Ainda que a dimensão dos prejuízos orgânicos causados pelo consumo de alimentos ultraprocessados possa ser discutido, nenhuma avaliação nutricional conscienciosa é capaz de encontrar lugar para estes produtos em dieta que se proponha saudável.
Mas, para além da árdua tarefa de expulsar estes famigerados produtos de nossas vidas, conviveremos ainda com decisões alimentares que não asseguram desfechos óbvios, deixando-nos mais sob a guarda de possibilidades que certezas.
Enorme número de estudos científicos anota melhores parâmetros de saúde em vegetarianos na comparação com consumidores de carnes, notadamente menor incidência de doenças cardiovasculares e cânceres, porém, se por um lado tais registros dão força às correntes contrárias ao hábito carnívoro, de outro, suscitam indagações de toda ordem.
Contesta-se, por exemplo, que as pesquisas não façam distinção entre consumidores de carnes magras e/ou brancas, daqueles de carnes gordas e/ou processadas., assim como, não sejam observados a maior ocorrência de hábitos danosos em carnívoros, tais como tabagismo, consumo alcoólico, perfil de sono e sedentarismo.
E não é à toa, que algumas meta-análises (revisões de extenso número de estudos), retiram o “vegetarianismo” do pedestal e entregam o posto para o “vegetariano”, compreendendo que é seu comportamento de vida o fator causal para indicadores tão favoráveis, no que parece ser possível para carnívoros mais afeitos a carnes brancas, magras e sem processamento.
A maioria dos centenários de todo o mundo não são vegetarianos, o que não deve fazer pensar que a dieta sem carnes impeça a longevidade, mas demonstra que nossas escolhas devam ser menos conflituosas e tensas.
Se você é afeito ao consumo de carnes, parece inteligente optar pelas brancas e magras, mas se elegeu os vegetais, com, ou sem leite, ovos e mel, aprenda a conduzir esta preferência sem falsos amigos industrializados.
E para qualquer das escolhas: pratique exercícios físicos, não perca noites de sono, não fume, não use drogas ilícitas e ame o quanto puder, pois para o restante só temos o acaso!
Antonio Carlos do Nascimento é doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia.
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