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Procura por blindados registra alta com o avanço da violência

Associação do setor aponta acréscimo de 45% na produção nacional entre 2020 e 2021

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
18/04/2022 | 06:23
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André Henriques/DGABC


A procura por blindagem de veículos disparou no Grande ABC ao mesmo tempo em que os indicadores de roubos de veículos também apresentaram significativa alta neste início de ano. O Diário mostrou, em 29 de março, que dados da SSP (Secretaria da Segurança Pública) registraram alta de 56,9% no roubo de veículos na comparação de fevereiro deste ano com o mesmo mês do ano passado. Uma das empresas que atua na região, a Excellence Blindagens, de Santo André, foi aberta no ano passado, em plena pandemia, e registrou média de sete blindagens entre março e dezembro. Em 2022, de janeiro a março, já foram 72 clientes atendidos, ou seja, média de 24 por mês, alta de 242%.

Dados da Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem) mostram que, de 2020 para 2021, o Brasil computou alta de 45% na produção de veículos blindados, passando de 13.817 unidades para 20.024 – o Estado de São Paulo representa cerca de 70% do mercado nacional.
Proprietário da Excellence, Leandro Theodoro atuava há 15 anos no ramo como consultor quando resolveu abrir o próprio negócio, em plena pandemia, ao perceber que o mercado estava aquecido. Ele afirmou que a maior procura é de donos de SUVs. “A tecnologia avançou muito e hoje a blindagem não acrescenta mais do que 100 quilos ao carro. Com a segurança de proteção de alto nível”, destacou. Toda blindagem é autorizada pelo Exército, e o padrão III-A é considerado o melhor e protege contra todos os calibres das chamadas armas de mão (revólveres).

MAIS SEGURO

Um dos clientes da Excellence, o empresário Jairo de Oliveira, 60 anos, morador de Santo André, decidiu adquirir seu primeiro veículo blindado há cerca de 10 anos, após tentativa de assalto pela qual passou um familiar. Na ocasião, o carro foi alvejado e ninguém se feriu. “Nunca passamos por nenhuma situação de perigo, mas me sinto mais confortável e seguro”, afirmou. O aposentado Robson Alves, 55, de São Caetano, também opta por veículos blindados desde 2019, também por já ter presenciado cenas de violência e de já ter se visto em uma delas: em 2010, foi assaltado no carro, junto com a mulher.

Outras empresas do setor que atuam na região também relataram aumento. De Santo André, a MK Blindados está com prazo de 35 dias para entregar o serviço, dez a mais do que no ano passado. Já a empresa Inbra, de Mauá, uma das maiores do seguimento, observou alta de 35,6% na demanda quando comparado o primeiro bimestre deste ano com o anterior. Foram 101 negócios no ano passado, contra 137 neste ano.

Proprietário de loja que vende carros blindados novos e usados em São Caetano, o empresário Leandro Tedros avalia que a busca por esse tipo de veículo se mantém em patamares estáveis há três anos. “Houve um aumento na venda de seminovos, mas isso também está relacionado com a dificuldade das montadoras em entregar carros zero-quilômetro”, ponderou.

De acordo com os especialistas, o serviço de blindar o veículo custa a partir de R$ 48 mil e varia de acordo com o tamanho e modelo do automóvel. Normalmente, a garantia de uma blindagem é de cinco a dez anos, mas os empresários do setor afirmam que com a manutenção preventiva e periódica o tempo de vida útil da proteção é bastante superior a uma década.

Público interessado mudou em 30 anos

Se há 30 anos ter um carro blindado era acessível apenas para pessoas de alto poder aquisitivo, a realidade hoje é bem diferente. O avanço da tecnologia e a entrada de outras empresas no mercado fizeram com que os preços baixassem. “Hoje em dia a pessoa pode comprar um seminovo blindado por R$ 50 mil, R$ 60 mil. Ficou muito mais acessível”, afirmou o empresário Adão de Moraes, dono da MK Blindados, de Santo André. 

 O perfil de quem procura por veículo blindado também mudou. Na Excellence Blindagens, de Santo André, os clientes têm, em sua maioria, entre 35 e 55 anos, divididos quase que igualmente entre homens e mulheres. “São pessoas de todas as classes sociais, que por medo da violência, buscam essa segurança”, afirmou o proprietário Leandro Theodoro.

 A percepção dos empresários é comprovada pelos dados da Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem). Segundo levantamento da entidade, em 2020, 54% dos clientes eram homens e 46%, mulheres. Em relação à faixa detária, 78% tinham entre 30 e 59 anos.

 Para o presidente da Abrablin, Marcelo Silva, a escolha por veículo blindado tem a ver menos com poder aquisitivo e status social e mais com definições de prioridades. “Há 30 anos, pessoas das classes mais ricas tinham muito medo de sequestro e, por isso, optavam por carros blindados. Com o passar dos anos, a violência foi se espalhando e estar parado no trânsito é uma das formas de se ficar mais vulnerável a assaltos”, relatou.

 Silva pontua que a pessoa que vive experiência de violência, ou às vezes apenas presencia, redefine suas prioridades. “Em casa, no trabalho, a gente se sente seguro. Mas também queremos essa segurança no trajeto, e é aí que priorizam a segurança e optam por um veículo blindado”, avaliou.

Mercado deve seguir aquecido, mas a guerra traz incertezas

 Para o presidente da Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem), Marcelo Silva, o aquecimento do mercado se deve ao aumento da violência e às facilidades em se adquirir um veículo com essa proteção. Ele acredita que a procura deve continuar alta, mas teme que a guerra entre Rússia e Ucrânia possa gerar escassez de matéria-prima. 

 “Difícil falar em projeções este ano porque dependemos de muitos insumos que são importados, e com uma guerra em curso o cenário está bastante incerto. O que é possível falar é que com a dificuldade das montadoras em entregar carros zero-quilômetro, aumenta a procura por seminovos. Quem tem um carro usado, sabe que é um bom momento para vender e antecipa a troca. Tudo isso mantém o mercado aquecido”, afirmou.

 O dirigente da entidade destacou que o setor gera muitos empregos, com mão de obra bastante qualificada, e tem grande importância na economia. “No Grande ABC aumentou muito o número de blindadoras. E, infelizmente, como cidadão, não vejo muito sucesso na atuação das forças de segurança, por mais que se esforcem, para reduzir os índices criminais. Isso faz com que a procura por blindados se mantenha aquecida”, concluiu. AM




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