tende, aos poucos, a diminuir nossa dependência do diesel comprado no mercado internacional”, diz Tolmasquim.

Ele afirma que a intenção do governo é voltar-se principalmente para a produção de biodiesel de óleo de mamona. Cerca de 50% do combustível que será consumido no país deve vir dessa matéria-prima, por causa do apelo social. A plantação, cultivo e colheita da mamona são intensivos em mão-de-obra, contribuindo para a criação de empregos e distribuição de renda para milhares de excluídos nas regiões mais carentes, argumenta o assessor da presidência da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), José Roberto Rodrigues Peres.

Além disso, a mamona é facilmente adaptável ao semi-árido do Nordeste. “Queremos que famílias dessas regiões produzam a mamona e a vendam para as indústrias”, diz Tolmasquim. Mas o governo terá de dar alguma contribuição. “Esses pequenos agricultores precisarão ter acesso a crédito e garantia de compra do produto”, ressalta Peres. Outro ponto positivo da mamona é o período entre a plantação e a colheita, de apenas seis meses. Isso contribuiria para acelerar a formação de uma indústria de biocombustível. “No caso do dendê, o produto só começa a ser colhido em seis anos”, diz o assessor da Embrapa.

Apesar dos inúmeros projetos de empresas e universidades, o Brasil ainda não tem capacidade produtiva para os 800 milhões de litros necessários para formar a proporção de 2% no óleo diesel.




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