Cultura & Lazer Titulo
Seriados perigosos
Mauro Trindade
Da TV Press
19/10/2008 | 07:06
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Já houve mais antipatia contra os seriados, numa época em que a televisão era chamada pelo escritor Sérgio Porto - sob o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta - de "máquina de fazer doidos" e os seriados de "enlatados". Hoje eles são mais variados, têm roteiros inteligentes e ótimos artistas, com um sucesso tão grande que podem ser encontrados até em locadoras de vídeo. Mas manter 24 seriados norte-americanos na programação, como faz o SBT, ultrapassa qualquer limite do respeito com a produção nacional.

Sozinha, a emissora de Silvio Santos tem mais seriados do que todas as outras somadas. A Record apresenta Monk, Dr. House, os dois C.S.I. - Miami e Las Vegas -, e Life. O CNT, enche lingüiça com as tramóias de espionagem de Largo Winch, às segundas, quartas e sextas. A Band e a Globo não veiculam nenhum, apesar da última transmitir esporadicamente Lost e 24 Horas e o desenho Os Simpsons.

O SBT tem mais do que o triplo disso, com nada menos que 24 títulos anunciados: A Paranormal; A Sete Palmos; Arquivo Morto; As Novas Aventuras de Christine; As Visões da Raven; Carnivale; Chuck; Desaparecidos; Divisão Criminal; Em Nome da Justiça; Estética; Eu, a Patroa e as Crianças; Família Soprano; Grey's Anatomy; Homens às Pencas; Invasão; O.C. Um Estranho no Paraíso; OZ; Smallville; Sobrenatural; Ugly Betty; O Vidente; Veronica Mars e West Wing.

A compra de um seriado é sempre a solução mais fácil e preguiçosa para ocupar a grade de programação. Custa apenas o preço do programa, sem preocupações com pagamento de equipes, de equipamentos e do desenvolvimento de idéias, entre outros tantos gastos.

A mesma solução de comprar a atração poderia ser utilizada com produções brasileiras. Há dezenas de produtoras no país com toda a sorte de programas.

Não há, porém, uma proteção legal à produção independente por aqui, como nos Estados Unidos e na maioria dos países europeus.

O resultado é que não se exibe quase nada que não seja comprado no exterior ou que não seja feito pelas próprias cabeças de rede.

O artigo 221 da Constituição, que fala em "estímulo à produção independente que objetive sua divulgação" jamais entrou em vigor, porque, 20 anos depois de criado, o Congresso não votou as leis para seu funcionamento. É muito dinheiro em jogo. O mercado mundial televisivo movimenta algo em torno de US$ 470 bilhões por ano.

Essa montanha de cédulas promete ficar ainda maior quando os telefones 3G - capazes de captar imagens de TV - entrarem realmente no jogo da audiência. São 127 milhões de linhas de celulares habilitadas no Brasil contra cerca de 65 milhões de aparelhos de TV. Sem algum escudo para a produção nacional, vai ser briga de cachorro grande. Infelizmente, só para eles.




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