Dois dos principais candidatos à Prefeitura de São Paulo passaram a associar explicitamente o PRTB, partido de Pablo Marçal, ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Após o empresário e influenciador aparecer empatado tecnicamente com o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) na mais recente pesquisa Datafolha, divulgada na semana passada, as campanhas de Nunes e da deputada federal Tabata Amaral (PSB) adotaram postura mais combativa em relação a Marçal - que tem se caracterizado pela conduta agressiva com adversários e uma estratégia voltada para a repercussão nas redes sociais.
Ontem, o prefeito chamou o influenciador de "moleque", "lacrador" e "irresponsável", além de afirmar que o PRTB está envolvido "até o nariz" com o PCC. "Não existe ataque (contra o Marçal). O que existe é você colocar as situações. Quando alguém mostra que o partido dele está envolvido até o pescoço - melhor, até o nariz - com o PCC, não é ataque, é a imprensa que está relatando", afirmou Nunes durante entrevista coletiva. "Uma pessoa que foi presa por sequestro está lá junto, né? Pessoa que troca carro por drogas. A imprensa está fazendo um belo de um trabalho de demonstrar as relações que tem o partido dele com o PCC", continuou o prefeito.
Na semana passada, o Estadão mostrou que antigos aliados do presidente nacional do PRTB e articuladores informais da legenda do influenciador são acusados de trocar carros de luxo por cocaína para a facção, financiando o tráfico de drogas e dividindo lucros.
A campanha de Tabata divulgou um vídeo da candidata fazendo uma espécie de "cartas marcadas", no qual expõe fotos de amigos e aliados políticos de Marçal suspeitos de ligação com o PCC, como Tarcísio Escobar e Júlio César Pereira, o Gordão, indiciados no caso revelado pelo Estadão. O conteúdo também cita Leonardo Alves Araújo, o Leonardo Avalanche, atual presidente nacional do PRTB e um dos principais articuladores da candidatura de Marçal. Segundo a Folha de S.Paulo, Avalanche foi flagrado em conversas nas quais menciona ter ligações com o PCC.
'Pancada e proposta'
As peças de campanha veiculadas pela equipe de Tabata nas últimas semanas buscam tanto "expor quem é Pablo Marçal" quanto marcar posição nas redes, para evitar que o influenciador domine a narrativa digital na campanha. "Ele precisa ser confrontado. Senão ele fala sozinho e escolhe a pauta", disse o marqueteiro Pedro Simões.
Segundo ele, a postura mais combativa de Tabata não contrasta com o plano inicial de ser "a candidata mais propositiva". "Tenho brincado que é uma pancada, é uma proposta", afirmou. Com 8% no último Datafolha e pouco conhecida pelo eleitorado paulista, Tabata não decolou nas intenções de voto. Para Simões, conteúdos desse tipo são fundamentais para aumentar a visibilidade. "Um conteúdo que é só proposta tende a naufragar."
No caso de Nunes, segundo apurou o Estadão, sua equipe aguardava que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu círculo começassem a atacar Marçal antes de o prefeito se posicionar mais abertamente contra o adversário. De acordo com membros da campanha, se Nunes tivesse iniciado os ataques sozinho, sem o respaldo do clã Bolsonaro, ele correria o risco de se desgastar com o eleitorado bolsonarista, que em grande parte apoia Marçal.
Boulos, por sua vez, publicou ontem dois vídeos em que critica Nunes e Marçal, e foi cobrado por apoiadores a adotar uma postura mais contundente, principalmente em relação ao influenciador. Ex-presidente do PSOL e atualmente na coordenação de campanha do deputado, Juliano Medeiros rebateu as cobranças. "Entre nas redes de Boulos e veja quantos memes há em comparação com propostas e denúncias. Você vai ver que eleição é coisa séria pra gente", escreveu no X (mais informações na página ao lado).
'Campanha'
Ontem, em entrevista ao canal CNN Brasil, Marçal disse esperar que as suspeitas sejam investigadas e os culpados, punidos. "Sobre pessoas do PCC no meu partido, eu queria pedir à Polícia Civil, à Polícia Federal, à Polícia Militar, por favor, se vocês sabem que eles estão no meu partido, por que vocês não prendem esses caras?", afirmou. "Quero fazer uma campanha nacional, me ajude a limpar o PRTB. Se o partido é pequeno, o que o PCC tá fazendo lá?"
Ele insistiu na tática de se manter como opção para o voto bolsonarista, apesar da oposição do ex-presidente e de seu núcleo mais próximo. O influenciador afirmou que o termo "bolsonarismo" foi criado pela esquerda para associar o crescimento do conservadorismo no País a Bolsonaro. Mas destacou que nem ele nem Bolsonaro controlam esse movimento. "A liberdade não tem dono. Não é o Pablo Marçal que manda nisso, não é Bolsonaro que manda nisso."
'Retardado'
Apesar das declarações, o candidato do PRTB afirmou que "não vai se levantar" contra Bolsonaro, a quem chamou de "grande líder". Recentemente, os dois protagonizaram uma troca de farpas no Instagram, em que o ex-presidente respondeu ao influenciador com ironia.
Questionado, Marçal, sem apresentar provas, disse que foi o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL) que publicou o comentário. Ele chamou Carlos de "retardado" e disse que o vereador prejudicou o pai na eleição passada. O Estadão procurou Bolsonaro. Não havia resposta até a publicação deste texto.
Recurso
Desde o fim de semana, Marçal está com suas contas nas redes suspensas. O Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo atendeu a pedido do PSB, que o acusou de abuso de poder econômico ao pagar para que terceiros produzissem vídeos curtos e descontextualizados - os chamados cortes - para impulsionar sua candidatura.
Os advogados de Marçal entraram com recurso. Na entrevista, o influenciador negou ilegalidade. "O TikTok paga por visualização, o YouTube paga por visualização. Não fui eu que coloquei dinheiro nisso."
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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