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Em Rio Grande, 35 afegãos têm acolhimento de ONG

Refugiados precisaram sair do país por perseguições étnicas, religiosas ou políticas; entidade funciona há 15 anos na região

Beatriz Mirelle
06/08/2023 | 07:02
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André Henriques/DGABC


Em uma estrada de terra, a 15 minutos do Centro de Rio Grande da Serra, está a ONG (Organização Não Governamental) Aprisco. No trajeto, pontos de ônibus feitos de concreto e pintados de tinta amarela, água disponível para ser retirada nas bicas, chácaras afastadas umas das outras, cavalos, galinhas, mato alto e carros abandonados são alguns dos tantos elementos que podem ser observados na viagem. Mesmo com orientação de como seria o caminho, é apenas no momento que o sinal do celular desaparece e o mapa do itinerário disponível por aplicativo para de funcionar que se confirma que o destino está próximo.

Logo na entrada da ONG, é possível ver as casinhas feitas de materiais recicláveis ou de itens de doação. Em um espaço extenso com acomodações, capela e outras áreas comuns, 35 refugiados são abrigados pelos voluntários da entidade social. A maioria vinda do Afeganistão, devido a saída forçada do país, motivada por perseguições religiosas, étnicas ou políticas.

“Já atendemos 210 afegãos. Antes, alguns sírios. Há uma perseguição religiosa em várias partes do mundo. Temos aqui os pashtuns, hazaras e tadjiques – três das quatro etnias mais conhecidas do Afeganistão. Os hazaras sofrem com uma tentativa de ‘limpeza étnica’ que está acontecendo no país e também porque eles são xiitas em um local de sunitas. Tentamos manter os costumes deles. Nossa prioridade é respeitar as crenças e diferenças de cada um”, detalha Edson Carvalho, 59, responsável pela ONG, que funciona há 15 anos e desde 2021 disponibiliza as acomodações.

Com essa pluralidade, a adaptação nem sempre é fácil, ainda mais com culturas e idioma tão diferentes como no Brasil. Por isso, além do acolhimento, a ONG oferece aulas de português, cultura brasileira, piano, música, noções trabalhistas, marcenaria e carpintaria. Também vacinam e regularizam as documentações deles. A partir da formalização como refugiados, eles têm direito a recursos, como o Bolsa Família. “Se isso não é feito, eles são considerados imigrantes, como se tivessem saído do país de origem por questões econômicas ou por buscarem uma ‘vida melhor’, o que não é o caso. O refugiado não tem opção de ficar. Ele sai porque corre risco de morte. Damos o máximo de apoio possível para que eles se tornem independentes de novo.”

Segundo Carvalho, os refugiados ficam por até cinco meses na ONG. Depois, são “adotados” por outras entidades, igrejas e o Rotary Club por mais um ano, em que recebem ajuda com aluguel e na integração com a comunidade. “Depois desse período, eles têm que caminhar sozinhos. O português é uma barreira. Eles falam persa ou línguas que variam conforme a etnia. Aqui, precisam reaprender tudo. A maioria das mulheres é analfabeta porque elas não podiam estudar.”

Nesse processo de devolver a autonomia deles, Carvalho alerta que o preconceito no mercado de trabalho é um entrave. “Eles estão no Brasil justamente fugindo da radicalização. São pessoas incríveis, extremamente inteligentes, geralmente falam três ou quatro idiomas e estão dispostas a aprender. Mesmo assim, as empresas recusam por pura discriminação.”

Joana (nome fictício usado por questão de segurança), 23, veio ao Brasil em abril com a mãe e duas irmãs para fugir do extremismo político causado pelo Talibã. Questionada sobre os desafios enfrentados nesse período aqui, ela garante que não há dificuldades. “Lidamos bem com as diferenças culturais. O Brasil tem muita diversidade. Cada família tem suas diferenças, problemas e realidades. Na ONG, as pessoas são tão gentis e acolhedoras. Elas nos ajudam em tudo.” Para o futuro, a jovem almeja fazer faculdade. “As mulheres têm direitos no Brasil. Elas são poderosas e isso me inspira. Quero estudar português e ser médica. Tenho certeza que isso se tornará verdade.”

Ao todo, de forma fixa, são cinco voluntários na Aprisco. Outras pessoas ajudam conforme disponibilidade. Moradora da ONG desde abril, Solange Palacios, 23, veio de Chaco, na Argentina, e ensina português três vezes na semana aos afegãos. “Fiz uma especialização em missiologia na igreja e vim colocar os ensinamentos em prática. A experiência é muito boa. Muitas vezes a gente não dimensiona o quanto que o povo padece por conta das perseguições e dos problemas no País. Então, ficar entre eles é muito enriquecedor para mim”, diz Solange, que também dá aulas de piano.

Instituição sobrevive com 100% de voluntariado

A ONG Aprisco também desenvolve ações à comunidade geral, como o Skatescola, que introduz pessoas de 5 a 18 anos ao esporte; a banda Primeiros Acordes, em conjunto com a Cristo Rei, entidade da igreja católica da região; e o Projeto Servir, que atende quilombolas, ribeirinhos e indígenas em viagens humanitárias, principalmente ao Norte e Nordeste, com psicólogos, enfermeiros, médicos e outros profissionais.

“Só trabalhamos com voluntariado. Queremos ser parte da solução do nosso País e sabemos que a sociedade civil organizada pode muito. A Aprisco é um agrupamento de pessoas que colocam suas expertises em prol do próximo. Aqui, formamos uma família”, diz Edson Carvalho, responsável pela ONG.

A entidade precisa de todo tipo de doação para se manter, como alimentos, roupas, calçados e materiais de higiene pessoal. Para o futuro, desejam construir jardim terapêutico e horta para que os afegãos possam ter outras atividades para se dedicar. Com isso, precisam de pó de pedra e mão de obra para a construção. O contato pode ser feito pelo Instagram (@ongaprisco) ou (11) 4826-2053.<TL>BM  
 




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