Setecidades Titulo Grupo com 17 pessoas
Surdocegueira é tema de estudo na Metodista

Doutora em educação pela universidade amplia debates sobre comunicação háptica

Beatriz Mirelle
Do Diário do Grande ABC
07/04/2023 | 08:29
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André Henriques/DGABC


Elaine Gomes Vilela, doutora em educação pela Umesp (Universidade Metodista de São Paulo), dedicou boa parte dos estudos para a comunicação de pessoas surdocegas. Professora de libras (Língua Brasileira de Sinais), ela formou um grupo de estudos para pesquisar sobre a comunicação social háptica, ramo que utiliza o toque em partes do corpo, como costas e braços, para realizar sinais e descrições que transmitam informações visuais e auditivas para efetivar o contato com surdocegos. Segundo ela, ainda há poucas referências de estudos para esse público em comparação a outros tipos de deficiência. Ao todo, o grupo já conta com 17 intelectuais.

Existem inúmeras possibilidades de comunicação entre surdocegos. Elas possuem características distintas que contemplam as especificidades de cada pessoa, já que a deficiência pode ser congênita (de nascença) ou adquirida (veio em alguma fase da vida). “Para o surdo que se tornou surdocego, é utilizada a libras tátil. A pessoa com deficiência segura a mão do intérprete enquanto ele sinaliza. A partir dessa interação, é possível entender quais são os sinais ditos. Se a pessoa enxergava e ouvia, ela pode aprender braile ou libras tátil, assim como o tadoma. Nele, o surdocego coloca a mão nas cordas vocais de quem está falando e, pelas vibrações, entende o que é dito. A pessoa tem que desenvolver a comunicação que for melhor para ela”, detalha Elaine. 

A professora destaca que o surdocego não é, necessariamente, aquela pessoa que não enxerga e não ouve nada. “Pode ser que ele tenha resíduos visuais e auditivos, mas continua sendo surdocego por ter essa perda sensorial concomitante da audição e visão.” Para ela, estudar o tema é possibilitar que a inclusão seja mais completa e reforça que idosos são um exemplo. “Com a idade, as pessoas começam a ter essas perdas. Debater isso possibilita que elas não fiquem isoladas.”

Elaine explica que a comunicação social háptica, linha de pesquisa do grupo da Umesp, não se trata de uma língua nacional, como a libras. “No Brasil, ela complementa a comunicação que o surdocego já utiliza. Por exemplo, a libras tátil traz dados sobre o que é falado, enquanto, na comunicação social háptica, você pode trazer ao surdocego elementos visuais, mapeamento de espaço e informações rápidas a partir de toques nas costas da pessoa. Em países como a Finlândia, ela é uma língua, com estrutura linguística e gramática completa. Os estudos do grupo buscam reconhecê-la como língua aqui no Brasil também. É um trabalho a longo prazo, mas essencial para difundir mais conteúdos sobre surdocegueira”, analisa.

O grupo surgiu no final de 2021, após Elaine fazer dois cursos com Rita Lahtinen, criadora da comunicação social háptica. “Percebi que precisávamos nos aprofundar. Conversei com a minha orientadora do mestrado e decidi formar o grupo. Elaborei a ementa e chamei alguns participantes”, recorda. 

O grupo possui representantes de outros Estados brasileiros, como Minas Gerais e Curitiba, assim como a criadora desse tipo de comunicação. “O Fernando Capovilla, que fez o Dicionário de Libras, demorou, em média, 20 anos para terminar. Nosso trabalho visa desenvolver a comunicação social háptica como uma língua adaptada às culturas brasileiras”, projeta. 

A professora afirma que os estudos do GEPICSH (Grupo de Estudos e Pesquisas em Inclusão e Comunicação Social Háptica) também podem ser usados para pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) que não fazem contato visual ou para pessoas cegas. 




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