Sob o argumento de que os estoques globais de óleo diesel estão em baixa, cenário que pressiona os custos, a Petrobras anunciou ontem reajuste de quase 9% no valor do litro do produto nas refinarias. A diferença de R$ 0,40 vai ser repassada ao consumidor, apressou-se a dizer o Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Grande ABC). E, não é difícil antever, empresas que operam frotas de caminhões e ônibus devem, por sua vez, empurrar a diferença para o cidadão comum – que, lá na ponta da corrente, não terá alternativa além da de arcar com o aumento.
O anúncio do reajuste do óleo diesel foi feito um dia depois que os jornais divulgaram que a Petrobras foi a petroleira que registrou, em dólares, o maior lucro líquido no primeiro trimestre no mundo. Segundo levantamento feito pela Economática, empresa de informações financeiras, o ganho da companhia brasileira, de US$ 9,4 bilhões, foi quase o dobro dos US$ 5,48 bilhões registrados pela norte-americana ExxonMobil, a líder global em valor de mercado.
Reportagem publicada na edição de sábado do jornal O Estado de S. Paulo revelou que a Petrobras rendeu ao governo brasileiro, desde janeiro de 2019, início da presidência de Jair Bolsonaro (PL), R$ 447 bilhões – valor que equivale às transferências da estatal a título de dividendos, impostos e royalties. É evidente que a exposição destes dados não é aval a nenhuma política de controle de preços pelo governo federal – medida desastrosa tomada na administração Dilma Rousseff (PT) que quase quebrou a petroleira.
Mas é evidente que o Brasil precisa encontrar um jeito de evitar que cada um dos reajustes seja transferido integralmente aos cidadãos. Alternativas existem. Como a criação de um fundo que possa servir de colchão à variação internacional de preços do petróleo, amaciando os solavancos do mercado. O Congresso, aliás, estava discutindo o assunto, mas, infelizmente, sabe-se lá por quais razões, pôs a pauta em banho-maria. Enquanto isso, sem ter a quem apelar, o consumidor mais uma vez será obrigado a pagar a conta.
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