Há 35 dias no cargo, a presidente peruana, Dina Boluarte, enfrenta uma crise política, embates com o Congresso e assiste a manifestações diárias que pedem novas eleições. Até agora, 47 pessoas morreram, centenas ficaram feridas e o rápido aumento de violência pressiona a líder do Executivo a renunciar.
A única saída para a crise neste momento, segundo analistas, é a renúncia. Desde a deposição de Pedro Castillo, que tentou dar um golpe e acabou destituído e preso, os protestos no Peru não pararam. O Ministério Público abriu uma investigação por genocídio em razão do alto número de mortos nos protestos e as tentativas no Congresso de antecipar as eleições fracassaram.
"Mesmo tendo verbalizado que seu governo será de transição, a presidente parece não ter consciência disso e age como um governo regular, de cinco anos. O voto de confiança do Congresso é um exemplo disso. Ela parece não entender a sensibilidade para dimensionar o que está realmente acontecendo no país", explica o analista político peruano José Carlos Requena.
No mesmo dia em que as manchetes dos jornais peruanos estampavam 17 mortos na região de Puno, no sul do país, em razão dos confrontos entre manifestantes pró-Castillo e policiais, o MP abria a investigação contra Boluarte e alguns ministros e seu governo pedia um voto de confiança ao Congresso para ter legitimidade.
"O voto de confiança foi aprovado", disse o presidente do Parlamento, José Williams, após a votação, que rendeu 73 votos a favor, 43 contra e 6 abstenções. Mas a crise não diminuiu.
Instabilidade
A região sul continua vivendo bloqueios de estradas, paralisações, manifestações e confrontos. Mas Boluarte segue sem falar em renúncia. "Não acho que ela vá mudar de posição e isso a condena a uma instabilidade muito difícil de lidar", afirma Requena.
Em Puno, atual epicentro dos protestos, as demandas vão da renúncia de Boluarte à volta de Castillo. Na segunda-feira, os confrontos com a polícia começaram após um grupo tentar tomar o aeroporto na cidade de Juliaca. Pelo menos 18 pessoas morreram, a maioria vítima de disparos, e o governo decretou toque de recolher na região de Puno.
A preocupação agora é com o aumento das regiões que aderiram aos protestos. As autoridades peruanas registraram manifestações ou paralisações em 31 das 195 províncias do país.
"Tivemos um pico de violência, mas vemos que os protestos estão aumentando em termos geográficos. É preciso acompanhar as reações do governo. Se houver uma repressão que resulte em mais perdas de vidas, a situação pode piorar muito", diz Requena.
Os EUA pediram ontem a redução "ao mínimo" do uso da força contra as manifestações e apoiaram a abertura da investigação sobre a repressão.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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