É nitroglicerina pura o relatório do BC (Banco Central) que apurou crime contra o sistema financeiro nacional praticado pela Caruana Financeira, instituição de crédito especializada no segmento de mobilidade urbana. Os documentos, aos quais a reportagem do Diário teve acesso, foram encaminhados à PF (Polícia Federal) e ao MPF (Ministério Público Federal) para investigação. Se culpados, os responsáveis pelas fraudes estão sujeitos a 23 anos de cadeia. As denúncias são gravíssimas e devem merecer toda a atenção das autoridades. A irresponsabilidade e a busca incessante pelo lucro podem colocar em risco o sistema bancário brasileiro e, por consequência, desestabilizar a economia.
O banco Caruana, de propriedade de José Garcia Netto, o Netinho, realizou, segundo inspeção feita por técnicos do BC, entre janeiro de 2017 e maio de 2019, série de empréstimos de valores a clientes que não tinham capacidade operacional de quitar os compromissos. Ainda de acordo com as investigações, a instituição financeira também maquiou os números para transformar prejuízo em lucro. Para isso, executivos da companhia alteravam o modelo de classificação do nível de risco de crédito baseando-se em critérios que não são regulamentados pelo Banco Central. Ao menos 31 empresas conseguiram contratos financeiros com valores muito acima da capacidade comprovada de pagamento.
Embora sejam empresas privadas, bancos obedecem às regras públicas, pois integram complexa cadeia de relacionamentos cujo abalo pode levar todo o sistema financeiro à bancarrota. A irresponsabilidade de gestores de instituições do segmento pode arrastar para o abismo o equilíbrio econômico do País – e do mundo, a depender do tamanho do banco envolvido na história. Basta lembrar da crise global de confiança que se seguiu à quebra do Lehman Brothers Holdings, sediado em Nova York, nos Estados Unidos. É por isso que o BC é tão cioso das garantias de liquidez ofertadas pelos tomadores de empréstimos, cautela da qual, segundo documentos, a Caruana Financeira se afastou.