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Marias do Grande ABC pedem socorro
Ana Lucia Ferreira Oliveira Meira
09/03/2023 | 06:01
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Sexta-feira, 23 horas.
Maria termina de arrumar algumas coisas na cozinha. O dia não foi fácil. Entre condução e o trabalho, e ainda pegar as crianças na creche, muitas horas de esforço e dedicação. Após voltar para casa tem início o terceiro turno. Agora, o serviço do lar.

Quando se prepara para dormir escuta de longe seu marido bater o portão e entrar brigando com as meninas. Maria corre e ao proteger suas filhas é agredida pelo companheiro, visivelmente embriagado. Tem início, mais uma vez, uma das muitas brigas intermináveis, mas desta vez, para não morrer, Maria pega as crianças e desesperada sai correndo de casa, sem destino e largada à sorte.

Essa história acontece todos os dias em lares brasileiros e, infelizmente, nem sempre as Marias do Grande ABC conseguem fugir. E quando tem a coragem e a providência de escapar, a quem pedir socorro? Onde encontrar segurança para ela e suas filhas?

Uma das saídas são as duas Casas Abrigo, programa existente no Grande ABC, cujo objetivo é garantir a segurança e proteção de mulheres em situação de violência doméstica e familiar, sob risco iminente de morte. O programa abarca mulheres com ou sem filhos por meio de atendimento psicossocial, de saúde, geração de emprego e encaminhamento jurídico.

A qualificação profissional é incentivada por meio de cursos e formações para facilitar a inserção no mercado de trabalho e proporciona atividades culturais para as mulheres e seus filhos e filhas. Desde sua criação, em 2003, são mais de 1.700 mulheres acolhidas e cerca de 2.500 crianças e adolescentes.

Contudo, esse essencial serviço corre risco de acabar, pois as duas unidades são custeadas com recursos do Consórcio Intermunicipal Grande ABC, que por sua vez, recebe aporte financeiro dos sete municípios da região. Entretanto, São Bernardo e São Caetano deixaram de compor o quadro do Consórcio e a preocupação é não haver recursos para manter o serviço, pois estudos da própria entidade apontam que o Programa Casa Abrigo pode perder até 80% da verba destinada.

Como única vereadora na Câmara de Santo André e procuradora titular da Procuradoria Especial da Mulher, já estou atenta a essa questão e estudando saídas para o imbróglio que se avizinha, inclusive com participação do meu mandato em reunião no Consórcio com membros da Frente Regional ABC de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. Envolver os prefeitos das cidades associadas e os deputados e deputadas eleitos e com representatividade no ABC é de extrema importância e urgência. Temos que somar forças e encontra soluções.

O programa, que é referência e já recebeu vários prêmios, deve continuar, ser ampliado e não acabar, pois as Casas são, na maioria dos casos verificados, o divisor entre uma mulher estar viva ou morta.

Ana Lucia Ferreira Oliveira Meira é vereadora por Santo André, titular da Procuradoria Especial da Mulher da Câmara Municipal, mãe e médica veterinária. 




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