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Masp exibe nova obra-prima
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
10/04/2004 | 16:25
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Há duas ressurreições a comemorar no Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand). A primeira é aquela que todo cristão, de João Paulo II a Mel Gibson, conhece e reverencia nesta Páscoa. Já a segunda é a das grandes doações de pinturas ao acervo do espaço, suspensas há cerca de 40 anos e retomadas com a chegada do tríptico A Crucificação de Cristo, do mestre flamengo Jan Van Dornicke (1470-1527). “O Masp não recebe uma doação dessa importância desde 1960”, diz Luiz Marques, professor da Unicamp e curador de A Crucificação de Cristo e o Renascimento Nórdico, mostra que a partir de terça-feira (amanhã somente para convidados) revelará ao público o mais novo item da coleção do museu e o posicionará historicamente junto a obras flamengas e holandesas do século XVI.

Avaliada em US$ 1 milhão, a composição recém-chegada ao Masp provém da londrina Colnaghi Gallery e foi doada por um “grande nome” do empresariado brasileiro. “O doador prefere não se identificar. Só posso dizer que é a segunda grande doação dele. A primeira foi a dos dois guerreiros (esculturas chinesas) da dinastia Tang (dois anos atrás)”, afirma Marques.

A exposição do tríptico tem dois objetivos, conforme o curador. Um é “fazer barulho em torno disso, reconhecer a generosidade do doador sem se limitar a uma cartinha de gratidão; isso seria como jogar pérolas aos porcos”. A segunda finalidade é “incentivar outras eventuais doações, chamar a atenção de possíveis colaboradores”.

A obra atraca no Masp do jeito que foi concebida por Van Dornicke nos anos 1520. É formada por três painéis em óleo sobre madeira, contornados pela moldura original e de dimensões medianas (119,5cm x 172,8cm). Tematicamente, sintetiza a via-sacra em três momentos elementares, tendo A Subida ao Calvário à esquerda, A Crucificação ao centro e A Deposição no Sepulcro à direita.

Esteticamente, somam-se cores firmes, figuras em poses hiperbólicas e as dobras de roupas volumosas, características do maneirismo que é extensão da Renascença. “Existe uma interpenetração de estilos desde o momento em que muitos pintores flamengos foram para a Itália e levaram a influência dos renascentistas para Antuérpia”, diz Marques.

Cidade portuária belga, Antuérpia representou um centro de intercâmbio crucial entre a Europa meridional e os Países-Baixos. Peculiaridades plásticas percebidas em Michelangelo e Rafael, por exemplo, são enviesadas antes de fixadas em obras do alemão Albrecht Dürer e do belga Rogier van der Weyden, além do holandês Bosch. Deste último, mestre absoluto que insinuava no século XVI elementos adotados por movimentos modernos, o Masp exibirá uma das 16 réplicas do famoso As Tentações de Santo Antão (1500). Além desta, outras quatro pinturas e mais sete gravuras serão expostas a fim de contextualizar a obra de Dornicke.

A Crucificação de Cristo e o Renascimento Nórdico – Abertura ao público na terça-feira (dia 13). No Masp – av. Paulista, 1.578, São Paulo. Tel.: 251-5644. De terça a domingo, das 11h às 18h. Ingr.: R$ 5 (meia) e R$ 10. Até 30 de maio.




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