Ex-assessor do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e figura mais próxima, na região, da família Bolsonaro, o vereador Paulo Chuchu (PRTB) inclinou apoio ao deputado federal Alex Manente (Cidadania) na eleição à Prefeitura de São Bernardo no ano que vem. Para o parlamentar, Alex é o quadro, dentre os nomes que se apresentam ao eleitor da cidade, mais distante do PT. “Tenho um compromisso ideológico com meu líder maior, que é o presidente Bolsonaro, de me manter o mais distante possível da esquerda. Eu não vejo candidato com mais chance no cenário atual de hoje do que o Alex Manente.”

Qual balaço o sr faz do mandato de vereador? Cumpriu suas expectativas, houve mais frustrações?

Tive algumas surpresas positivas e outras negativas. Vou ser bem sincero. Eu trabalhei na Polícia Civil por 20 anos e achava que tinha visto muita coisa de podridão, porque vi casos de homicídio, sequestros, apreensão de entorpecentes. Mas, na política, o que vi foi muita falsidade, uma prostituição moral. O pessoal fala uma coisa de manhã e, à tarde, fala outra, tem uma opinião ‘x’ e ‘y’. Eu vi muitas pessoas que xingaram o presidente (Jair) Bolsonaro (PL) e xingaram o governador Tarcísio (de Freitas, Republicanos) e, num toque de mágica, do primeiro para o segundo turnos, se tornarem apoiadores.

Isso o sr. fala do prefeito Orlando Morando, que criticou Tarcísio e depois foi apoiá-lo no segundo turno?

Não acho que o prefeito se encaixa nessa crítica, ele fez o jogo dele, sendo leal aos candidatos dele até o fim. Ele sempre foi (João) Doria, apoiou o candidato do PSDB (Rodrigo Garcia) no primeiro turno e, depois, apoiou o governador Tarcísio. Dentro do jogo. Mas eu vi muita gente chamar o presidente de genocida e depois ir para a (Rua) Marechal Deodoro dizer que o presidente Bolsonaro era seu candidato. Eu entendo que, na política, você apoia o nome de seu partido e, ele não indo ao segundo turno, você vai se posicionar ou de um lado ou do outro do muro. Agora, o que eu vejo dentro da Câmara é muita gente em cima do muro e, na hora da conveniência, se volta para um lado ou para o outro. Eu vi político que xingava o (presidente) Lula e, depois que ele foi eleito, apresentar e votar a favor de moção de congratulação pela eleição dele. Mas até ontem era o cara que xingava o Lula de ladão. Eu sou e serei oposição ao governo Lula até o último dia do governo dele, fazendo uma oposição técnica. Não sou a favor de manifestações na casa do político, de perseguir a família do cara. 

Mas houve também frustração com relação à rotina da casa?

Sim. Além dessa questão de falsidade, a burocracia da Câmara é muito ruim, muito travada. O regimento é péssimo. Em São Bernardo, o vereador não tem o direito de parlar (falar em italiano) no Parlamento. Se ele quiser usar a tribuna, todas as vezes precisará passar uma eleição interna e só com a maioria aprovando ele pode falar. Eu sou a favor que todos possam falar. Por isso que, sendo de esquerda ou de direita, eu voto a favor para usar a tribuna. Outra coisa que me frustra bastante na Câmara é a falta de transparência. Não tem uma sessão televisionada, uma cidade com o sexto maior PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil não tem uma TV Câmara, não tem uma transmissão on-line. Eu tenho feito via meu Instagram. As sessões são sempre às quartas-feiras, às 9h, quem é que consegue acompanhar? Também não há margem para uma apresentação de emendas impositivas. A Câmera de São Bernardo muita das vezes se coloca como se fosse um RH do Executivo, e isso me frustra bastante. Você tem um regimento que trava afala do vereador e que, ao mesmo tempo, permite que projetos desçam do Executivo às 10h30 para serem votados às 11h30. As comissões servem para quê? Eu sou presidente da Comissão de Segurança Pública e as coisas quando passam por mim elas têm que realmente passar pela comissão, eu vou dar minha opinião. A Câmara de São Bernardo não tem a mínima vontade que o povo participe.

Sobre o ano que vem, quais suas pretensões eleitorais?

Meu objetivo para o ano que vem é manter esse espaço que a gente conquistou demarcado, de ter um vereador realmente bolsonarista em São Bernardo, um bolsonarista raiz mesmo, sem vergonha de falar, como alguns vereadores da cidade têm. É vir à reeleição de vereador e tentar aumentar esse espaço, quem sabe fazer mais de um (vereador). Não vou abandonar o barco, não vou deixar esse espaço que a gente conquistou com tanta dificuldade para outro ir aos 47 minutos do segundo falar que é Bolsonaro. Tem um monte de cara que eu agora me abraça, me beija na Câmara, agora que estão chegando as eleições, e falam que são Bolsonaro, que votaram nele. 

O sr. tem relação estreita com o clã Bolsonaro, que está todo no PL. O sr. se elegeu pelo PRTB. Como ficará essa questão partidária?

O PL é um partido que a gente tem afinidade até pelo próprio presidente estar lá. É muito provável que eu vá para lá (PL), porque sigo o meu caminho natural, que é estar no mesmo partido que o Eduardo e o presidente Bolsonaro. Tenho grande apreço pelo Valdemar (Costa Neto, presidente nacional do PL), pelos integrantes do partido aqui em São Paulo. Podemos até ter uma divergência ou outra com o pessoal antigo do PL, mas tenho grande respeito pelo partido. Já fui convidado, mas vou aguardar. Fui muito bem acolhido pelo PRTB, mas não vou correr risco de perder o mandato faltando pouco para conseguir mudar de partido.

O sr. esteve no escritório político do deputado federal Alex Manente e hoje o sr. dá sustentação, na Câmara, ao mandato do prefeito Morando. Qual será sua posição a respeito do apoio do candidato majoritário?

Eu não tenho rabo preso com ninguém e tenho um compromisso ideológico com meu líder maior, que é o presidente Bolsonaro, de me manter o mais distante possível da esquerda. Eu falei isso em algumas lives minhas que, com exceção do PT e partidos de esquerda, vou ouvir as propostas de todos os candidatos. Eu não vejo candidato com mais chance no cenário atual de hoje do que o Alex Manente. Não o conhecia pessoalmente e tive uma grande surpresa conversando com ele durante cerca de uma hora e meia no escritório dele em São Bernardo. Recebi o convite dele e foi uma ótima conversa. Não fechamos nada, mas hoje o cenário mais favorável para me manter distante da esquerda seria o Alex, não vejo outro nome com essa possibilidade. Hoje o PSDB e o Cidadania são oposição ao governo Lula no Congresso.

Zero. Ele sempre se colocou como um antipetista e, chegando o ano que vem, chegando ao fim do mandato dele como prefeito de São Bernardo, nunca vi nenhuma sinalização ao PT. Eu não acredito que no apagar das luzes no final do governo teria uma reviravolta tão grande assim, um prefeito que sempre criticou o PT se tornar apoiador do PT. Mas eu falo por mim, né. Eu garanto que nunca vou apoiar o PT.

Dois secretários do prefeito Morando já vieram a público dizer que o melhor caminho seria Morando apoiar Alex, até numa avaliação de que essa pacificação impediria o retorno do PT à Prefeitura. Qual sua opinião a respeito dessa visão?

Eu conheço o Alex há pouco tempo, então eu não acho justo falar que ele é o menos pior por essa questão de PT. Eu conversei com ele e vi que tem uma grande vantagem para ser um prefeito legal para São Bernardo. Eu não me aproximei do Alex pelo fato de PT voltar ou não, eu votaria no Alex pelas propostas dele, pelo que gostei do que ouvi. Não sou covarde a esse ponto. Eu falei com ele sobre algumas propostas, perguntei o que ele achava, e ele se mostrou muito receptivo. Por exemplo, pedi uma força para ampliar os eventos de jiu-jitsu, que é meu esporte, ele se mostrou à disposição. Não falei com ele questão nenhuma de secretaria, não serei secretário caso o Alex seja eleito, quero ser reeleito vereador. 

Um nome também bastante comentado dentro do governo para a sucessão é o do deputado federal Marcelo Lima (PSB). Qual sua relação com ele? Como o sr. vê uma possibilidade de o prefeito Morando, que o sr. mesmo ressaltou ser um antipetista histórico, apoiar um quadro hoje filiado ao partido do vice-presidente do Lula?

É mais difícil para eles explicarem do que eu. Para mim é muito confortável para falar. Como vou apoiar um candidato que está no mesmo partido que provavelmente vai assumir a vice na chapa do Boulos (deputado federal Guilherme Boulos, pré-candidato a prefeito de São Paulo pelo Psol), em uma cidade aqui do lado, que é São Paulo? Como vou falar que, em São Paulo, apoio o (prefeito) Ricardo Nunes (MDB) com um vice bolsonarista e aqui, em São Bernardo, eu faço o contrário? E tem outra. Eu não fui procurado (pelo Marcelo Lima). Eu posso falar sobre que me chamou opara conversar. 

O diretório do PL em São Bernardo está sob comando de Fernando Longo, secretário adjunto de Coordenação Governamental de Morando. Teria algum embaraço ao sr., caso se filie ao PL, não fazer campanha para um candidato que Morando indicar?

Para mim, isso é mera burocracia e formalidade política. Uma pessoa que queira ser candidata à prefeitura do tamanho da de São Bernardo precisa reunir todos votos, possíveis e imagináveis. Então, não acredito nessa divisão. Há possibilidade de união no final. Eu não posso falar pelo PL porque estou no PRTB, o presidente nacional chama-se Valdemar Costa Neto e quem decide é ele. Mas meu voto e meu apoio como bolsonarista em São Bernardo sou eu e meus líderes, Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro. 

Mas há empecilho político para o sr. essa situação?