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Grande ABC tem 2.700 pessoas na fila para transplante de órgãos, estima Ipes

No Brasil, 65 mil pacientes esperam por doação; Setembro Verde busca conscientizar sobre tema

Thainá Lana
27/09/2023 | 07:00
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Divulgação


No Grande ABC, 2.700 moradores aguardam na fila para o transplante de órgãos, segundo estima o Ipes (Instituto Paulista de Educação em Saúde). Esses pacientes esperam por uma doação, que pode mudar suas vidas para sempre.

Celebrado hoje, o Dia Mundial de Doação de Órgãos busca conscientizar a população sobre o tema, e realiza campanhas para estimular a doação, como o Setembro Verde.

No Brasil, mais de 65 mil pessoas estão na fila de transplante de órgãos, segundo dados do Ministério da Saúde. O número é um dos maiores dos últimos 25 anos. Desse total, até o fim de julho deste ano, 20,8 mil pacientes estavam cadastrados no sistema do Estado de São Paulo.

Dentre estes pacientes está a aniversariante do dia, Amanda Brito dos Reis, 35 anos, que aguarda há dois anos e oito meses por um transplante de rim. Moradora da Zona Leste da Capital, ela realiza há três anos tratamento de hemodiálise em um hospital privado em Santo André.

Além do rim, Amanda também necessita de transplante de pâncreas, condição que altera sua descrição no Sistema Estadual de Transplantes do Estado para transplantação dupla.

Mesmo com tanto tempo na fila, Amanda diz que mantém a esperança, e acredita que ainda neste ano irá receber a doação dos órgãos. “Hoje existem muitas pessoas conscientes sobre o tema. Doar é um gesto muito nobre, de amor ao próximo. Esse assunto precisa ser amplamente divulgado para que, quem não doa, passe a doar, porque além de prolongar vidas, é também uma forma de manter viva uma parte de quem você ama”, comenta a paciente.

Se para quem aguarda na fila de transplante o sentimento de esperança é predominante, para quem já foi contemplado com um órgão é a gratidão que domina. A andreense Maria Elze da Silva Coutinho, 73, agradece diariamente a nova chance de vida que recebeu.

A idosa passou por um transplante de rim no fim de 2020, após quatro anos de hemodiálise. “Estou muito bem após a cirurgia, e continuo na minha caminhada. Agradeço imensamente a Deus, a equipe médica, minha família e amigos que estiveram comigo durante o processo”, exaltou a moradora do Parque Gerassi.

Durante todo o processo, ambas as pacientes contaram com apoio e suporte do Ipes, instituto regional e um dos primeiros do Brasil a trabalhar na orientação de quem necessita de transplante, além de atuar na sensibilização da questão.

Desde 2010, a organização já atendeu 4.500 pessoas entre palestras, encaminhamentos e outros assuntos. A fundadora, Wilma Maria de Moraes, 65, afirma que é a primeira voluntária social da doação de órgãos e tecidos para transplantes em território nacional, e que esta é a sua missão de vida.

“Além da desinformação, as pessoas acreditam ainda que o corpo do doador irá ficar deformado para o funeral e enterro, coisa que não acontece. Por isso realizamos o trabalho gratuito de conscientização em escolas, hospitais e outros locais. Atuamos também com o convencimento dos familiares para doação após morte encefálica”, relata.

Wilma acredita que o caso do apresentador Fausto Silva, que passou por transplante de coração no último mês para tratar um quadro de insuficiência cardíaca, deu mais visibilidade à causa, e ajudou a ampliar o debate sobre o tema.

Demanda antiga do Ipes, a fundadora luta por um hospital de transplante regional e uma unidade da OPO (Organização de Procura de Órgãos) localizada no Grande ABC. O papel da OPO é viabilizar doadores para o cadastro técnico de pacientes que estão à espera de um transplante. “Se tivermos uma OPO na região, serão 24 horas ininterruptas de serviço em prol dos transplantes”, finaliza. 

PROCESSO DE DOAÇÃO

No Brasil, a doação de órgãos e tecidos só é realizada após a autorização familiar, mesmo que a pessoa já tenha manifestado em vida que pretendia doar seus órgãos.

Em tramitação na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 1.774/2023, de autoria dos parlamentares Fernando Marangoni (União-SP) e Maurício Carvalho (União-RO), prevê a doação presumida de órgãos, ou seja, todo cidadão é um doador em potencial. A pessoa que não deseja doar após a morte teria de deixar a informação registrada em um documento oficial.

SUS faz 90% dos transplantes no País, diz médico

O Brasil é o segundo maior transplantador do mundo, atrás apenas dos EUA (Estados Unidos). O SUS (Sistema Único de Saúde) é responsável por 90% dos transplantes que são realizados no País, afirma Henrique Carrascossi, médico nefrologista, especialidade responsável pelo diagnóstico e tratamento clínico das doenças do sistema urinário, em especial o rim.

A fila para o transplante de órgãos é gerida pelo SNT (Sistema Nacional de Transplantes), do Ministério da Saúde, a todos os pacientes – mesmo aqueles atendidos pela rede privada. Regionalmente, são as centrais estaduais de transplantes que controlam para quem vai cada órgão doado.

O médico explica que existem dois tipos de doadores, os falecidos, que tiveram diagnóstico confirmado de morte encefálica, e os vivos, aptos a doar um dos rins, partes do fígado, da medula ou dos pulmões, desde que haja compatibilidade sanguínea e o procedimento não comprometa sua própria saúde.

A lista para transplantes é única e vale tanto para os pacientes do SUS quanto para os da rede privada. A fila de espera por um órgão funciona com base em critérios técnicos, entre eles o estado de saúde do paciente, ou seja, são atendidos com prioridade aqueles que estiverem em estado crítico.

“Cada órgão tem sua especificidade. No caso do rim, por exemplo, ele pode ser transplantado em até 24 horas, e a lista é por compatibilidade do doador. Então, após a morte do doador, os exames dele são cruzados com a central de transplantes e automaticamente o sistema mostra os mais compatíveis. Essas pessoas são chamadas e passam por exames para saber quem está em condição clínica para receber o órgão”, diz o médico.

Carrascossi pontua que o rim é o órgão mais transplantado no País. Segundo dados do SNT, de janeiro a junho deste ano, foram realizados no País 2.900 transplantes de rim, seguido por fígado (1.100), coração (206), pâncreas e rim (47), pulmão (37), pâncreas (13) e multivisceral (1).




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