Setecidades Titulo Longa espera
Fila por cirurgia eletiva na região tem mais de 11 mil procedimentos

Entre os pacientes, moradora de Santo André espera há um ano para colocar prótese em perna fraturada no Hospital Estadual Mário Covas

Joyce Cunha
13/02/2023 | 06:04
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Fátima Camacho está na fila de espera desde o início de 2022 para fazer a cirurgia (Foto: Claudinei Plaza/DGABC)


Fátima da Silva Camacho, 59 anos, moradora de Santo André, está entre os milhares de brasileiros que aguardam pela realização de uma cirurgia eletiva. No Grande ABC, pelo menos, 11 mil procedimentos cirúrgicos estão represados. O tamanho da fila é maior. O volume apurado pelo Diário na região considera informações disponibilizadas pelas Prefeituras de Santo André, São Bernardo e Mauá – referentes às cirurgias agendadas em unidades municipais – e em Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra – com procedimentos encaminhados a referências estaduais. As Prefeituras de São Caetano e de Diadema e a Secretaria de Saúde do Governo do Estado não forneceram dados à reportagem.

Mais grave do que a falta de transparência são a angústia e a dor de quem espera para conseguir chegar à sala de operação. É o caso da Fátima, que desde 19 de fevereiro de 2022 tenta realizar a terceira cirurgia para reparar fratura no fêmur da perna esquerda. A andreense tem osteogênese imperfeita, doença hereditária que torna os ossos frágeis. Depois de duas quedas em 2021, e, por consequência, duas fraturas na perna esquerda, a moradora foi submetida a duas cirurgias de urgência, uma na Santa Casa de Santo André e outra no Hospital Estadual Mário Covas, em setembro de 2021.

Nesta última, de acordo com relato da paciente, a equipe médica optou pela realização de procedimento paliativo, até que o quadro se estabilizasse para, então, fazer nova cirurgia para colocação de prótese. Poucos meses depois, em fevereiro do ano passado, um dos parafusos utilizados para a fixação do fêmur se desprendeu, provocando o deslocamento do osso e fortes dores. “A cirurgia que preciso fazer é para a colocação de prótese porque não tenho mais uma parte do osso. Fui ao Mário Covas duas vezes. Na primeira, me deram remédio para dor. Não aguentei e voltei. Mas como eu tinha consulta agendada, eles empurram o procedimento. De lá para cá, passo só em consulta. Mandam fazer um exame de cada vez, sendo que estou com o osso quebrado. Meu caso é de urgência”, afirmou a paciente.

Nos últimos dois anos, Fátima não consegue trabalhar. Mal consegue andar dentro de sua própria casa, onde passa grande parte de seu tempo, confinada e se locomovendo com a ajuda de uma cadeira de escritório. “Eu acordo de noite com muita dor e não consigo dormir. Tomo uma cartela inteira de remédio por dia. Perdi musculatura e comecei a ficar debilitada. Já não acredito mais no que eles falam no hospital. É desumano o que eles fazem”, disse.

Sem esclarecer as razões para a demora na cirurgia de Fátima, e nem detalhar os protocolos que deveriam ser seguidos para este tipo de caso, a SES (Secretaria de Saúde do Estado) informou que a cirurgia foi agendada para a segunda quinzena de março. “O Hospital Mário Covas informa que a paciente segue sendo monitorada”, justificou. por meio de nota. Sobre a fila de espera de pacientes do Grande ABC por procedimentos cirúrgicos em unidades estaduais, a pasta afirmou que “estuda medidas estratégicas para ampliar os atendimentos e reduzir a demanda de espera, respeitando os critérios de urgência e emergência”. “No momento, a SES reforça que está trabalhando para identificar e unificar as filas de espera por cirurgia que hoje são descentralizadas, conferindo maior agilidade para o atendimento aos pacientes do Estado”.

GOVERNO FEDERAL LANÇA PROGRAMA PARA REDUZIR A ESPERA
O governo federal oficializou no dia 6 de fevereiro o Programa Nacional de Redução das Filas de Cirurgias Eletivas, Exames Complementares e Consultas Especializadas. Para diminuir o tempo de espera e atender a demanda das unidades públicas – estaduais e municipais –, estão previstos para este ano repasses de R$ 600 milhões. Em todo o País, o Ministério da Saúde estima que sejam contemplados pela nova política entre 461 mil e 922 mil procedimentos represados.

O Estado de São Paulo deve receber R$ 131,2 milhões para executar ações que reduzam a fila, seguindo plano de trabalho que será estabelecido entre os governos estadual e federal. “Esta iniciativa veio em bom momento. Com a pandemia, houve represamento. Muitas pessoas tinham medo de se expor, hospitais estavam se dedicando mais a pacientes com Covid-19. E o atendimento ambulatorial aconteceu, mas fazendo a indicação de cirurgias para hospitais que não conseguiam dar vazão aos procedimentos”, explicou Vânia Barbosa do Nascimento, professora de Saúde Coletiva na FMABC (Faculdade de Medicina do ABC),

A especialista vê no novo programa federal a oportunidade para Estado e municípios reorganizarem a demanda, necessária para dar fôlego ao SUS. “A primeira coisa a ser feita pelos municípios é mobilizar a população (na fila) para triagem e pré-avaliação. Muitas pessoas resolveram seus casos de outras formas. Algumas melhoraram, outras vieram a óbito. Então será fundamental a participação dos governos estaduais e municipais, e isso inclui também as universidades para a realização de mutirões”, observou.

De acordo com o Ministério da Saúde, o investimento destinado por meio do programa representará um acréscimo entre 20% e 40% no total já realizado na rede pública. “Inicialmente, serão repassados R$ 200 milhões para apoio aos planos estaduais para redução das filas de cirurgias e, posteriormente, R$ 400 milhões serão investidos no atendimento especializado”.

Além do recurso, Vânia avalia a necessidade de organização regional, com a repactuação de serviços de referência em saúde. “Defendo uma central de regulação no Grande ABC. Temos vários equipamentos públicos, ambulatórios especializados e hospitais. Aqui caberia organizar melhor o fluxo, dando a chance para municípios menores que não conseguem atender problemas mais complexos”, pontuou.




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