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Teatro direto na fonte
Luís Felipe Soares
Especial Para o Diário
04/10/2008 | 07:00
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Mais do que representar problemas sociais, é preciso vivenciá-los. A Cia. Estável de Teatro, formada por ex-alunos da Fundação das Artes de São Caetano, se instalou por mais de dois anos no espaço Arsenal da Esperança, casa de acolhida de São Paulo, e lá acompanhou de perto as difíceis histórias dos moradores de rua que passaram pelo local.

O fruto de toda essa pesquisa é o espetáculo teatral Homem Cavalo & Sociedade Anônima, que estréia neste sábado no próprio abrigo. "O espetáculo lá dentro faz muito mais sentido", diz a diretora Andressa Ferrarezi. O grupo realizou todo o processo dentro de seu projeto Vagar Não é Preciso. As sessões ocorrem aos sábados e domingos, sempre às 19h, e seguem até o dia 30 de novembro. As entradas são 1 kg de alimento não-perecível.

"É uma peça toda fragmentada. Durante o nosso estudo, ficamos diante de diversos problemas e histórias e quisemos amarrar essa trama de alguma forma", explica Andressa, acrescentando que algumas pré-estréias já ocorreram apenas para os albergados.

A história coloca em questão temas como o trabalho, a moradia e o consumo. As cenas costuradas se desenvolvem em torno da fábula do Homem Cavalo, que é contratado pelo Senhor Patrão para puxar suas carroças. "Trabalhamos a brutalização do personagem na forma de animal. Ele deve acordar e voltar para suas duas patas e sua realidade como ser humano."

A convivência e a rotatividade dos moradores da casa continuará a influenciar as apresentações do grupo. Apesar do roteiro estar pronto, algumas cenas podem mudar devido a novas informações adquiridas.

Ambientada ao ar livre, em meio ao conjunto de prédios que compõem o Arsenal da Esperança, a peça não ocorre em dias de chuva. "Estamos ansiosos pela estréia e torcendo para que não chova", brinca a diretora.

Apesar do título apontar uma dualidade, a diretora acredita que todos temos características das duas facetas. "Todos nós somos um pouco dos dois. Representamos a sociedade anônima, que reproduz essa classe dominante e não enxerga o que ocorre a sua volta, e também somos o Homem Cavalo, já que vendemos nosso trabalho e nosso esforço."

A Cia. Estável é um coletivo, ou seja, todas as responsabilidades são distribuídas para todos. Durante a entrevista ao Diário, Andressa estava tingindo em sua casa algumas roupas do figurino.

Fundado em 2001, o grupo tem se destacado pelo trabalho de criação em conjunto com a comunidade na qual está inserido. Entre suas peças estão montagens como Flávio Império - Uma Celebração da Vida (2002) e O Auto do Circo (2004).

Além das peças teatrais, a companhia desenvolve o fanzine - uma publicação própria - Território, produzido para registrar opiniões e pensamentos dos acolhidos. O seu segundo volume será lançado junto com o novo espetáculo.




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