Parlamentar falou sobre a situação do Congresso neste ano, a gestão presidencial passada, entre outros assuntos
Reeleito com 143.434 votos, o deputado federal Cezinha de Madureira (PSD) disse que, passados quase 100 dias do novo governo federal, ainda não enxerga uma marca da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para ele, o petista está “governando com o fígado” e distante do diálogo com o Parlamento para formar a base. Sobre Jair Bolsonaro (PL), o deputado acredita que o extremismo de alguns aliados o prejudicaram na busca pela reeleição. “Isso cooperou para o Bolsonaro errar. Mesmo com a pandemia, ele seria reeleito”, disse, em visita à sede do Diário nesta segunda-feira (27).
Falando sobre a política do Grande ABC, Cezinha elogiou o prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), a quem ele considera “um dos grande líderes políticos do Estado”. Ligado à igreja Assembleia de Deus Ministério de Madureira, o parlamentar não descarta a possibilidade de disputar o Senado em 2026, caso este seja o desejo do grupo do qual faz parte.
Há quem diga que o Congresso atual ficou mais conservador que o anterior. Qual sua avaliação?
Temos um País que está dividido. Já estava na eleição de 2018 e continua agora. Atribuo isso ao extremismo. Se não fosse o extremismo de algumas pessoas que acompanharam o governo anterior, nós teríamos uma eleição diferente, no mínimo com 60% da população votando em um candidato de direita. Mas o extremismo acabou fazendo com que nós deixássemos o País dividido. Temos observado os novos deputados e senadores eleitos pela direita e centro-direita, e vemos que temos número grande de conservadores, mas que não são extremistas, que trouxeram muita discórdia desnecessária. Ainda é cedo para fazer uma avaliação, porque o Parlamento está começando agora, depois da montagem das comissões.
Nesse sentido, o sr. enxerga que houve erros da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro?
Um dos primeiros erros do governo anterior foi não dialogar com o Parlamento, e nós estamos em um País democrático. Quando o Executivo não quer conversar com o Legislativo, tem alguma coisa errada. Não vivemos em uma monarquia, em um País com ditador. Há uma pluralidade de partidos, que vem diminuindo ao longo dos anos, porque, de fato, nenhum governo consegue conversar com 30 líderes. Hoje há 14 ou 15 sobrevivendo e deve diminuir um pouco ainda. O governo que não dialoga com o Parlamento tem dificuldades.
Então o sr. concorda com a tese de muita gente que diz que não foi Lula que ganhou, mas sim Bolsonaro que perdeu?
É isso mesmo. Mesmo com os destroços da pandemia, houve uma catástrofe brasileira da forma como foi tratada. O Mandetta (Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde) teve um erro muito grande, que foi em não fazer o presidente acertar naquele momento. Bolsonaro é um homem do bem, porém a forma com que se expressava poderia ter sido orientada por um técnico. Isso cooperou para o Bolsonaro errar. Mesmo com a pandemia, ele seria reeleito, mas o extremismo, com Roberto Jefferson, Carla Zambelli, entre outros, fez com que Bolsonaro perdesse a eleição.
O sr. acha que ele ainda segue como a maior liderança da oposição?
Hoje a oposição ao governo Lula está sendo o próprio PT. Não temos oposição ainda porque os grandes debates ainda não começaram. Bolsonaro é um líder de direita, que é estrategista. Hoje eu voto em qualquer projeto que seja bom para o País, seja de esquerda ou direita. E o Bolsonaro tem o jeito próprio de pensar. Ainda não conseguimos identificar a liderança de Bolsonaro no Congresso de oposição, porque é necessário estar reunido para dialogar e fazer o enfrentamento. A direita precisa disso. E acredito que o Bolsonaro esteja se preparando para ser esse líder.
Que avaliação o sr. faz dos quase 100 dias do governo Lula?
Ruim. O governo Lula ainda não mostrou a que veio. Ele está governando com o fígado. E está fazendo a mesma coisa que Bolsonaro fez antes, com guerra, esbravejando. Lula precisa dialogar com o Congresso. Deu um monte de ministério, mas aparentemente ainda não tem voto. Estamos esperando as primeiras medidas provisórias serem distribuídas no Congresso. Para esses 100 dias não consigo ver algo palpável, o governo ainda não tem uma marca. Tem que parar com esta história de fígado. O País precisa de paz.
Como o PSD vai atuar no Congresso, ainda que tenha o comando de três ministérios?
O PSD no Senado tem dois ministérios (Minas e Energia e Agricultura) e a Câmara não tem, porque o da Pesca é apenas uma autorização para o ministro (deputado federal André de Paula) usar avião da FAB (Força Aérea Brasileira), porque não há espaço para os deputados. Quando um político é contemplado? Quando ele tem espaço, que é legítimo, no governo. É o parlamentar, que lá na ponta, conversa com o eleitor. Por isso precisa ter espaço. Dessa forma, no governo Lula o PSD da Câmara, com mais de 40 deputados, não tem espaço. Mesmo assim, estamos acreditando que esse espaço vai existir, para que a gente possa ajudar o presidente Lula a governar o Brasil.
Em existindo espaço, o PSD pode ingressar oficialmente na base?
Hoje o PSD é tido como base, porque tem dois senadores no governo. O Carlos Fávaro (ministro da Agricultura) é um senador de ponta. O Alexandre Silveira (ministro de Minas e Energia), que perdeu a eleição em Minas Gerais, também. Mas é necessário atender a base no Parlamento. Se atender, o partido vai estar com o governo.
No caso de São Paulo, qual sua avaliação da gestão do governador Tarcísio de Freitas?
O PSD foi muito importante para a vitória do Tarcísio. Tínhamos um cenário polarizado. Ou ganhava alguém do Lula ou ganhava alguém do Bolsonaro. E quando veio o PSD para dentro da campanha, fez diferença, porque o Gilberto Kassab (atual secretário estadual de Governo) é um gênio da política brasileira. Ele se somou ao Tarcísio e eu, que já estava desde o início. Kassab conversou com mais de 500 prefeitos no primeiro turno. Isso trouxe uma base política importante. No caso do Litoral Norte, Tarcísio agiu muito bem. Agora precisamos ver a relação com a Assembleia Legislativa, que mudou a legislatura no dia 15 de março. Ele governou 40 dias com a Assembleia antiga. É importante que Tarcísio faça a boa política para ter um bom governo.
Em dezembro de 2021, o sr. esteve em São Caetano, na posse do prefeito José Auricchio Júnior (PSDB), que assumiu após resolver problema jurídico no TSE. Qual sua avaliação da gestão dele?
A gente acompanhou várias posses no Estado. No Grande ABC, o prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), veio de uma turma diferente do PSDB, que vê a alternância como algo bom para a população e que tem mais de 80% de aprovação dos moradores. É um dos grandes líderes políticos do Estado de São Paulo. A gente observa que onde tem PSDB da velha guarda, com costumes antigos, de achar que só o partido pode fazer as coisas, precisa ter mudança.
Isso inclui São Caetano?
Inclui todas as cidades do Estado com prefeitos com essa visão.
Após a reeleição na Câmara, como o sr. enxerga seu futuro político?
Meu nicho de voto é a Assembleia de Deus Ministério de Madureira. E o Samuel Ferreira me escolheu para ser um político da igreja. Fui deputado estadual e, em 2018, fui eleito federal. É lógico que nosso grupo político sonha com o Senado, mas para isso é necessário um acordo político, até porque temos de analisar que um cargo de senador não pode ser ocupado por um popstar ou uma onda que apareça. Não pode ser alguém que defenda somente uma causa. Tem de ser alguém atuante para dialogar com o governo e defender os moradores do Estado de São Paulo. Os paulistas precisam renovar os quadros no Senado.
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