No início dos anos 2000, a publicação de um livro causou imenso impacto na opinião pública brasileira sobre assunto até então tratado apenas em fóruns específicos frequentados por ambientalistas. Os Bilhões Perdidos no Lixo, escrito por Sabetai Calderoni, doutor em ciências pela USP (Universidade de São Paulo) e urbanista formado pela universidade de Edimburgo, na Escócia, despertou a consciência do cidadão comum para o absurdo de se destinar aos aterros sanitários material que poderia ser reutilizado pela indústria. Sim, o Brasil era campeão em tratar como lixo itens recicláveis que em outros países movimentavam boa parte da economia.
Com os dados mais recentes até então disponíveis, Calderoni procurou demonstrar a viabilidade econômica – e também a social – dos processos de reciclagem de materiais descartados e reutilizáveis. Com cálculos claros, comprovou que seria possível, a uma cidade como São Paulo, a maior do País, gerar ganhos superiores a R$ 1,1 bilhão anuais com o programa. No Brasil todo, se o modelo fosse replicado em 100% dos municípios, o valor superaria os R$ 5,8 bilhões a cada 12 meses. Como permanecer inerte diante de números tão impressionantes?
Desde então, tornou-se praticamente impossível discutir qualquer projeto no Brasil ignorando a ótica da sustentabilidade. Houve avanços, evidentemente, mas ainda há muito a se fazer.
Embora bastante coisa tenha mudado nas duas primeiras décadas após a publicação do livro do professor Calderoni, como comprova a iniciativa andreense que já evitou que quase 202 mil toneladas de material reutilizável fossem enterradas nos últimos 25 anos, muito dinheiro ainda segue sendo encaminhado para os aterros. Sinal de que a consciência socioambiental do brasileiro ainda não atingiu os níveis exigidos para tornar o planeta sustentável. É preciso insistir. As futuras gerações certamente agradecerão o esforço de todos para impedir que bilhões e bilhões de reais desapareçam em valas comuns nos depósitos de lixo do País – e também nos das sete cidades do Grande ABC.
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