Esse tipo de rejeição é notável entre as entidades mais antigas e atuantes do Grande ABC, como a Associação Cristã Verdade e Luz, conhecida como Lar Mamãe Clory, estabelecida há 45 anos no bairro Assunção, em São Bernardo. “Sacolinhas para crianças pequenas são sempre as primeiras a acabar. No fim, sobram as de adolescentes de 14 anos para cima”, afirmou Edna Marconi, secretária-geral da entidade que assiste quase 200 menores carentes, com idade entre zero e 16 anos.
“Não sei ao certo o porquê desta preferência, mas acredito que é porque sai mais barato vestir uma criança pequena”, disse Edna. Para o Natal deste ano, ainda faltam voluntários para oito sacolinhas de adolescentes.
Higiene – A entidade também teve a idéia de iniciar a campanha de arrecadação de sacolinhas com itens de higiene pessoal (toalha de banho, sabonete, shampoo, pasta e escova de dente). A temporada de doações já está aberta e os kits serão distribuídos depois do Natal.
Mas nem tudo é perfeito. Também há problemas com pessoas que se comprometem a trazer as sacolinhas com os presentes e, no prazo final de entrega, simplesmente não aparecem. “Aí vira uma correria, porque funcionários e comunidade têm de correr atrás do prejuízo”, conta Edna.
As mesmas dificuldades são enfrentadas por Terezinha Pafundi, que preside a Instituição Casa Caminho Ananias, de Santo André. No Natal do ano passado, a entidade – que beneficia crianças de zero a 10 anos, do Jardim Santo André e imediações – chegou a distribuir mais de mil sacolinhas.
“O pessoal prefere presentear crianças pequenas por causa do preço da roupa”, afirmou Terezinha, compactuando com a opinião de Edna. Mas ela acrescenta que o pensamento da maioria é equivocado. “A roupa que o adolescente mais usa é barata – camiseta, bermudão e chinelos”, acrescentou.
Para a próximo festa de Natal, marcada para 18 de dezembro, cerca de 600 sacolinhas já foram arrecadadas por essa instituição de Santo André. Mas a expectativa é repetir a marca atingida no ano passado. “Se não atingirmos, o jeito é montar as sacolinhas que faltam com roupas e brinquedos avulsos que vêm de doações”, disse a presidente.
“Outros alegam que evitam as sacolinhas dos maiores porque não sabem o que dar de brinquedo”, apontou a pedagoga Leila Maria Ramos, coordenadora-geral do Lar de Maria, com sede na Vila Scarpelli, de Santo André. Das 800 sacolinhas que a entidade se propôs a distribuir para crianças e adolescentes de todo o município, 110 ainda não foram escolhidas por colaboradores – a maior parte destinadas a crianças e adolescentes com idade entre 10 e 15 anos.
Pelo fato de acolher 80 crianças dentro da faixa etária de zero a seis anos, a creche Lar Benvindo, fundada há 40 anos no Jardim Progresso, em Santo André, não sofre com o mesmo problema. “A dificuldade ainda está em correr atrás de um número razoável de pessoas dispostas a ajudar o total de crianças que acolhemos”, declarou o coordenador Norival Giroldo. No entanto, ele conta que ainda restam cerca de 20 sacolinhas a serem “adotadas”, para crianças de todas as faixas etárias atendidas pela creche.
Equivalência – Levantamento feito pelo Diário em supermercados e lojas de departamentos da região apontou que a diferença de preço entre roupas para crianças e adolescentes não chega a ser significativa. E constata-se, inclusive, que os itens para bebês podem custar mais caro. Por exemplo, um conjunto de bermuda masculina e camiseta, tamanho adulto (já que o manequim usado por adolescentes em geral não é mais infanto-juvenil) pode ser encontrado por R$ 15. Nas mesmas lojas, uma calça mais uma blusa para bebês chega a custar até R$ 30.
Vale ainda uma dica. No lugar do brinquedo, a sacolinha do adolescente pode ser completada com artigos como agenda e carteira para documentos (para meninos), estojo com maquiagem e bijuterias (para meninas), livro e jogo educativo (para ambos).
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