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Crise faz montadoras reavaliar mercado brasileiro
Por Do Diário do Grande ABC
09/01/1999 | 13:58
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A crise no Brasil está provocando uma reavaliaçao completa do mercado automobilístico e deve pôr as montadoras em guerra total, antecipam os analistas. O paraíso de 1997, quando o setor atingiu o recorde de dois milhoes de veículos vendidos, transformou-se em pesadelo com a crise internacional. Enquanto os tigres asiáticos e a Rússia entravam em bancarrota e o déficit público brasileiro ia se multiplicando, as vendas despencavam, levando na esteira os planos de incremento de produçao.

``Foi uma ducha de água fria, que vai retardar o processo de concretizaçao do mercado brasileiro. As empresas estao repensando o prazo dos investimentos, mas nao há retorno a curto prazo, já que ninguém quer perder posiçao', analisa Rogério Aun, vice-presidente da consultoria AT Kearney.

O fato é que pelo menos 60% dos US$ 20 bilhoes dos investimentos previstos até o ano 2000 já foram realizados e 13 fábricas estao instaladas no país, o que, combinado com a crise, está criando um ambiente de concorrência que promete ser cruel. Principalmente com as quatro grandes - Volks, Fiat, GM e Ford - que preparam uma guerra sem tréguas para manter suas posiçoes.

As novas montadoras estao abocanhando com agressividade sua fatia no bolo do mercado. Em 1998, garantiram, com os importados, 12% de participaçao. A estimativa da AT Kearney é que as novas montadoras terao entre 19% e 23% de participaçao em 2001.

Para o professor José Roberto Ferro, da Fundaçao Getúlio Vargas, a Volks sai na frente nessa guerra. ``O lançamento do Golf poe a montadora em posiçao favorável. O que ela tinha de perder já perdeu. Agora deve manter a liderança com 28% do mercado'. Parece pouco para quem já teve quase 60% do mercado, mas nao é nada mal. Nos países do Primeiro Mundo nenhuma montadora tem mais de 20%.

Tendência - Mas a posiçao da Volks pode nao ser tao confortável. ``A empresa está fazendo movimentos importantes para garantir a liderança, mas a briga é grande e é difícil apontar um vencedor', afirma Aun, da AT Kearney. Segundo ele, há uma tendência de aproximaçao maior das grandes, o que já se verifica hoje, com Fiat e GM, respectivamente com 24% e 22% do mercado.

``Já conseguimos ficar à frente da Volks quatro vezes no ano passado mesmo com uma imagem que ainda tem de ser melhorada. Imagine quando ela ficar boa', afirma Lélio Ramos, diretor comercial da Fiat. Ele aposta no lançamento de produtos diferenciados - vai trazer o Bravo para enfrentar o Golf - e em uma rede agressiva, com novos padroes de atendimento.

A Volks renovou produtos, reposicionou preços, lançou a linha Gol com quatro portas, transformou opcionais em itens de série, está inaugurando nos próximos dias a nova fábrica, que vai produzir o Golf e o Audi A-3, e prepara um novo lançamento, o projeto PQ-24, uma família de modelos independente, situada entre o Gol e o Golf, para manter a liderança. '`Apostamos na imagem forte da marca e nas exportaçoes para crescer ainda mais', garante Luiz Muraca, gerente de Marketing.

Mesmo a Ford, que chegou a 25% em 1987 e despencou para 13% em 1998, deve entrar no páreo. ``A Ford disputa a liderança de mercado no mundo e nao vai aceitar posiçao secundária no Brasil', avalia Aun.

Entre as novas, a Renault promete uma atuaçao mais agressiva no mercado. ``Ela chegou truculenta, montou uma operaçao enorme', avalia Aun. O objetivo da montadora, que está investindo US$ 770 milhoes, é conquistar 10% do bolo até 2005, anunciou seu presidente mundial, Louis Schweitzer, em dezembro, na inauguraçao da fábrica, em Sao José dos Pinhais (PR).

A Mercedes-Benz também joga duro, investiu US$ 820 milhoes para produzir o Classe A, primeiro popular da marca, na fábrica de Juiz de Fora, que inaugura em fevereiro.

Os japoneses, Honda e Toyota, sao mais cautelosos, mas podem engrossar a briga. Investiram em fábricas menores e lançaram carros médios. ``O carro médio exige menos investimentos e tem uma imagem melhor, atraindo o consumidor', comenta Aun.




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