Desse mal Massenzi, aos 83 anos, parece livre. segunda-feira à noite, em sessão restrita, será exibido um documentário na Universidade Metodista, em São Bernardo, sobre sua vida e obra e realizado por um grupo de alunos da instituição.
Outra medida anti-ocaso é o livro de Vera Hamburger. Mulher do cineasta Cao Hamburger (diretor de O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias e Castelo Rá-Tim-Bum), ela também é cenógrafa e diretora de arte. Coincidentemente, são de sua lavra as cenografias do Carandiru e do Kenoma que levaram tomatadas críticas de Massenzi.
Sem crise. Massenzi permanece como personagem do livro de Vera, que pretende biografar quatro cenógrafos de ponta do cinema nacional. A quarta parte que cabe a Pierino está praticamente concluída, sujeita apenas a revisões e retoques finais. O livro em si aguarda a liberação de verba da editora para ir ao prelo.
Boa parte do volume está voltada à era Vera Cruz e à carreira do cenógrafo. São 47 os filmes que estampam seu nome nos créditos. E 26 os prêmios que amealhou. Fez os cenários de Ângela (1951), sua primeira experiência como arquiteto de interiores e exteriores cinematográficos. Gostou. Prosseguiu. Faria filmes com Mazzaropi, Sai da Frente (1951) e Casinha Pequenina (1963) entre eles. Faria Tico-Tico no Fubá (1951) com Tônia Carreiro – “uma mulher muito convencida”, julga o homem de língua mais indomável que leão faminto. E faria O Cangaceiro (1952), de Lima Barreto, maior êxito comercial da Vera Cruz. Um filme que, ambientado no sertão, obrigou Massenzi a reconstruir “cacto por cacto, pedaço por pedaço” o cenário nordestino em Vargem Grande do Sul, interior paulista. Nesse set de filmagens, o cenógrafo quase chegou aos extremos de seu gênio forte.
Certo dia, trabalhavam ele e outros técnicos escalados para O Cangaceiro em Vargem Grande até “7h da tarde”. Prontos a largar o expediente, descobriram que a produção não havia reservado-lhes refeição, transporte ou estadia. Organizou uma versão reduzida da coluna de Prestes e liderou os funcionários até o acampamento onde estavam acomodados o restante da equipe e o elenco. “Chegamos lá e flagramos todo mundo comendo pato assado, se esbaldando de comida”. Num rompante, passou as mãos em uma metralhadora que seria usada no filme. Detalhe: a arma não era cenográfica nem estava carregada de festim. Não fosse a intervenção de um policial que assessorava a produção, e que lhe agarrou a tempo de desviar a mira, Massenzi teria operado uma chacina.
“No dia seguinte, o Franco Zampari (fundador da Vera Cruz) me chamou à sala dele. ‘Pronto’, falei; ‘Agora eu vou demitido’. Eu entrei na sala e ele só me perguntou quantas dúzias de ovos o pessoal (d’O Cangaceiro) estava comendo. Pô...! Eu quase mato um monte de gente e o sujeito vem me perguntar de ovos?”
Foi a primeira, mas não a única vez, que Massenzi quase ganha uma ficha corrida.
Trabalhou também de decorador. Certa vez aceitou a encomenda para elaborar os ambientes do apartamento de um dentista. Estava no meio do serviço quando recebeu a visita do pai do cliente, o real patrocinador da obra, que confundiu os nós característicos da peroba-do-campo, madeira que constituía um dos móveis, com parasitas. Arrancou-as com um canivete. Diante do esquartejamento da madeira, Massenzi agarrou o homem que, graças ao pronto socorro dos assistentes de seu agressor, não foi atirado do 12º andar do edifício.Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.