Cidades fazem busca ativa para localizar moradores que precisam completar os estudos
No salão da Igreja Batista Nacional de Diadema, no Jardim Santa Rita, a troca do conhecimento e o aprendizado acontecem sem limites de idade. De segunda a sexta-feira, o espaço recebe 20 estudantes com mais de 60 anos matriculados na EJA (Educação de Jovens e Adultos).
Na região, 1.116 idosos frequentam os cursos popularmente conhecidos como supletivo, voltado a pessoas que não concluíram o ensino fundamental em dois ciclos, de 1º ao 5º ano (anos iniciais) e do 6º ao 9º ano (anos finais). O número representa 20,7% do total de 5.374 alunos acima de 15 anos que retomaram os estudos por meio da EJA. Os dados não incluem São Bernardo, que não informou quantidade de matriculados, e Ribeirão Pires, que não tem turmas do programa.
Mesmo com o frio, estudantes do Núcleo de Convivência para Idosos, anexo à Igreja Batista Nacional, marcaram presença na aula de português sobre antônimos. Aprenderam o uso formal do recurso linguístico que, na vida, conhecem há muitos anos.
Maria Helena dos Santos, 67 anos, se matriculou na EJA em 2019, poucos meses antes do início da pandemia. Depois de décadas em que trabalho e estudo estiveram em lados opostos, a moradora do bairro Campanário decidiu que era hora de transformar em sinônimo educação e qualidade de vida.
Percorrendo o mesmo caminho de mais de 1,7 milhão de crianças e adolescentes com idade entre 5 e 17 anos (de acordo com a Pnad Contínua – IBGE, de 2019), Maria Helena precisou trabalhar a partir dos 8 anos. Conseguiu completar a 7ª série do ensino fundamental. “Tinha vontade de estudar, toda a vida eu tive. Eu não tinha dinheiro. Ia comprar uma coisa e não dava”, disse Maria Helena, mais conhecida como Paty.
A chegada da pandemia no início de 2020 e a suspensão das atividades presenciais – seguindo protocolos de segurança contra o coronavírus – não desmotivaram a aluna, que seguiu empenhada nos estudos utilizando o aplicativo de mensagens WhatsApp. “Passei dois anos sem caminhar, sem conversar. Mas fazia todas as tarefas. Pode perguntar para o professor”, garantiu.
Em 2021, as aulas presenciais foram retomadas. “Às vezes vinham só quatro ou cinco alunas. Eu não perco uma aula, só quando tenho médico. É muito significativo para mim. Eu amo matemática e ciências. Não erro uma conta”, disse Paty, orgulhosa.
“Esses alunos são 100% empenhados. Não existe indisciplina aqui. Muitos deles também vêm pela parte social. Um traço marcante dessa turma é isso, a vontade de querer aprender”, avaliou o professor Álvaro Antunes Sperduto.
INCENTIVO AOS ESTUDOS
As prefeituras da região disponibilizam vagas da EJA para moradores com idade a partir dos 15 anos, exceto Ribeirão Pires, que trabalha na reativação do programa. Em Diadema, a Secretaria de Educação Municipal lançou no início do mês a campanha Lugar do Idoso é na Escola. Buscas ativas em comunidades, associações de bairro e entidades religiosas serão realizadas como forma de identificar os moradores com perfil para a formação e incentivar a retomada dos estudos. Há 20 diferentes pontos para o atendimento das turmas da EJA na cidade.
“Dentro da perspectiva de que parcela da população acima de 60 anos não concluiu os estudos, lançamos a campanha que pretende elevar o índice de escolarização desses moradores. A educação significa convivência, melhoria da qualidade de vida, especialmente no contexto da informatização. Mesmo na terceira idade, muitas pessoas têm o sonho de estudar, o que não foi possível porque precisaram trabalhar. Esse é sempre um recomeço”, explicou o coordenador da EJA de Diadema, Absolon de Oliveira.
Em Mauá, a Prefeitura também realiza a busca ativa de moradores com idade a partir de 15 anos para estimular a retomada dos estudos. A ação acontece por meio de reuniões com a população e uso de meios de comunicação.
São Caetano prevê para a próxima semana a publicação de edital de chamamento dos moradores interessados em se matricular para as turmas da EJA no segundo semestre. A Prefeitura oferece aulas referentes aos anos iniciais do ensino fundamental.
Santo André disponibiliza turmas para os anos iniciais e anos do ensino fundamental em 12 salas de alfabetização. A Prefeitura de Rio Grande da Serra conta com o núcleo EJA Paulo Freire – Tempo de Aprender, para o atendimento de moradores nas séries iniciais do fundamental. São Bernardo informou que oferece aulas da EJA referentes ao ensino fundamental.
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