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Pai constrói casa acessível para filho cadeirante
Aline Mazzo
Do Diário do Grande ABC
04/11/2006 | 19:59
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Após pesquisar vários tipos de imóveis, o sociólogo Luis Soares da Cruz, 51 anos, percebeu que só conseguiria um lar acessível para seu filho Flávio – que sofre de distrofia muscular e anda com ajuda de cadeira de rodas há 11 anos – se ele fosse feito sob medida. “Percorri vários apartamentos e até casas, mas todos precisavam de muitos ajustes, pois as medidas padrões excluem as pessoas com necessidades especiais”, observa.

Diante disso, a decisão foi comprar um terreno de 200 m² com uma casa antiga, próximo ao Centro de São Bernardo. A primeira idéia foi adaptar a residência, mas como ele buscava a acessibilidade plena do imóvel para Flávio, resolveu demolir a casa e começar do zero.

Luis procurou alguns arquitetos especializados em acessibilidade para desenvolver um projeto, mas levou um susto. “Chegaram a me cobrar R$ 1,2 mil por m²”, fala. Como não tinha esse dinheiro, Luis, juntamente com Flávio e a esposa Sandra, colocaram no papel as necessidades do filho e as normas de adaptação para cadeirantes e desenvolveram a casa em que moram desde maio desse ano.

A primeira providência foi não deixar desníveis no piso. Até a soleira das portas são bem encaixadas no chão, para não interferirem na circulação de Flávio. Já as portas são bem largas, para que a cadeira passe com folga. “A porta mais estreita tem 90 centímentros de largura”, diz Luis. A passagem da sala para os quartos e a cozinha também acontece sem problema, graças aos corredores espaçosos.

Os quartos, assim como os banheiros, são grandes, para que a cadeira possa girar sem problemas. “Preferimos fazer menos cômodos e dar mais conforto ao Flávio”, explica. As pias estão na altura correta para que possam ser utilizadas e não possuem armários ou bancadas, o que permite a entrada da cadeira de rodas.

Na cozinha, a mesa também foi escolhida a dedo para viabilizar o acesso de Flávio. “Andávamos de loja em loja medindo a altura para ver se cabia a cadeira”, relembra Sandra, que apesar de não ser mãe de Flávio, toma a causa da acessibilidade como se fosse sua.

No quintal dos fundos, existe uma varanda que é um dos lugares preferidos do rapaz. De lá é possível conversar com os vizinhos e ver o movimento da rua. “Ganhei muita liberdade quando mudamos para cá. Tem mais espaço e posso andar por toda a casa”, comemora Flávio.

Para chegar à garagem, outra rampa que circunda o jardim (ainda não finalizado) facilita o acesso. “Ele pode entrar e sair de casa e ir até a garagem sem a nossa ajuda”, confidencia Luis. Na hora de sair, um carro adaptado pelo pai garante a independência de Flávio. “Eu comprei um carro estilo picape e projetei essa cobertura que o transforma num furgão. Ele ainda tem duas rampas removíveis que permitem a subida e descida da cadeira”, detalha Luis.

Mas mesmo com tanto esforço, é só sair do portão para fora para se deparar com a falta de acessibilidade. “Para dar uma volta no quarteirão tenho que ficar no meio dos carros, porque a rua é uma descida e as calçadas possuem degraus”, lamenta Flávio, que ainda sonha andar pela cidade e freqüentar vários os lugares sem impedimentos físicos.

Depoimentos

- Sua mãe Maria Mota Campos, 74 anos, não enxerga de um olho e quase não anda. Seu filho, Anderson Alves Campos, 14, tem microcefalia e não sai da cadeira de rodas. Mesmo assim, a dona-de-casa Kátia Alves Campos é a mais falante e animada do grupo. “Tenho dificuldades, sim, mas Deus me dá alegria, força e esperança para seguir adiante. Quero dar uma vida boa à minha família e sonho em achar uma saída para me comunicar com meu filho. Esses passeios ajudam bastante. Parece que ele me mostra que quer participar.”

- Faltou oxigênio a Carolina Pereira dos Santos, 7, na hora do parto. A deficiência causou paralisia cerebral e a deixou surda-muda. As conseqüências são notadas no dia-a-dia. “É muito difícil lidar com ela. Às vezes está alegre, às vezes triste, às vezes irritada. Mesmo assim, não posso desistir e insisto para que ela participe dos passeios do projeto Andanças. Hoje deu tudo certo e ela pôde conhecer os peixes, graças a Deus”, diz a mãe Euza Pereira, 41.

- O guardião da alegria chama-se Francisco Bernardo da Silva. Responsável pelo acesso dos deficientes aos locais de visitação, o Chicão é o anjo da guarda dos adolescentes e o principal ajudante dos familiares. “Ele possibilita nosso passeio. Carrega as cadeiras de rodas e, quando precisa, pega nossos filhos no colo. Meu pequeno Vinícius Ferreira Silva, 8, está aqui graças a essa estrutura. Sozinha não conseguiria trazê-lo”, afirma a mãe Débora Ferreira, 30.



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