"Os indígenas foram os primeiros designers brasileiros", é o que acredita Tomas Alvim, curador, ao lado de Marisa Moreira Salles, da mostra Bancos Indígenas do Brasil, em cartaz no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba até 18 de dezembro. O acervo dos dois reúne mais de 200 peças criadas por indígenas de 40 etnias e territórios, como o Xingu, em Mato Grosso.
O Xingu é, aliás, o lugar mais bem representado. Dividida em duas partes, a arte do Xingu ocupa metade da mostra. A segunda parte reúne artefatos fabricados por povos de várias regiões da Amazônia, tribos do Acre, Pará, além de aldeias do Tocantins, Maranhão e de Roraima. Das peças, vindas majoritariamente do Centro-Oeste e Norte do País, há uma novidade recém-chegada ao acervo: o banco Xorkleng, feito por artesãos de uma tribo de Santa Catarina, único Estado do Sul do Brasil que marca presença na coleção.
"No momento em que o MON completa 20 anos, a mostra dos bancos vem para reforçar uma das propostas do museu, que é colecionar e expor com um olhar menos eurocêntrico", contou Juliana Vosnika, diretora do museu, ao Estadão.
Por meio da expansão do acervo, o museu, que é ligado a correntes modernistas da arquitetura de Niemeyer (1907-2012), reforça o olhar da importância da arte latino-americana e prioriza grupos historicamente colocados à margem em instituições, como os de arte africana, asiática e indígena.
Para Vosnika, a abertura da mostra coincide com a doação do acervo do artista Poty Lazzarotto (1924-1998) ao museu. Ela ressalta a época em que Lazzarotto morou no Xingu na década de 1960, tendo representado costumes locais, rituais e arquitetura das tribos por meio de desenhos. "Essa conversa entre o acervo permanente e as exposições itinerantes será um critério para as novas exposições", adianta a diretora.
ESTÉTICA E GRAFISMO
A coleção de bancos formada por Tomas e Marisa começou no início dos anos 2000, enquanto os dois organizaram um guia de viagem sobre o Brasil. Nessa época, orientada pelo artista Sérgio Fingermann, Marisa entrou em contato pela primeira vez com um banco produzido por indígenas. "Vimos que vários artistas tinham esses bancos, fiquei deslumbrada com a estética da forma, os grafismos, texturas", conta a curadora que, a partir daí, começou a formar uma coleção ao lado de Tomas. Os primeiros bancos vieram do Xingu, que marca forte presença no acervo pela diversidade formal.
Um banco indígena é feito de forma sustentável. Para os indígenas, coletar a madeira usada nesse trabalho fino de carpintaria é colocar a floresta em evidência.
ANIMAIS E ÁRVORES
Com elementos zoomórficos e geométricos, esses bancos representam animais e nascem de troncos de árvores típicas das regiões. No caso do Xingu, são espécies como jatobá, amoreira, piranheira e sucupira. No processo, símbolos da pintura corporal são incorporados aos bancos. As tintas são produzidas com pigmentos naturais: ingá e carvão, para o preto, e a finalização com óleo de pequi. "Os artesãos de cada tribo têm um trabalho minucioso no trato da madeira, pois cada árvore tem um significado", completa o cacique Akauã Kamayurá, que foi a Curitiba para a abertura do evento. Ele se junta a outras duas lideranças indígenas para falar da cultura dos povos e a relação com a floresta.
A mostra revela como os objetos, adquiridos pelos curadores com artesãos nas próprias aldeias, retratam essa conversa da cultura e identidade dos povos indígenas com a ancestralidade do País. A exposição vai ao encontro da ideologia do museu para reconhecer a arte fundadora do Brasil. "Eles sabem usar essa arte a favor da preservação das florestas", diz Marisa, que concorda com Tomas, quando ele observa que a arte ancestral tem uma ligação estreita com a contemporânea.
Curioso, principalmente porque os móveis não seguem uma estética regular: eles são modernos, sinuosos e curvilíneos. A geometria obedece à cultura regionalista, por vezes considerada rudimentar, mas vigorosa por expor elementos naturais.
Para além do aspecto utilitário, as figuras de animais, como onças, arraias, tatus, são espécies observadas nas reservas, uma forma de preservar uma relação reverente com a natureza.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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