Na sua carta encíclica Laudato Si’, o papa Francisco escreveu sobre a poluição: “A destruição do ambiente humano é um fato muito grave, porque, por um lado Deus confiou o mundo ao ser humano e, por outro, a própria vida humana é um dom que deve ser protegido de várias formas de degradação” (LS 5). Mas o mais importante é o papa ter unido a preservação do meio ambiente e o empenho para resolver a crise climática na qual vivemos, com a fé cristã: “Os cristãos, em particular, advertem que sua tarefa no seio da criação e os seus deveres em relação à natureza e ao criador fazem parte de sua fé. Por isso é bom, para a humanidade e para o mundo, que nós, crentes, conheçamos melhor os compromissos ecológicos que brotam das nossas convicções” (LS 64).
Estar a serviço dos interesses da população e estar atento para que a informação chegue a todos com credibilidade, este é o propósito de um veículo de comunicação que realmente serve o bem comum. Devo dar os parabéns ao Diário porque não perde esta perspectiva, ousando informar a população de fatos que são desconfortáveis para uma parcela da mesma, a qual gostaria que passassem despercebidos.
Refiro-me ao editorial do Diário do Grande ABC de 08/06/2024, que abordou a poluição causada pela RECAP (Refinaria de Capuava), da Petrobras, que terá que pagar multa de R$ 282,8 mil por ter lançado pó branco ou “geada química”, sobre as residências de Mauá, a partir do último dia 25 de maio, assustando os moradores da cidade vizinha, já que os moradores de Santo André já se “acostumaram” aos sustos. Muitos, no entanto, preferem deixar suas casas e se mudar devido aos problemas como doenças respiratórias, doenças de pele e olhos.
A Cetesb reconheceu que a emissão deste material na atmosfera pode tornar o ar impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde, além de causar inconvenientes ao bem-estar público. Não se sabe quais elementos estavam presentes no pó que se acumulou sobre quintais e telhados. É preocupante o impacto do Polo Petroquímico no Grande ABC. Preocupante para quem se preocupa com o bem da população.
Diante da gravidade desta situação, salvo engano, somente o Diário do Grande ABC vem apontando este problema já a alguns anos. A Câmara Municipal de Mauá havia votado requerimento pedindo explicações à RECAP, por não ser este um incidente isolado, mas recorrente, afetando os moradores dos bairros vizinhos à refinaria.
Esta situação de conformismo, desânimo ou descaso em relação a esta questão de um lado, e o negacionismo, ou seja, negar o perigo, de outro, reflete o que se passa em grande escala com a crise climática mundial. Não há uma reação satisfatória diante do desmoronar das defesas da criação frente ao impacto da destruição, provocada pelo ser humano. É um problema social global intimamente ligado à dignidade da vida humana e sua sobrevivência. Pode ser que em dez anos cheguemos a um grau de aquecimento global irreversível, com suas consequências funestas, especialmente para os mais carentes.
A realidade, o bem e a verdade não nascem espontaneamente do poder da tecnologia e da economia. Somente o bem-estar físico, psíquico e espiritual do ser humano trará a paz e a felicidade almejadas. Isto a matéria não dá, mas uma ética que favoreça a vivência dos valores do espírito, quais sejam: a fraternidade, solidariedade e a partilha em vista do bem comum.
A decadência ética, do poder egoísta, é disfarçada pelo marketing da falsa informação. Aqui está o valor de se informar os fatos, quer agrade ou desagrade, tendo em vista a verdade e o bem comum. Precisa continuar assim.
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