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'Máfia do Óbito' agiu também em Sto.André
Arthur Lopez
Do Diário do Grande ABC
30/07/2005 | 08:06
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O cardiologista Eduardo Agostini já foi indiciado em 2004 por falsificar atestados de óbito. O médico, ex-vereador em São Caetano, responde a processo na 4ª Vara Criminal de Santo André por esse crime. O delegado Marcelo Bianchi Fortunato, que presidiu o inquérito no ano passado, diz que as conexões do médico com outras empresas funerárias e com aliciadores nos hospitais também podem configurar a formação de quadrilha. Dia 20, Agostini foi flagrado pelo Diário falsificando um documento de óbito, pelo qual cobrou R$ 200.

Segundo o delegado, esse tipo de crime não se limita a São Caetano, mas tem expansão por todo o Grande ABC. Na denúncia do ano passado, o cardiologista teria assinado um documento atestando um óbito ocorrido em Santo André. "Cheguei a sugerir a prisão de Agostini porque não tínhamos a idéia do quanto é grande esse esquema", revela Fortunato, que hoje é delegado-titular em Rio Grande da Serra. Quando indiciou Agostini por falsidade ideológicas, Fortunato trabalhava no 2º DP de Santo André. A quadrilha envolve médicos, empresas funerárias e funcinários de hospitais. "Como eles têm acesso às guias que são numeradas e controladas?", questionao policial.

De fevereiro de 2004, quando foi aberto inquérito em Santo André, ao flagrante registrado e denunciado pelo Diário, Agostini teria aplicado 33% de aumento no preço por declaração falsa de óbito. No caso investigado pela Polícia andreense, o médico cobrou R$ 150. Na semana passada, o preço foi de R$ 200, para o repórter que se passou por sobrinho de um aposentado que teria morrido em Ribeirão Pires.

Desmascarado - A investigação do ano passado começou a partir da atuação do comerciante Marcelo Foltran - indiciado junto com o médico Agostini -, ao oferecer um plano de sepultamento a uma família em Santo André, cujo parente tinha acabado de morrer no Hospital Municipal. Além do plano, ele teria cobrado R$ 150 para agilizar a liberação do corpo, o que seria feito com o atestado falso assinado pelo cardiologista. "Anexamos ao processo uma cópia do cheque usado para pagar o médico", lembra o delegado.

O momento crucial para o indiciamento de Agostini aconteceu quando, ao depôr, Agostini disse ao delegado que a mulher, cuja morte foi atestada por ele em um documento falso, era sua paciente havia dois meses. "Ele não sabia que essa mulher tinha se mudado do Nordeste havia 15 dias", conta Fortunato.

O delegado recorda que logo depois de saber que poderia ser indiciado, Agostini utilizou o mesmo argumento de agora, publicado no Diário. "O médico disse que não iria se sujar por R$ 150."

O inquérito foi instalado no dia 18 de fevereiro de 2004 e o indiciamento aconteceu em setembro do mesmo ano com Agostini sendo acusado de falsificação de documento público (artigo 297 do Código Penal). O comerciante indiciado no mesmo inquérito, Marcelo Foltran, é acusado de falsidade ideológica (artigo 299). O processo foi encaminhado à Justiça um ano depois, ou seja em dia 11 de fevereiro deste ano.

Para o delegado, a facilidade dessas quadrilhas agirem acontece pelo desconhecimento de grande parte da população sobre o encaminhamento dado ao cadáver logo após a morte natural em casa, por exemplo. "O corpo tem de ser levado para o SVO (Serviço de Verificação de Óbito)", explica Fortunato. "É preciso saber se não foi homicídio ou se a pessoa tinha alguma doença contagiosa." Por desconhecimento, os familiares querem evitar uma autópsia e ficam à mercê de aliciadores.




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