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Sr. e Sra. Sertão no teatro
Natane Tamasauskas
Do Diário do Grande ABC
15/06/2008 | 07:00
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Num sertão sofrido, não só pela seca, mas pela interminável batalha entre bandos rivais, um lendário casal encontrava tempo para o amor. Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e Maria de Déa, a Maria Bonita, ganham seus últimos momentos revividos por Adriana Esteves e Marcos Palmeira no espetáculo Virgolino e Maria - Auto de Angicos. Santo André recebe a montagem nos próximos dias 20, 21 e 22, sexta-feira, sábado e domingo, no palco do Teatro Municipal. Os ingressos, mais baratos para compra antecipada, já estão à venda na bilheteria do local.

Sob direção de Amir Haddad, a produção recria os exatos 80 últimos minutos de vida dos dois personagens, encontrados mortos na Grota de Angicos, em Sergipe, na manhã do dia 28 de julho de 1938.

O que pode ser visto lá, no entanto, não é a face corajosa e guerreira da dupla, mas momentos íntimos de um casal como outro qualquer. "Qualquer casal poderia ter vivido aquela história", explica Marcos Palmeira, em entrevista ao Diário. Durante o registro, eles traduzem as emoções típicas de duas pessoas que se amam. Os diálogos vão de assuntos pequenos e rotineiros a dilemas e decisões diante do perigo iminente.

Opção do diretor, não há estereótipos exagerados. Indicada ao prêmio Shell de melhor atriz, Adriana Esteves faz uma Maria quase sem sotaque. "A peça universaliza esses personagens. Eles são pretexto para fazer uma reflexão do mundo, do que foi a figura real de Lampião e Maria Bonita", define a atriz.

"Não existiu a composição do personagem. A figura já existia", conta Marcos. "Mas, conforme repetimos o texto, entendemos mais o que eles sentiam. Ficamos mais parecidos com o que eles eram".

Na história, não há qualquer registro oficial da manhã em que o casal foi executado. Informações espaçadas, poucas provas, permitiram que Marcos Barbosa criasse um texto fictício, apoiado na intimidade de um homem e uma mulher que foram símbolo da subversão de um modelo político que funcionou por décadas no Nordeste brasileiro.

ESTRUTURA - "Foi uma experiência muito rica. É um tipo de teatro que nenhum de nós tinha feito antes", relembra Adriana. Liderados por Haddad, os dois artistas passaram três meses apenas entendendo o texto.

Nas cenas não há qualquer marcação: um não tem certeza de onde o outro estará no segundo seguinte. É aí que surgem deliciosas improvisações, feitas com a propriedade de quem tem muitos anos de coxia. "É um espetáculo com espírito vivo. A gente tá conseguindo ver a evolução dele com o tempo", afirma Marcos.

A aura intimista é reforçada pelo cenário, concebido por Nello Marreze. Uma única pilastra, fixada ao centro do tablado, sustenta o que seria o interior da caverna em que Lampião e Maria Bonita dormiram a última noite. Ao final dos 80 minutos, dois assistentes de palco recolhem aquele universo. O gesto delicado comunica que tudo o que se passou ali deve ser preservado para sempre.

Auto de Angicos estreou em setembro do ano passado, no Rio. De lá, fez temporada na Capital e chega agora ao Municipal. Santo André é a única da região que receberá a montagem.

Virgolino e Maria - Auto de Angicos - Teatro. Sexta-feira e sábado (20 e 21 de junho), às 21h30; domingo, (22 de junho), às 18h. No Teatro Municipal de Santo André - pça. IV Centenário, s/nº. Tel.: 4433-0789. Ingr.: R$ 30 (meia-entrada), R$ 50 (antecipado) e R$ 60 (6ª e dom.); R$ 35 (meia-entrada), R$ 60 (antecipado) e R$ 70 (sáb.).




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