A comissão do Sistema Municipal de Auditoria da Prefeitura de São Caetano, que está investigando a denúncia publicada com exclusividade sexta-feira pelo Diário, de que o Executivo teria custeado, supostamente com recursos do Fumusa (Fundo Municipal de Saúde), cerca de 20 cirurgias de caráter estético, é formada por funcionários da própria Secretaria de Saúde. Dos sete integrantes, seis são médicos e um é advogada. Quem admite a ‘solução caseira’ é o presidente da auditoria, o médico Reinaldo Salmazo, que também integra o Conselho Municipal de Saúde. “São todos funcionários da Prefeitura. É uma comissão da administração.” O grupo também conta com três vereadores da base de sustentação do governo – Paulo Pinheiro (PTB), Ângelo Pavin (PPS) e Moacyr Rodrigues (PMDB) –, convidados a participarem da investigação após a Câmara ‘abortar’ o pedido de instalação da CPI do ‘Pacote Estético’.

Embora os vereadores só tenham integrado a equipe na segunda-feira, desde sexta-feira passada a comissão está trabalhando, ouvindo as mulheres que teriam sido benefeciadas pelo esquema. Nos procedimentos cirúrgicos que o Diário teve acesso, a autorização era para ‘reconstrução mamária’, apesar de algumas delas terem revelado à reportagem que se submeteram a operações estéticas. Parte das guias tem a assinatura carimbada do prefeito José Auricchio Júnior (PTB) e a assinatura da secretária de Saúde, Regina Maura Zetone Grespan.

Salmazo revelou que quatro pacientes já foram ouvidas. A expectativa dele é conversar com todas as mulheres até esta sexta-feira. Quarta-feira à tarde, ele, acompanhado da médica Adriana Stephan, assistente da secretária de Saúde, esteve na residência de uma delas, no bairro Santa Maria.

O presidente da comissão de auditoria disse que não vê problemas no fato de o cirurgião plástico Márcio Vianna e do anestesista Marcelo de Laura (leia entrevista abaixo) terem confirmado ao Diário que a maioria das cirurgias realizadas em 2001, 2003 e 2004 no Hospital Central foi para fins estéticos, e, em alguns casos, com colocação de prótese de silicone. “Isso aí não tem problema. O SUS (Sistema Único de Saúde) remunera cirurgias plásticas estéticas em seus próprios hospitais. Reparadoras, com certeza, e estética, por meio de liminar”, afirmou Salmazo, sem entrar em detalhes se isso teria ocorrido em São Caetano.

O vereador Paulo Pinheiro (PTB) admite que as cirurgias tiveram caráter estético e, segundo ele, esse tipo de benefício deveria ser estendido à toda população. “As mulheres já disseram que gostaram do que a Prefeitura proporcionou a elas. Toda cirurgia plástica é estética, porque a paciente pode viver sem isso”, opinou.

Laudo – O prefeito José Auricchio deverá receber nesta quinta-feira o laudo do perito criminal Valdir Santoro, contratado pelo Executivo para analisar xerox de parte da documentação fornecida pelo Diário à secretária de Saúde, que admitiu ser a sua assinatura  em apenas um dos documentos. Mas, o 3º Cartório de Notas reconheceu por semelhança os traços grafotécnicos de Regina Maura em duas guias de autorização cirúrgica.

O coordenador do setor de crimes de prefeitos do MP (Ministério Público), Luiz Roque Lombardo Barbosa, enviou quarta-feira ofício ao prefeito de São Caetano requisitando, em prazo de 15 dias, todos os documentos em poder do Executivo referentes ao ‘pacote estético’. Após esse período, o promotor pretende visitar as unidades hospitalares do município. “Com os documentos em mãos, faremos as diligências para apurar os fatos”, explica Lombardo.