Em ano de Copa do Mundo, quem também dá bola é a literatura voltada para o futebol. A cada quatro anos, há um considerável número de lançamentos de livros sobre o tema, desde biografias de craques e treinadores até obras sobre administração, sociologia e legislação do principal esporte do planeta. Foi assim na 19ª Bienal Internacional do Livro, encerrada ontem no Pavilhão de Exposições do Anhembi, e assim será pelo menos até o início do Mundial da Alemanha, em agosto.
Mesmo que haja leitura para todos os gostos de torcedores, os títulos sobre a Copa e os seus protagonistas merecem atenção à parte. Como Ronaldo, a Jornada de um Gênio, de James Mosley (Verus Editora), que mostra a trajetória um tanto atribulada do atacante do Real Madrid e da Seleção Brasileira, o que inclui os problemas dentro e fora do gramado, como um ídolo do futebol globalizado e cada vez mais voltado para os ganhos da indústria do entretenimento.
Se o leitor preferir a associação foto-texto, surge a alternativa de Brasil, um século de futebol, arte e magia (Editora Aprazível). São 180 fotos em 204 páginas, acompanhadas do texto de João Máximo, um dos mais consistentes e criativos entre os cronistas esportivos.
Ainda na linha Copa do Mundo-torcedor, o número mais célebre de um time de futebol também virou opção de leitura no período pré-Alemanha. A Magia da Camisa 10, de André Ribeiro e Vladir Lemos (Verus Editora). Como o nome sugere, a obra revela as faces de um camisa 10, número que se incorporou à maioria das celebridades da bola, como Pelé, Maradona, Zidane e Ademir da Guia, entre outros craques.
Realidade – Fora do tema Mundial, há também a opção por livros que resvalem para o cotidiano de jogadores que não alcançaram o êxito. Alguns, transformados em contos, como O Paraíso é Bem Bacana, de André Sant'Anna (Companhia das Letras), sobre um brasileiro desconhecido, que adotou o nome de guerra, Muhammad Mané, perfeita analogia à vida de dois mitos – o boxeador Muhammad Ali e o bicampeão Mané Garrincha – e que relata a sua ida para o futebol alemão em busca do sucesso mas que, na vivência diária, vira experiência pontilhada por dificuldades.
O jornalista Paulo Guilherme lançou Goleiros – Heróis e Anti-Heróis da Camisa 1 (Editora Alameda) que, como o nome diz, mostra a vida dos profissionais da bola sob o gol. Do goleiro fala-se, por exemplo, que "onde pisa, não nasce grama", definição que por si só vale como referência para o conhecimento de seu cotidiano singular.
Em Coadjuvantes (Gustavo Piqueira, Martins Fontes), a estiagem de títulos palmeirenses, de 1976 a 1993, é personificada no cotidiano do torcedor comum, que chegou à vida adulta no acompanhamento de humilhações constantes até a histórica vitória sobre o Corinthians. Afinal, o anônimo de arquibancada pode ser tão herói quanto o craque dos gramados. Ele pode, quem sabe, tornar-se ao menos um craque das letras.
Temas densos são lembrados
Se o leitor quiser escapar do clima pré-Copa ou mesmo abrir mão dos contos e ficção relacionados ao futebol, pode partir para uma leitura mais densa, de temas certamente polêmicos. Entre os lançamentos de 2006, estão Cartão Vermelho, do ex-árbitro Edílson Pereira de Carvalho (Mundo Editorial), e Torcidas no Futebol – Espetáculo ou Vandalismo, de Fábio Cunha (Editora Scortecci).
No livro lançado na última quarta-feira, sob o temor da reação do público freqüentador da Bienal do Livro, Edílson revela bastidores da arbitragem, ele que foi o principal protagonista do escândalo da arbitragem de 2005, conhecido como Máfia do Apito. Na coletiva de lançamento, o ex-árbitro já minimizara as revelações, limitadas a acusações contra Armando Marques, ex-presidente da Comissão de Arbitragem da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e o vice-presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol), Reinaldo Carneiro Bastos.
O escândalo da arbitragem provocou a anulação de 11 partidas do Campeonato Brasileiro de 2005, o que teve influência marcante na classificação, sobretudo na definição do título, conquistado pelo Corinthians.
Torcidas – Uma face há pelo menos 15 anos obscura no futebol, desde as primeiras mortes por conflitos entre torcedores, é mostrada em Torcidas no Futebol – Espetáculo ou Vandalismo. O autor, Fábio Cunha, coloca em discussão a inclinação de alguns torcedores partirem para agressões violentas por estar em grupo, além de os grupos organizadores sofrerem a infiltração de vândalos, caminho aberto para a consumação de tragédias.
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