Como a reintegração pode acontecer a qualquer momento, o clima na terça-feira no acampamento Santo Dias era tenso. "Não recebemos o acórdão (decisão), tampouco fomos notificados, então não podemos fazer nada neste momento. Estamos apostando no bom senso, que nenhuma medida drástica seja tomada até que possamos nos defender", disse a advogada Eliana Lúcia Ferreira. O juiz relator do 1º TAC, Roque Antonio Mesquita de Oliveira, tem até quinze dias para redigir a decisão, que será publicada no Diário Oficial.
A coordenação do MTST adotou um discurso pacífico sobre o cumprimento da reintegração de posse pela Polícia Militar. "Não haverá violência da parte do movimento, achamos que problemas sociais não se resolvem com polícia e, sim, com resolução política. Vamos permanecer aqui, esperando posições do governo federal, estadual e municipal", disse um dos coordenadores, João Batista Costa, o Jota. Mas nem ele nem os demais coordenadores do acampamento responderam claramente se haveria confronto com a polícia. "Vamos resistir com consciência, esperamos que o comando da polícia venha negociar."
Acampados ouvidos na terça-feira pelo Diário disseram que não vão resistir à polícia. "Junto minhas coisas e vou embora, estou aqui em busca de terreno, não para brigar", disse a dona de casa Maria do Socorro Costa, 45 anos.
Na tarde de terça-feira, os acampados abriram valetas de meio metro de largura e dois palmos de profundidade na área onde começam as barracas. Segundo uma das coordenadoras do MTST, Camila Alves, a vala é para a rede de água, ligada à caixa d'água de 10 mil litros que o movimento ganhou dos alunos da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo).
Propriedade – Na terça-feira, o MTST apresentou no acampamento três herdeiras da família Galvão Bueno que reivindicam a propriedade do terreno que, segunda elas, nunca teria sido vendido para qualquer empresa. Segundo documentos apresentados, incluindo escrituras, a área do Km 20 ao 30 da rodovia Anchieta foi adquirida em 1852 por Maria Eufrosina da Cruz Almada, casada com o capitão Francisco Mariano Galvão Bueno. Hoje, a área seria propriedade de cerca de 500 herdeiros, e parte da família briga na Justiça pela posse. "Queremos provar que a Volks não é proprietária, a área foi invadida. Estamos dispostos a negociar com o governo e o MTST", disse uma das herdeiras, Rosana Aparecida de Souza.
Para o MTST, se houver tempo hábil, a novidade poderia retardar qualquer decisão judicial. "Os sem-teto ocuparam a área ou as empresas invadiram primeiro? Não temos mais certeza que o terreno é da Volks, não dá para negociar, vamos permanecer", disse Jota.
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