Empresários de Mauá começam a calcular o peso de um reajuste de 69% nas contas de água nos custos de produção. Embora ainda seja cedo para dimensionar de forma precisa o impacto da decisão no setor produtivo, tanto grandes quanto pequenas indústrias já prevêem redução de investimentos, remarcação de preços e, a longo prazo, adiamento de novas contratações. Medidas que, segundo eles, serão inevitáveis para compensar o aumento das despesas.
Segunda-feira, a Justiça derrubou, a pedido da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), liminar (decisão provisória) que garantia à Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá) pagar à companhia estadual apenas R$ 0,39 pelo m³ de água – com a suspensão da liminar, o preço passará a quase R$ 0,66. A sentença foi assinada em 17 de julho pela 7ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, baseada no IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado) do período. A Sama recorreu nesta terça à Justiça para tentar impedir o aumento. Segundo a Sabesp, Mauá é o maior devedor entre as seis autarquias de saneamento da Grande São Paulo. A dívida chega a R$ 632,8 milhões.
O Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Santo André – que também responde por Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra – já prepara um contra-ataque jurídico, na tentativa de barrar o repasse integral às indústrias do município.
“Faremos o que puder ser feito. Além causar um impacto extremamente negativo ao setor produtivo local, o aumento das contas em índice tão elevado abre um perigoso precedente que pode contaminar toda a região”, avalia José Jaime Salgueiro, diretor-titular do Ciesp Santo André e diretor da Resiplastic, empresa de resinas plásticas de Mauá.
O clima de tensão também atinge o setor industrial em Santo André e Diadema. Embora a decisão ainda não seja aplicável a outros municípios, o reajuste deve se estender às demais autarquias municipais de saneamento do Grande ABC nas próximas semanas.
Segundo o Ciesp de Santo André, os setores mais afetados pelo reajuste são exatamente os pivôs da economia local. “As empresas que utilizam a água na base do processo sentirão mais. É o caso das indústrias de refrigeração, química, petroquímica e de transformação de vários produtos, nas quais a água chega a 5% do custo total de produção. O mais preocupante é que são estas que mantêm aquecida a produção industrial de Mauá”, completa Salgueiro.
As empresas que compõem o Pólo Petroquímico não se manifestaram oficialmente em relação ao aumento das contas de água nem divulgaram o impacto do reajuste na produção. No entanto, o gerente de projetos da PQU (Petroquímica União) Jorge Rosa, que também é representante da indústria petroquímica na Agência de Desenvolvimento Economico do Grande ABC, garantiu que a decisão reforça a idéia de que o Pólo precisa acelerar os processos de implementação de políticas de utilização de água de reúso.
“Ainda é cedo para concluir como esse aumento vai impactar o setor. Sabe-se, porém, que terá um efeito razoável. O custo de água no Pólo chega a ser tão significativo quanto o de energia elétrica. De qualquer maneira, certamente haverá resultados negativos de pronto, a médio e longo prazos.”
O empresário Nelson Bellotti Júnior, diretor da Polibel Indústria de Peças Plásticas, de Mauá, confirma que o aumento na conta de água vai pressionar de imediato o preço final dos produtos. “Parte do custo obrigatoriamente será repassado ao consumidor final. Mas outra parcela teremos que assimilar, reduzindo ainda mais a já achatada margem de lucro”, diz Bellotti. A Polibel utiliza grande volume de água para produção e reciclagem de plásticos, segundo ele.
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