Petistas e tucanos brigam para ver quem vai ficar com o capital político produzido pela mudança na qualidade do diálogo entre municípios e governo federal. Deputados federais que representaram a região no primeiro e segundo mandatos de Fernando Henrique Cardoso afirmam: o Grande ABC recebe mais dinheiro do governo Lula porque as portas dos ministérios estão mais abertas e porque os prefeitos aprenderam a pedir com mais ênfase.
Os prefeitos de oposição ao PT do presidente Lula, que ganharam cinco das sete prefeituras, querem faturar o capital político gerado por essas transferências, mostrando que em vez de ministros e deputados federais petistas, foram eles – os prefeitos – os grandes responsáveis pela melhora no atendimento à região.
O Diário mostrou segunda-feira que em dois anos Lula colocou R$ 71 de cada R$ 100 remetidos por Fernando Henrique Cardoso ao longo de oito anos. O tucano investiu R$ 4,2 milhões por ano no Grande ABC. Lula mandou quase três vezes mais.
A equação atual é claramente vantajosa para os petistas, que mostram ao público o quanto o presidente Lula tem sido fiel com o berço político ao mesmo tempo em que revela o quanto a FHC ajudou a empurrar para baixo os indicadores sociais e econômicos locais. Na primeira metade do mandato, Lula tinha cinco prefeitos petistas nas sete cidades da região. Agora o PT governa apenas duas: Santo André e Diadema. O restante está nas mãos de aliados do governador Geraldo Alckmin (PSDB) potencial candidato a presidente da República.
Até mesmo arquirrivais politicos reconhecem que nenhum presidente foi tão receptivo com os administradores locais quanto Lula. “Pode até ser melhor do que naquela época porque temos vice-líder do governo. O Lula é de São Bernardo e tem conhecimento total da região”, afirma Duílio Pisaneschi, ex-deputado federal pelo PTB e vice-líder do governo FHC. A novidade está no discurso do deputado federal durante a segunda metade da era FHC e agora prefeito de Ribeirão Pires, Clóvis Volpi (PV). Ele afirma que houve uma mudança na força política que lidera o Grande ABC. “Durante o governo FHC nós tínhamos uma hegemonia política do PT na região. E os prefeitos não gostavam de reivindicar nada ao governo, porque eram da oposição. Agora existe uma reformulação, principalmente em São Bernardo, que força o governo a ter uma postura melhor. Essa força não existia durante o governo FHC. Não havia apoio dos prefeitos para as ações dos deputados”, afirma Volpi. O ex-deputado e atual prefeito, conta que “nunca houve” qualquer chamado dos prefeitos de Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra para conversar com o governo federal.
Ex-deputado federal e agora presidente do Conselho Nacional do Sesi, Jair Meneguelli defende a bancada federal e os prefeitos da época: “O que se encontra hoje são as portas mais abertas e a compreensão de que o Grande ABC precisa de investimentos. Não foi falta de procurarmos. Mas como não obtínhamos sucesso, os prefeitos também não procuravam. Não me lembro de nenhuma situação em que tivemos condições de conversar. Nunca tivemos chances como nesses últimos dois anos”, afirma.
Em segundo mandato consecutivo, o deputado federal Professor Luizinho (PT) também rebate o ex-colega Volpi: “Ele não poderia ser tão injusto assim. O governo anterior não respeitava e não recebia os prefeitos. Basta ver que foram recebidos em Brasília com tropa de choque e cachorro. Lula, ao contrário, recebeu não apenas a Carta do ABC, mas a carta dos prefeitos do Brasil. Durante o governo FHC tentamos várias audiências, mas não tínhamos eco no governo federal. Agora os prefeitos encontram um governo mais receptivo. Se não conseguirem é porque são muito ruins”.
Luizinho lembrou que enquanto FHC ignorou todos os pedidos de audiência, Lula recebeu os prefeitos do Grande ABC duas vezes na região e uma vez em Brasília, sempre para acertar a resolução de problemas regionais, principalmente a criação da Universidade Federal do ABC e a expansão do Pólo Petroquímico de Capuava. “FHC nunca nos atendeu. Estive uma vez acompanhando Celso Daniel (prefeito de Santo André) a uma audência com o então ministro da Saúde, José Serra – depois com o substituto dele, para liberar recursos para o Hospital da Mulher. O dinheiro só saiu durante o governo Lula”, afirma. O deputado rejeitou a crítica de que os parlamentares petistas não estão envolvidos com as questões regionais. “Antes de fechar o acordo para a compra do distrito de Paranapiacaba – tentado desde o governo FHC, fomos cinco vezes ao Rio de Janeiro. O problema é que agora tem eco, mas o Grande ABC sempre brigou.”
Luizinho afirma que durante o governo Lula, o ministro questionado compareceu à região para explicar a posição do governo: Tarso Genro (Educação) para tratar da criação da universidade federal; Olívio Dutra (Cidades) para liberar a verba e depois visitar o coletor-tronco de esgotos; Dilma Roussef (Minas e Energia) para tratar da expansão do Pólo Petroquímico e José Dirceu (Casa Civil) para falar do compromisso do governo com a região. Para o deputado, quando todas estas obras estiverem finalmente contabilizadas, o investimento do governo Lula na região terá ultrapassado diversas vezes as realizações de Fernando Henrique.
Deputado federal desde o primeiro ano da gestão Fernando Henrique, Ivan Valente (PT) afirma que o governo Lula transfere mais recursos do que seu antecessor e está mais receptivo aos problemas da região. “Em 1995, durante o governo FHC, fomos os cinco deputados federais conversar com o então ministro da Educação, Paulo Renato. “Ele nos colocou abertamente que aquele governo não abriria nenhuma vaga em universidade pública. Aquilo era uma questão de princípio para os tucanos. Agora estamos na luta pela Universidade Federal do ABC. Isso é um bom exemplo”, afirma Valente.
Outra face da disputa é pela paternidade de projetos que – embora estejam virando realidade agora, estão atrasados há pelo menos uma década. Os deputados disputam a dianteira sobre quem pediu primeiro o coletor-tronco de esgotos, uma obra de saneamento vital para a saúde pública na região, cuja verba foi liberada apenas durante o governo Lula. “Essa verba foi pedida ao FHC e liberada no governo Lula. As coisas estão acontecendo no momento em que ele é presidente e ele vai levar uma grande vantagem”, afirma Volpi. Para ele, igualmente antigas são as pautas pela expansão do Pólo Petroquímico – “uma questão na qual já vínhamos trabalhando” – e na contrução do trecho Sul do Rodoanel.
Luizinho e Valente – os dois petistas veteranos da bancada do ABC – se defenderam das críticas à baixa performance da bancada federal. “Os deputados cada vez batalham mais. Age assim quem fica preso no umbigo. Se eu estivesse à margem não teria feito tanta reunião e nem teria trazido tantos ministros ao Grande ABC”, disse Luizinho. “Ajudo a fazer pressão pelas necessidades da região, mas não tenho prática de agir individualmente. O prefeito tem direito de ser recebido pelos ministros ou pelo presidente. O prefeito não precisa de deputado-despachante”, afirma Valente. O Diário perguntou aos atuais e aos ex-deputados federais se a atmosfera de Brasília contribui para que o parlamentr se distancie dos problemas locais. Todos responderam que não.Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.