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Família denuncia hospital por fraude e negligência em morte de bebê

Gestante teve carteirinha trocada com outra paciente e recebeu medicação para diabetes no antigo HMU; Polícia investiga caso

Thainá Lana
22/04/2024 | 07:00
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Claudinei Plaza


A bacharel em direito, Marília Beatriz Alves, 44 anos, denuncia o Hospital da Mulher de São Bernardo, antigo HMU (Hospital Municipal Universitário), por fraude e negligência na morte da sua neta. O caso aconteceu em agosto de 2022, quando sua filha, Stella Luisa Alves, 20, deu entrada na unidade hospitalar com 38 semanas de gestação com fortes dores.

A paciente passou por exames no dia 21 e foi liberada pela equipe médica. No mesmo dia à noite, retornou à unidade, repetiu os procedimentos e recebeu alta novamente. A internação da paciente ocorreu no dia 22, após apresentar fortes contrações, foi direcionada para o quarto e começou o acompanhamento do pré-parto. A ultrassonografia e cardiotocografia apresentavam que o estado de saúde da criança estava estável.

Segundo afirma Marília, mãe de Stella, a carteira de gestante da sua filha teria sido trocada com outra paciente, chamada Carla Cavalcante Fernandes, que seria diabética e estava com o nível alto de glicemia, em torno de 450 mg/dl. Por conta da suposta troca, a equipe médica teria aplicado insulina em Stella para conter a condição.

“Assim que a Stella recebeu a insulina já começou a passar mal. A enfermeira me chamou e disse que o bebê tinha morrido e que minha filha era diabética. Na hora já contestei a informação, foi quando ela me entregou a carteirinha da Carla confirmando a condição médica, e eu disse que aquela não era minha filha. A profissional ao perceber o erro quis pegar de volta o documento e eu não deixei”, a avó guarda até hoje as carteiras das gestantes.

A causa da morte do bebê foi trombose placentária, segundo laudo do IML (Instituto Médico Legal), e Marília afirma que a complicação foi ocasionada por conta da insulina. “Após confirmarem o óbito, deram alta para minha filha e disseram que a criança poderia ficar na barriga da Stella e seria expelida em até 30 dias, como se não fôssemos nada”. A família retornou no dia seguinte ao hospital, em 23 de agosto, para fazer a retirada do feto.

A equipe médica começou a indução do parto normal, e o procedimento durou três dias. Marília conta que, além do choque de perder o filho, Stella sofreu com fortes dores. Nesse período, o secretário de Saúde de São Bernardo, Geraldo Reple Sobrinho, e a coordenadora da obstetrícia do antigo HMU na época, Silvana Giovanelli, conversaram com a família sobre o ocorrido.

“Pediram desculpas e falaram que iriam abrir um processo administrativo para averiguar o que tinha acontecido. Eles também ofereceram ajuda para o velório e enterro da minha neta no Cemitério Carminha, mas recusamos”, disse Marília.

No dia 26 de agosto, Stella deu à luz ao natimorto, nos braços da avó. “Minha filha não aguentava mais o procedimento de indução do parto, foi quando o médico responsável subiu para preparar a sala de cirurgia para fazer a cesária que a minha neta nasceu. Não tinha ninguém no quarto, só nós duas, foi muito difícil e doloroso. Além da negligência, ela sofreu com a violência obstétrica”, relembra.

REUNIÃO

Em dezembro do ano passado, Marília cobrou resultados do processo administrativo aberto há mais de um ano no hospital e se encontrou com representantes da unidade. Na reunião, a avó foi surpreendida com um suposto exame atestando que Stella era realmente diabética, porém, ela nega que a filha tenha realizado o procedimento - esse mesmo documento não consta na cópia do prontuário que ela guarda desde setembro de 2022.

“Na versão original do prontuário não tinha esse exame, e na folha que a médica me entregou estava escrito que o documento tinha sido editado em dezembro de 2023, mais de um ano do ocorrido. Imediatamente fui ao laboratório indicado e peguei um comprovante de que minha filha nunca esteve no local e nunca realizou nenhum exame lá. Fizeram de tudo para acobertar o erro médio, porém, tenho todas as provas guardadas, e vamos abrir um processo contra eles” acusou.

O caso foi registrado no 2º DP (Distrito Policial) de São Bernardo e está sendo investigado pela Polícia Civil, conforme confirmou a SSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo). Após a reunião, Marília levou as novas provas para a delegacia.

A Prefeitura de São Bernardo não respondeu sobre as denúncias de fraude e negligência no caso da Stella.

CONSEQUÊNCIAS

Stella sofre até hoje com o episódio. A jovem de 20 anos trancou as faculdades de direito e perícia criminal que cursava e quase não sai de casa. O quarto da pequena Isis, como iria chamar a bebê, continua intacto, com todas as roupas e brinquedos que a aguardavam.

“Ela não quer mais ter filhos, perdeu 20 quilos, tem dias que fica só a base de água. Não quer mais estudar, nem trabalhar, não consegue ir ao médico ou em locais que têm gestantes e crianças, uma vida de privação. Não passou nunca mais na rua do hospital. Ela celebra todos os meses o aniversário da filha com flores no túmulo”, lamenta Marília.

MANIFESTAÇÃO

Após série de denúncias de negligência no Hospital da Mulher de São Bernardo divulgadas pelo Diário na última semana, está marcada uma manifestação para hoje, a partir das 7h30, em frente ao hospital, localizado na Av. Imperador Pedro II, 216, no bairro Nova Petrópolis. 

O movimento exige que a Prefeitura assuma responsabilidade pelos casos e ofereça um serviço de qualidade à população.




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